⊱.twenty five

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mídia: charge - lana del rey.

      Prometi dizer a verdade, somente a verdade, mas será se cheguei a relatar apenas a pura e crua... verdade? Há pessoas em toda sala, reações e mais reações. As pessoas julgam demais. Acharam bizarro eu só ter 18 anos e já ter feito tanta coisa. Como dizia Shakespeare, com o tempo você perceberá que o número de experiências vão além do número de aniversários que alguém já teve… ou algo assim.

      Meu aniversário passou tão rápido, assim como o ensino médio, assim como nossas viagens, as almas que tirei e enviei para um lugar pior ou melhor. Mas não acredito em lugares melhores, porque o único ambiente que me sinto bem é quando estou com ela. E, sim, ela veio no julgamento, não é surpreendente. Entretanto, em nenhum momento, eu ousei a olhar nos olhos. Não deveria ter a feito passar por todas as nossas lembranças, mesmo que boa. Não deveria ter a levado comigo, deveria ter a salvado e partido quando deu tempo. E, com certeza, ela não tinha a obrigação — ou qualquer coisa que deva pensar — de estar aqui, nessa droga de tribunal, nessa merda de julgamento, onde o juiz está narrando o que fiz, com detalhes, o que fiz com a porra do seu pai desgraçado e que faria novamente se pudesse, porque, para aquele imbecil, o inferno é um presente.

      Todos estamos sentados. Horas se passam. Longos minutos de tortura. Por que você não vai embora, Sad Girl? Por que ainda está aqui? Vai logo, porra! Ah, não, droga, não chore aqui, não chore quando não posso te consolar, por favor, amor… Inspiro com força, me mexendo na cadeira de maneira nervosa. Acharam peculiar o fato de eu não querer de maneira nenhuma um advogado. Por que isso não acaba logo? Meus pés inquietos de baixo da mesa de madeira, meus olhos encaram de relance seu rosto tristonho. Sim, ela me olha. Por favor, me deixe.

— Bill Skarsgard, você está sendo condenado há 12 anos de prisão pelos diversos crimes cometidos meses atrás! — O juíz exclama, olhando-me fixamente. Guardas vêm para me segurar, apesar de eu já está algemado.

12 anos? Que merda de justiça é essa?! — Grito, descontrolado, ignorando todos os olhares, principalmente o dela. Você não deveria tá aqui. — Eu matei um homem naquela noite! Cortei suas bolas, o torturei, queimei a casa e não me arrependo de nada, e a justiça simplesmente me pune com 12 anos?

— Acho melhor você ficar quieto... — Um dos guarda murmura, enquanto me puxam para longe de todos. Mas eu não me calo. Grito tudo que sempre quis dizer para aquelas hipócritas pessoas de merda.

      Os dias continuam surgindo. Talvez eu tenha sido punido por minhas palavras, talvez tenha ficado logo no primeiro dia na nova prisão preso na ala escura sem comida, talvez eu sinta a falta dela, talvez me arrependa de ter a conhecido, talvez queira morrer logo. Apenas talvez. Não penso em fugir, eu quis isso. Também não penso em vê-la, porque isso significaria ter que deixá-la em ruínas novamente e não quero que ela sofra mais. Meu anjo, você merece o paraíso e eu não posso te dar.

      Minha mente me tortura a cada segunda. Ela é pior do qualquer prisão ou regime de dor que poderiam me dá. Tenho sonhos de noite. Sonho com ela. Sonho com nossos dias bons. O último foi quando eu fui ao parque com ela. Dançamos, ela pediu para eu cantar algo de minha infância e eu simplesmente inventei algo. Fomos no carrossel e todas as crianças acharam estranho, mas estamos concentrados demais para perceber. E no final da noite, fumamos um cigarro, olhando as estrelas, enquanto ela me contava um sonho estranho e inexplicável que teve, e inventavamos teorias mais bizarras ainda.

 E no final da noite, fumamos um cigarro, olhando as estrelas, enquanto ela me contava um sonho estranho e inexplicável que teve, e inventavamos teorias mais bizarras ainda

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      Entretanto, apesar das belas lembranças, a cada dia que passava, eu tinha mais pesadelos. As alucinações pioravam. Agora todos me chamam de O Doido por onde ando na cadeia. Ótimo. É meio irônico, já todos somos insanos, todos temos um pouco de loucura.

       É hora de comer. Mas não estou me alimentando direito, porque estou tentando morrer de desnutrição, o que não é muito difícil, vendo o estado dessa comida. Só espero que elas estejam bem. Penso em quando ela se casar, penso em quando Eija arrumar um namorado, o que me deixa com mais ciúmes ainda. Sorrio, lembrando do dia que minha doce menininha, disse, “você precisa confiar em mim, Bill. Vou ficar bem, sou bem grandinha”, mas ela sempre vai ser a criança frágil que precisa de cuidados.

     Meu tempo se divide em escrever cartas, ter pesadelos, sonhos, alucinações, brigas com outros detentos para aumentar minha pena, noites escuras e solitárias, e pensamentos sobre ela. Escrevo cartas que nunca vou mandar para elas, mas gosto de dizer como me sinto como tudo. Queria poder me concentrar na ideia de que um dia entregarei, mas não quero a ver novamente, porque não quero mais corações partidos.

      “Querida, Sad Girl.

       Acho que você gosta de como a chamo, afinal nunca reclamou e eu gosto de a chamar. Mas não é por isso que estou escrevendo isso, não sei se você chamaria de carta, porque você tem um gosto refinado para livros antigos e eu sou apenas um mero garoto tentando escrever algo legal para ver seu sorriso.

      Guardo cada lembrança em minha mente insanamente louca que está ficando pior. Talvez não seja a verdade, mas eu te amo… mesmo que seja do meu jeito. Não sei se você poderia me entender, não precisa, só sorria, porque eu amo te ver sorrir, mesmo que seus olhos dizem ao contrário.

      Se você me esquecer algum dia, esquecer nossos dias juntos, se ocorrer, saiba que eu gostei de você desde o primeiro instante. Porém, pare de vim me visitar. Eu não aguento mais suportar isso. O guarda sempre diz que você está querendo me ver e eu sempre tenho que murmura com raiva o quanto não quero te ver, mesmo que lá fundo queira, mas não possa.

      Pare de insistir, pare de me amar, para de complicar a porra toda. Pare. Só pare de tentar. Eu não quero. Você compreende essas palavras? Você deveria me odiar, porra, eu não mereço outro sentimento além do puro rancor e ira de sua parte.

       Pare de foder com minhas tentativas de fazer você ser feliz sem mim.

       Atenciosamente, o cara que matou seu pai.”

detention ⊱ ᵇᶤˡˡ ˢᵏᵃʳˢᵍåʳᵈWhere stories live. Discover now