SESSENTA

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Não sei ao certo quanto tempo fiquei chorando naquele chão frio.

Não sei ao certo quando parei de chorar para sentir um vazio juntamente com uma angústia.

Não sei ao certo quanto tempo fiquei encarando o corpo sem vida de Atlas.

Não sei ao certo quanto tempo fiquei acariciando seus pelos.

Não sei ao certo quantas vezes desejei que aquilo fosse apenas um pesadelo e que logo ouvira outro miado seu.

Não sei ao certo quantas vezes minha mãe me chamou.

Não sei ao certo quando foi que ela tirou ele de meus braços e eu voltei a chorar.

Não sei ao certo por quanto tempo fiquei vendo ele ser enterrado.

Não sei ao certo por quanto tempo fiquei sem falar.

Não sei....

Eu não sei mais...

Apenas não sei...

-Filho, precisa comer algo. -Ela diz acariciando meu rosto.

Parado, olhando para um canto qualquer em meu quarto, eu apenas absorvo suas palavras, ficando em total silêncio.

-Jimin... Por favor fala comigo. Eu não sei mais o que fazer.- Ela diz chorando, logo me abraçando e começando a soluçar.

Acho injusto isso, a odiei por tantos anos... E ela suportava tudo por mim, para que eu não sofresse.

Era melhor ela ficar triste e aguentar tudo calada, do que me ver naquele estado. E agora, eu estou exatamente do mesmo jeito que ela vem tentando evitar que eu fique por tantos anos.

Mas eu estou sozinho agora, meus amigos foram proibidos, meu namorado nem sequer lembra que existo. Meu irmão, tem seus próprios problemas, minha melhor companhia... Acabou de morrer...

O que me restaria além de um vazio? Todos já me esqueceram, eu não posso me esquecer também?

Talvez... partir desta... Para um lugar longe de todo o sofrimento...

Um lugar que terei paz, um lugar longe das maldades do mundo...

Porém, para chegar nele, terei que dar algo em troca... Algo caro...

Algo como...

Minha vida...

Minha mãe se afasta e respira fundo, beijando minha bochecha.

-Eu te amo, sempre te amei... Me perdoe, filho. -Ela diz e se retira do quarto.

Engulo em seco e sinto lágrimas solitárias escorrerem por meu rosto.

Logo, soluços começam a aparecer. Me jogo na cama e fico abraçado ao travesseiro, chorando mais uma vez.

Assim que me acalmo, vou ao banheiro e jogo uma água no rosto. Respiro fundo algumas vezes e desço.

Vou até a cozinha e vejo que não havia ninguém. Abro uma das gavetas, pegando uma das maiores facas que encontrei.

Posicionando a mesma em meu peito, respiro fundo, mordendo os lábios. Depois a coloco em meu pulso esquerdo.

Logo voltando a chorar, algo dentro de mim se manifesta. Uma voz, mas não tinha som.

Não falava... Mas estava ali... Estava presente.

Aguente... Aguente... Confie em nós...

É o que ela diz, solto a faca que faz um estalo ao atingir o chão. Chorando encaro minhas mãos.

Entre Dois MundosWhere stories live. Discover now