Um Novo Mundo Que Roubamos Para Nós

A intransigência oposta a Amizade

 Após três batidas na porta, Jonathan finalmente a abriu para então ver um  certo jovem representante da Casa da Sabedoria o esperando com um olhar bastante arrependido, mas ainda sim, bem orgulhoso.

- Estou surpreso que tenha batido e não aparecido do nada invadindo minha privacidade como da última vez.- Jon não demonstrou qualquer tipo de emoção ao dizer aquilo.

- Me desculpe. E não apenas por isso... - Elijah parecia muito incomodado com o que estava prestes a dizer. Algumas pessoas se sentiam incomodadas ao ter que pedir desculpas, imagina então um celestial. -Jonathan, venho por meio desta humilde visita, formalizar o meu pedido de desculpas pelo infeliz ocorrido.

- Você quer dizer a discussão que tivemos, porque você simplesmente desvaloriza a vida humana?

- Não. Não foi isso o que eu disse em nosso breve diálogo.

 Jon riu debochando do comentário do celestial.

- Elijah, nós não tivemos um diálogo breve, tivemos uma briga, na qual você disse coisas que realmente me magoaram e que me fizeram duvidar da sua suposta lealdade a causa da liberdade dos humanos, aliás essa situação toda está me fazendo duvidar de muita coisa.

Elijah franziu sua testa e se aproximou para olhar Jon diretamente no olho. 

- Como ousa duvidar de meu caráter desta forma, Jonathan?- Disse Elijah de forma a demonstrar realmente estar se sentindo ofendido.- Estou fazendo o que posso para ajudar pessoas inocentes, estou arriscando muito mais do que pensa, como pode duvidar de qualquer coisa a meu respeito e a essa causa?

- Bem o jeito que você garantiu que perderia a sua honra ajudando a minha espécie, meio que foi a minha pista...- Disse dando de ombros.- E é tudo muito estranho, quer dizer, Elijah, por que eu sou o único aqui? Onde está o resto da Triunfo da Humanidade? Não pode ser só eu.

O mais velho fechou os olhos se martirizando pelo comentário mencionado.

- De fato, não foi o meu melhor argumento naquela discussão.

- Então, você admite que não foi um simples diálogo.- Disse o humano assim que percebeu as palavras de Elijah. 

- Jonathan, esse não é o foco dessa conversa.

- Por enquanto é uma conversa, sinto a vontade de transforma-lá em uma discussão que você provavelmente vai negar mais tarde.

O semblante de Elijah estava começando a se enfurecer. A chegada do humano o fez perceber o quanto podia ser estressante lutar em uma causa e principalmente cuidar de um "moleque".

- Não acha que está tento uma atitude muito da infantil.

- Sim! Sim eu acho, estou sendo infantil, mas não me importo porque você também está! Negando e evitando respostas e acha que não percebi, eu não sou bobo nem nada do tipo, Elijah, se era isso que procuravam deviam ter achado outra cobaia pra esse trabalho. 

- Sim, Jonathan, sim eu admito e peço perdão por tal atitude.- Ele então respirou fundo.- Verdadeiramente peço perdão. Pela briga e por negar a coisa toda, foi algo deveras imaturo e nem um pouco honroso. Mas não duvide da veracidade de tudo isso, porque me corta muito profundo com suas palavras.

Jon respirou fundo enquanto os olhos de seu "aliado" o encaravam aguardando algum tipo de resposta.

- Muito bem, Elijah, muito bem, eu aceito as suas desculpas, e não duvidarei mais de sua palavra ou de sua honra, afinal estamos do mesmo lado, não estamos?

O celestial sentiu um pouco de acidez no tom de Jonathan, o que foi um pouco estranho, mas pelo bem da parceria de ambos ele o ignorou.

- É claro, é claro que estamos, Jonathan. Essa pergunta foi algum tipo de insinuação?

- Sabe, no meu tempo falamos que é mais como uma "indireta", mas talvez não esteja pronto pra essa conversa.

- Entendo...

- Apesar de eu querer discutir muitas coisas a respeito das coisas estranhas que te rodeiam e também a toda essa situação, nós temos coisas mais importantes para discutir, Elijah,  problemas, eu diria, ainda maiores que não havíamos tomado conta.

- Como assim?

- O menino, Júpiter. Ele me viu caindo pelo portão do céu, na hora eu tentei enrolar a pobre criança, mas me lembro que você disse que ele inventou uma desculpa ridícula sobre a minha chegada.

- De fato foi algo muito mal explicado, porém ninguém mais insistiu no assunto. Jonathan,  acho que devíamos fazer o mesmo.

- Tá, mas e se eles começarem a questionar como um estranho "filho da Casa da Sabedoria" brotou em uma carruagem desconhecida sem qualquer tipo de informações de origem? E se alguém da sua Casa afirmar que não sou nada? Alguém alguma hora vai começar a nos questionar, Elijah.

- Júpiter é só uma criança...

- Mas ele não é burro! É até que bem esperto, pode ter nos dado cobertura, só que tudo tem um preço nessa vida, o garoto é esperto e vai cobrar isso em algum momento.

- Ele não tem nenhum tipo de prova, então eu aconselho vossa pessoa a se acalmar e parar de pensar nisso, agora, quanto ao questionamento relacionado a carruagem inventada por Júpiter, pode deixar que eu cuido disso.

- O que vai fazer?- Perguntou Jonathan um tanto preocupado pelo tom que o próprio Elijah havia usado.

- Vou fazer com que você tenha um álibi que viu sua embarcação na carruagem, apenas isso, Jonathan, não se preocupe... Eu não vou matar ninguém, não sou esse tipo de pessoa.

- Eu nunca disse que era, não com palavras que você escutasse.- disse provocando tentando amenizar o clima entre os dois.

- Eu sei, é que seus pensamentos são muito altos.- rebateu ele no mesmo tom de voz.

Jonathan arregalou seus olhos com tamanha preocupação reluzente.

- Você, você... O quê! Você leu a minha mente? Isso é invasão, invasão de privacidade, Elijah!

O jovem da Casa da sabedoria não segurou o humor com o desespero do humano. Jon observou e respirou aliviado entendendo que era apenas uma piada.

- Eu não leio mentes,amigo. Pode relaxar.- disse enxugando a lágrima que saiu após rir em quantidade. - Apenas vejo seus sonhos. - por fim deu uma batidinha do ombro de Jon e saiu de seus aposentos.

Jon assentiu sorrindo até que as últimas palavras foram finalmente entendidas.

- Peraí, o quê!