Contrato explícito?

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- Obrigado, Helena. – Max disse, logo depois de estacionar o carro em uma das vagas na garagem do prédio dela. Helena ergueu uma sobrancelha. Entendendo a dúvida dela, continuou - pela sua parte do acordo, apesar de não estar concluído ainda.

- Ah, sim. – Ela sorriu para Max – Não foi nada.

- Realmente, você fez tudo parecer tão fácil...

- É uma longa história, Max.

- Gosto de histórias. – Max disse, a tirando do transe. Helena pareceu puxar todo o ar do carro para o seu peito.

- Max, se vamos fazer isso mesmo, acho que devemos ser completamente francos um com o outro. – Ela dizia enquanto eles saíam do carro e entravam no elevador já aberto no subsolo.

- Concordo.

A necessidade de conversar era tamanha que, já no apartamento, sentaram-se na varanda. Lorenzo sentado aos pés de Max, recebendo um afago nas orelhas. Helena mal sabia por onde começar, não precisava contar tudo a ele. Mas nada melhor que começar do início:

- Devido ao acidente, meu avô pegou se tornou guardião de mim e do Lê. Desde então crescemos na empresa. – Ela continuou dizendo, Max a encarava, parecendo ponderar sobre cada palavra que saia da boca dela. – Marcelo nos ensinou tudo que sabia, a Lirol era nosso lar, vimos ele construir aquele império do zero, quando a empresa era só uma ideia maluca de um velho endinheirado ...

O avô também servira como um mentor. Tanto que percebeu que Leandro tinha aptidão para o marketing e ela, para administração e comunicação.

Para Marcelo a empresa era uma família. Ele fazia questão de tratar a todos com respeito e dedicação máxima. Até um clube na gávea fora comprado para presidir as festas da empresa.

Contudo, internamente a coisas não eram dessa maneira. Apesar da boa convivência dos funcionários, haviam cláusulas limitativas e impeditivas: sem demonstração de afeto. relacionamentos amorosos com membros da empresa nem pensar... Regras que, pela ótica do avô, eram essenciais ao bom convívio dos empregados e da "família".

Para ela, as regras eram uma grande baboseira. Principalmente quando o próprio não as seguia, já que se relacionava amorosamente com as próprias secretarias.

- Mas então, havia Ryan. Eu era do setor administrativo, ele do contábil. Viajávamos juntos, tínhamos ideias iguais, gostos iguais...você sabe, coincidências demais geralmente só tem um final: a cama. Assim nós nos apaixonados e, tudo começou a ir ladeira abaixo.

- Por que?

Era difícil responder aquilo sem sentir pena de si mesma. Aliás, quantos relacionamentos não tivemos que gostaríamos de esquecer? A vida é tão estranha e, conforme vamos amadurecendo, os gostos vão se refinando e, finalmente vemos que as escolhas anteriores não eram tão boas quanto pareciam ser.

-... Não conseguíamos manter as mãos longe um do outro. Estávamos tão felizes que só conseguíamos imaginar o casamento que se aproximava. Não ligávamos para as punições, de qualquer jeito, logo que eu terminasse a faculdade de direito, abriria meu próprio escritório... Mas não deu tempo, as penalidades vieram e, como eu era diretora da Lirol, fui penalizada, o meu castigo foi exemplar.

Max apertou as mãos dela entra as suas.

- Gatinha...

Ela devolveu o aperto nas suas mãos. Agora estava preparada para falar.

- Tinha sido demitida e não realocada... Mas não estava tão triste, eu ainda tinha ele, faltava quase um mês para nosso casamento e menos de um ano para o término da faculdade. – Helena olhou nos olhos de Max e deu de ombros. –... Então, um dia, depois de uma discussão com Marcelo devido as regras da empresa, sai de casa mais cedo e fui para casa de Ryan. Eu precisava conversar, estava consternada... - A expressão dela era amarga. Helena fez uma pausa, fechando os olhos maquiados. – Entrei na casa e, não percebi os sinais: os dois copos de vinho na mesa de centro da sala; a música ambiente sensual... Até achei que fosse uma surpresa pra mim.

Pedaços do Meu CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora