11 - A LUA ESTÁ TÃO BONITA...

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Ponto importante... Capítulo também importante!!!

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Não. Eu não fui para casa.

Fazia algum tempo, talvez trinta e dois dias, que eu não visitava o "lar dos idosos" - a única e relativamente decente casa de repouso do nosso pequeno bairro. Dormitórios amplos, aparelhos para ginástica, um amplo jardim, multiprofissionais... Eu cheguei a solicitar piscina, mas como muitos ali apresentavam algum grau de demência, por mais protegida que estivesse ainda seria perigosa. Mas, quem sabe para o próximo verão...

Passei na banca do Zé e peguei um punhado de jornais do dia anterior e segui meu caminho. Não foi uma longa caminhada... Nem deu para fazer bolhas nos pés!

Mostrei minha identificação e logo me deixaram entrar. O pátio estava cheio...

— Alô, galera! Como vão as pernas?

Passei cumprimentando os idosos com o melhor sorriso que eu conseguia fazer e distribuí os jornais...

— E aí Carlão? ... Hey, Ivone! Vai para a balada hoje? Tá linda! ... Juvenal, meu velho, você tinha razão quanto ao cavalo campeão...

Eu não estava com pressa... Ainda assim, meus pés me levaram até ela. Em um banco, solitária, olhando para o nada - como se estivesse sonhando acordada, a encontrei. Peguei uma cadeira e sentei a sua frente... Nada disse até a piscada seguinte.

Nona?

Seu semblante mudou na mesma hora. Pareceu ganhar vida quando se voltou para me contemplar.

— Filho! Você veio?

Respondendo ao abraço dela disse:

— É claro, nona... É claro.

Respirei fundo ao dizer:

— A senhora está bem? — Eu me esforçava para não embargar a voz.

— Sim, meu filho... E a Candinha?

— Está bem — ri, mas logo mudei o assunto. — O Augusto continua te importunando?

— Ah, só para jogar xadrez, meu filho...

— Xadrez, sei... — ri mais um pouco.

— E as pitocas?

— Bem... Estão longe, nona.

— Ah sei... Essas meninas sempre voaram muito alto.

Concordei com ar nostálgico pela referência às minhas irmãs.

— Sabe, meu filho não gosta de aviões...

— É mesmo? — Fechei a expressão.

— Alguns dias atrás ele estava brincando com um trenzinho. Eu insisti para que ele brincasse com o avião que havia ganhado... Sabe, foi muito caro.

— E aí? O que aconteceu?

— Ele pegou o avião, todo irritado, colocou no chão e fez o trem passar por cima dele...

Voltei a rir de forma contida.

— O avião foi presente do pai dele...

Parei de rir na hora. Ela continuou:

— O trenzinho fui eu quem deu. Mas, é o pai dele quem mais gosta de lhe dar presentes... O enche de brinquedos. Meu filho, porém, quase nunca brinca com nenhum deles...

— Talvez ele não goste desses brinquedos que ganha...

— Ah, ele é uma criança muito especial — falou admirada. — Sei que prefere quando o pai está presente. Ainda assim, ele sempre faz artimanhas e vive levando bronca dele. Eu sei que meu filho quer apenas chamar a atenção do pai, mas eles quase nunca se entendem...

SUAS CONSEQUÊNCIAS EM MIM - Spin-Off Trilogia dos Irmãos AmâncioWhere stories live. Discover now