Ainda de olhos fechados, Helena se espreguiçou, e quando se deu conta de que não sentia o corpo quente dele em cima dela, sentou-se de supetão. Estava na cama sozinha, e o lugar onde Max estivera agora era só um pedaço de tecido frio. Lorenzo, sentado ao pé da porta, a fitava, os olhos cabisbaixos.
- Vem cá, Lolô. - Ela disse se deitando de barriga para baixo e esticando a mão para toca-lo. O bichano andou devagar até ela. Helena colocou os dedos nos pelos macios de seu cão, e depois, esticando-se ainda mais, beijou a cabeça peluda dele. – Daqui a alguns dias ele deve estar conosco novamente.
Ela se levantou e foi até a bolsa dela, em cima da cômoda. Tateou dentro do couro negro e tirou o celular.
Ainda de manhã, mas não tão cedo assim. Era só um dia normal, como todos os outros. Trabalharia, e com sorte, se esqueceria de Max. E voltaria para casa com tanto sono, a ponto de capotar. Olhou de novo o visor do aparelho para calcular em quanto tempo se arrumaria para chegar ao trabalho.
No entanto, Max. O nome dele a fitava na caixinha de wathsapp, dando calafrios nas costas dela. Sem pestanejar, abriu a conversa, e respondeu.
- Bom dia, gatinha.
- Bom dia, Max. Quem saiu de fininho agora, hein?
Ele era rápido.
- Estava tão linda dormindo, não queria acordá-la.
Ela revirou os olhos e foi indo para o banheiro. Talvez fosse melhor não responder esse tipo de comentário.
- Como está sendo a viagem?
- Um tédio. Gostaria de estar ao seu lado.
- Max, você poderia parar de me cantar por alguns minutos?!
Ele riu na conversa, logo depois, soltou:
- É mais forte que eu, Helena.
Ela sorriu um pouco. Mas agora, já chega, precisava ir trabalhar, e geralmente, o celular não era um bom aliado.
- Tenho que ir trabalhar. Quando chegar avisa, tá? Se cuida.
- Está bem. Se cuida, gatinha.
Todo o trajeto até o trabalho foi feito de carro, mas Helena observava mais o anel em sua mão do que a rua. Se sentia idiota. Era tão estranho olhar para um objeto e se lembrar tanto de uma pessoa.
Entrar no escritório foi um tremendo alívio, parte porque seu cérebro já estava programado para trabalhar, parte porque não teria nenhum objeto perdido de Max para fazê-la lembrar dele.
Reuniu tantas pastas de processos que o volume passou da altura de seu computador. Quando viu a quantidade de labor que teria pelo resto do dia, se sentou tranquila na cadeira.
Até o horário do almoço, passou imersa no mundo jurídico. O juridiquês era como outra língua que a transportava para um mundo paralelo. Bom, até que tivesse com o estômago roncando.
Helena se levantou e foi até o restaurante italiano mais perto, no horário combinado com a amiga. Gabi passara toda a manhã no fórum, e quando no escritório, também ficava imersa no trabalho, então sempre que possível, se reuniam para fazer as refeições do dia.
Ela passou os olhos pelo cardápio, guardando no fundo da mente o fato de que tinha comido macarrão no dia anterior. Poderia compensar isso na academia, umas duas vezes por dia, no mínimo.
Riu desleixada. Mal conseguia fazer um dia de exercício, imagina duas vezes em um dia.
Ia pedir um penne integral ala italiana. Checou o horário no relógio delicado em seu pulso, bem na hora que Gabi entrou, com uma bolsa sacola gigante no ombro, e uma penca de processo nas mãos.
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Pedaços do Meu Coração
RomanceCansada do amor, a vida de Helena Mureb é somente uma: o trabalho. Na verdade, nem sempre foi assim. Mas devido aos percalços que tomou da vida, seu coração foi estilhaçado, e ela simplesmente se deu conta que não queria ter o trabalho de reconstruí...