Segunda mãe

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Após trinta minutos esperando, o barulho da extração do café enquanto passa pelos canudos de plásticos não o irritou mais. Kihyun sempre foi pontual, até mesmo antecipado, então se preocupou com aquele atraso repentino. Do lado de fora, as nuvens do céu permanecem cinzas, expondo o frio de forma singela, junto aos vidros com as extremidades embaçadas.

Pessoas conversam o tempo inteiro, e mesmo em tons reduzidos ainda é possível entendê-las perfeitamente. Hoseok pensou em ir aos fundos, adentrar a livraria e observar livros aleatórios a fim de passar o tempo. Porém, esse gesto pode impossibilitar o amigo de notar sua presença, além de gerar a vontade de gastar seu dinheiro, que uma hora ou outra irá aparecer. Ele optou por permanecer sentado em frente a uma cadeira vazia, bebericando um café simples enquanto escuta conversas sobre o clima, notícias transmitidas pela televisão e até mesmo conselhos amorosos.

É surpreendente como tudo ao seu redor te trás lembranças de situações das quais você vivencia no momento. Em menos de uma hora, ele ouviu sobre a aceitação das emoções, erros que incentivam o aprendizado e a superação de um relacionamento fracassado. Chegou até mesmo a questionar se aquela cafeteria possui pessoas normais ou meros demônios em busca de atormentá-lo.

Por dentro ele se compara a um liquidificador emocional, sem muito controle. Ao descobrir os próprios sentimentos por Chae, aceitou cada um deles de bom grato. Mas tudo se torna difícil quando a vida não segue o roteiro. Obviamente que ele não imaginou viver um conto de fadas após se declarar, mas se alguém o avisasse que a partir daquele momento, após um beijo inesperado, a vida dele despencaria como uma bola de neve no início de uma montanha, deixando-o tonto, sem dúvidas não acreditaria. Mas ali está ele, não tão triste como no dia anterior, mas vazio, carente de notícias boas.

Uma semana é mais do que o suficiente para te afundar. E o processo de aceitação demora. Em nenhum momento pensou em desistir de Chae, e essa insistência vai além dos sentimentos amorosos. Por mais que toda aquela grosseria o machucasse, algo em seu peito avisava que é possível obter uma melhora, igual o dia que saíram juntos a fim de aproveitar a tarde em um parque, acompanhados por uma bicicleta velha. Seu vizinho não é uma pessoa ruim, apenas age com medo, como se todos em sua volta possuem facas ao invés de mãos. Quando alguém se aprofunda nessa ideia por muito tempo, é difícil erguê-la para superfície novamente. A pele encontra-se sensível, inchada e escorregadia. Em segundos você sobe um metro, mas em outros, volta para o fundo.

Hoseok não induziu promessas vazias, porém, pretende continuar tentando até seu limite. Após isso, não há mais o que fazer.

Vinte minutos depois a porta se abriu, revelando um homem de estrutura mediana e mechas carameladas indo às pressas ao balcão. Observou seus lábios se moverem, pedindo algo que supôs ser simples. Kihyun nunca demonstrou gostar de bebidas extravagantes, ainda mais sem possuir muito tempo. Ele olhou ao redor, procurando o loiro, quando os olhos se cruzaram, ergueu a mão a fim de pedir em silêncio para aguardá-lo um pouco mais.

Não demorou muito até ele receber uma xícara média de porcelana, branca com a alça verde, idêntica a sua, que no momento encontrava-se suja com algumas gotas de café.

— Me desculpe por te deixar esperando, o frio congestionou as ruas, acabei levando o dobro de tempo para atravessar a cidade.

Hoseok deu-lhe um sorriso singelo, não há motivos para culpá-lo por um problema repentino.

— A situação já passou, não se preocupe. Qual o motivo da nossa conversa? Eu refleti por um bom tempo, ansioso e talvez com medo.

Kihyun não o respondeu de imediato, logo ocupando a cadeira vazia em sua frente. Como havia deduzido, sua xícara é preenchida por café normal.

A segunda música (2Won)Onde histórias criam vida. Descubra agora