Alice in Deadland

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Alice deslizava de patins por entre os carros parados de forma desordenada por toda a avenida, a garota avançava em direção ao mercado, em suas costas uma mochila vazia que devia voltar com pelo menos uma dúzia de enlatados e remédios. Os mortos avançavam saindo de trás de das pilhas de entulho e dos restos de carros que se incendiaram nos primeiros dias de praga, com o arco em suas mãos, a menina acertava um morto atrás do outro, eles caiam sob o próprio peso desmoronando sob as pilhas de lixo que se acumulavam ao longo do meio fio.

Alice parou por um instante erguendo o punho, o relógio digital marcava 10:28 da manhã. Do outro lado da via, havia o mercado, suas vitrines estavam obstruídas por tábuas, no entanto a garota podia ver a silhueta dos mortos por entre as frestas das tábuas que cobriam a fachada do mercado.

- Que droga! - fala a menina retirando os patins e pendurando-os na calça, ela ergue o arco, a passos largos ela caminha para a porta do mercado, os vultos ficam em polvorosa, eles sentem o cheiro da menina.

Os mortos rosnam do outro lado, seus gemidos guturais já não a fazem tremer, lá dentro está escuro e praticamente entulhado, o que faria sua movimentação ser comprometida, o mais sensato a se fazer era trazê-los para fora, para o belíssimo sol de segunda. Alice olha em sua volta, nenhum morto à vista, apenas a imensidão desolada da Avenida Miguel Rosa.

Ela se aproximou um pouco mais da porta, a maçaneta enferrujada rangeu ao ser puxada. Os mortos se debruçavam sob a estrutura forçando as dobradiças, mentalmente a menina contou, "1...2...3" ela girou a maçaneta, os mortos saíram do interior da loja se espatifando na calçada. Usando a porta como escudo ela desviou a atenção enquanto cravava a primeira flecha na nuca do primeiro morto, o segundo se voltou contra ela cravando a sua mandíbula na caneleira que agora servia de bracelete, com calma ela cravou uma flecha no olho do morto e jogando o corpo sob o terceiro zumbi que caiu no meio da rua, Alice saltou com força aterrissando sob o crânio murcho do zumbi espalhando massa cinzenta sob o asfalto.

- Meus sapatos bons, seu filho da puta! Sua mãe não iria admitir esse palavreado, isso era um fato, pensou ela, voltando sua atenção para a porta aberta do mercado.

Ela saltou sob os corpos que se amontoavam na porta, segurando o arco firme ela mergulhou na escuridão, seus passos ecoavam nas sombras, pilhas de excrementos e alimentos se acumulavam pelo chão. Ela caminhou por entre as prateleiras, outros zumbis estavam abatidos ali dentro. Após serem mortos pela segunda vez, os corpos pareciam seguir seu ciclo natural de decomposição, alguns estavam praticamente apenas os esqueletos, com algumas tiras de carne penduradas entre os ossos.

Foram cinco minutos ali dentro que valeram por uma vida, o ar naquele lugar parecia ter impregnado em suas roupas, ela se voltou para o relógio, eram 10:56, as nuvens abriram por um instante e lá estava ele de novo, não o sol, não um helicóptero, mas um jato deixando seu rastro branco no céu, "de onde você vem amigo?"

Se ele estava voando, ele vinha de um lugar com combustível, energia elétrica e principalmente, sem mortos. Um dia ela tentaria procurar esse lugar, alguma base militar no estado vizinho, mas nesse momento Alice tinha que voltar para o apartamento, aproveitar aquele sol a deixava em vantagem contra os mortos, calçando os patins Alice mergulhou novamente para rua, sua casa ficava a dois quarteirões dali em um conjunto de apartamentos, ela avançou por um instante, achou ter visto alguém acenando para ela de dentro das estações do sistema Inthegra, a maioria já estava depredada antes mesmo dos mortos aparecerem no final de outubro. O vento balançou seus cabelos fazendo o elástico que prendia os fios castanhos em um rabo de cavalo quase se soltar, no meio da avenida havia a carcaça de um ônibus virado do outro lado uma serie de carros parados, alguns haviam sido incinerados. Ela lembra de ver na Tv os incêndios, os corpos que caminhavam do interior dos lugares com braços levantados e bocas mordedoras, desejando a carne dos vivos.

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⏰ Last updated: Jan 15, 2020 ⏰

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