capítulo 49

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Miguel

Faz uma semana que não vejo a Dulce e o meu filho, da última vez que estive lá ela nem quis chegar perto de mim.

Estou com as mãos enfaixadas e doloridas por causa do que fiz no escritório do meu pai, perdi totalmente o controle. De tudo! agora preciso ir avisa la que vou embora e que vai ser definitivo. O Angél é tão sanguinário quanto eu mesmo, se ele chegar na Dulce, vai matá la sem nenhuma piedade, pelo simples fato dela ser minha mulher. Não posso deixar isso acontecer, ela já sofreu demais por minha causa.. tá na hora de pôr um ponto final nessa merda.

Tô deitado olhando o teto tem quase meia hora, minha mãe me dopou de calmantes ontem.. agora estou me sentindo cansado, meu corpo tá dolorido e pesado. Não posso ficar muito mais tempo aqui.. o prazo do Ángel encerra amanhã, temos que partir pra Tepalcatepec hoje à noite.. o Juan já arrumou uma casa para nós três lá.

Essa namorada do James só vai nos atrapalhar, mas mesmo assim ele insiste em levá-la. Ah foda-se! ele sabe bem o que faz.

Após tomar meu banho e lavar os cortes das minhas mãos, vou ao quarto da Guadalupe.. ela quem fez os curativos ontem. Bato na porta e ela grita que posso entrar. Seu quarto é espaçoso, cheio de flores e fotos dela.. há uma estante entupida de livros e revistas.

- me ajuda a enfaixar de novo - peço e ela levanta da cama, largando o notebook de lado e vem até mim.

- Foi um belo estrago!- ela reclama e toca com cuidado minhas mãos, faço uma careta de dor- vem, senta que vou pegar os curativos.

Sento em sua cama, ela entra no closet e volta pouco depois com uma maleta branca de primeiros socorros. Senta ao meu lado e começa a limpar e aplicar remédio, arde, mas não me concentro nisso.. meu pensamento agora é na volta pra onde nasci.

- o James disse pra mãe que arrumou uma casa pra morar com a brasileira dele em Guadalajara- olho minha irmã, ela me olha desconfiada.. eles não podem saber a verdade.

- e daí?- pergunto ríspido e ela aperta os olhos em minha direção.

- não acreditei nele e seu olhar tá me dizendo que tem mais coisa aí!- a Guadalupe sempre foi a mais esperta,  é difícil enganar ela.

- eu não sei de nada! termina logo isso que preciso ir em Puerto Marques. - ela continua enfaixando minhas mãos, está pensativa e quando termina me olha animada.

- Você tá indo ver o Alejandro?- agora entendi sua mudança de expressão, ela quer saber do meu filho, suspiro e confirmo com a cabeça- me leva com você por favor? quero ver meu sobrinho.

- não sei Guadalupe, a Dulce anda estranha comigo.. não sei se é uma boa ideia chegar lá acompanhado.

- ah Miguel... por favor? eu não vou me intrometer na conversa de vocês dois, só quero ver seu bebezinho!- ela pede manhosa e como não posso tá perdendo tempo acabo concordando.

Descemos as escadas e minha mãe nos chama para tomarmos café da manhã.. estão todos na mesa mas, estou com pressa.

- Nós comemos na rua mesmo! vamos logo Guadalupe- já estou saindo quando a Maria Fernanda debocha dizendo:

- vai ver a Dulce?- paro e a olho sério, ela não suporta minha mulher- aproveita e leva a grama que sobrou da limpeza do Jardim pra aquela vaca inútil!- fico cego de ódio e avanço em sua direção.. o James levanta rápido da cadeira ao lado da mulher e tenta me segurar.. meus pais pedem que eu releve e reclamam com a filha, que me olha debochada.

- eu ainda vou te ensinar a não falar desse jeito da minha mulher!- ameaço entre dentes e ela engole em seco assustada.

Vou à garagem sentindo todo o meu corpo ferver de raiva.. ela adora me tirar do sério.. um dia ainda vou lhe ensinar a respeitar um homem. O James e a Guadalupe me seguem até eu entrar no carro.

- fica calmo Miguel -minha irmã pede, já sentada ao meu lado.. o James encosta na janela ao meu lado. está sério.

- Cuidado para não ser seguido!- a Guadalupe nos olha atenta.. concordo com a cabeça e ele se afasta. ligo o carro e quando o portão abre, saímos. ligo o som alto para minha irmã não puxar assunto, ela me olha e depois suspira, mas não fala nada.

(...)

- aqui é tão bonito!- olho a Guadalupe e ela está olhando através da janela. Estamos na parte alta do bairro e daqui dá para ver a praia de Acapulco.

Chegamos e quando estaciono na garagem, dois seguranças se aproximam da parte de trás do meu carro. estranho a atitude deles e desço para saber o que estão olhando.. a Guadalupe me olha sem entender e desce também.

Ao me aproximar, um deles me mostra um disco pequeno e azul preso na lanterna do meu carro. Puta merda! é um rastreador! mas como não vi me acertarem com isso.

Arranco imediatamente e jogo no chão.. a Guadalupe se aproxima e quando pego meu revólver da parte de trás da calça, os seguranças a afastam. atiro duas vezes no aparelho, que se despedaça por completo.. o barulho dos disparos chama a atenção dos Pais da Dulce, que aparecem nervosos onde estamos.. digo o que houve e mando que fiquem calmos.. dou ordem aos seguranças para redobrarem a atenção na casa.

Quando entramos na casa, vejo a Dulce com o olhar apavorado no alto das escadas.. respiro fundo e subo ao seu encontro, ela não tenta me tocar nem nada.

Sinto um alívio por isso.. acho que com esse afastamento dela, será mais fácil de aceitar minha decisão. Minha irmã a cumprimenta e pede para ver o sobrinho.. seus olhos chegam a brilhar. A Dulce a leva para o quarto dele, mas eu decido não acompanha las.. fico do lado de fora do corredor esperando a Dulce voltar.. quase meia hora depois, ela sai e me olha magoada.. deve estar assim porque eu não fiz nenhuma menção de ver o moleque.. não posso me apegar a ele, já tá sendo pior do que planejei.

A Dama Do TráficoOnde histórias criam vida. Descubra agora