II

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       Meu dia hoje foi imensamente cansativo, às vezes me arrependo tanto por ter firmado exclusividade com apenas uma marca, apesar deles não me causarem problemas, eu não me sinto confortável com o fato deles prezarem mais o dinheiro que a verd...

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       Meu dia hoje foi imensamente cansativo, às vezes me arrependo tanto por ter firmado exclusividade com apenas uma marca, apesar deles não me causarem problemas, eu não me sinto confortável com o fato deles prezarem mais o dinheiro que a verdadeira qualidade. Espero ansiomente esse contrato vencer e eu poder me livrar dos Ferraz.

       Vou para casa e no caminho faço uma chamada para meu bebê, ele não é de fato um bebê, mas Gabriel é tão calado e concentrado na sua bolha de insegurança que às vezes eu preciso de fato tratá-lo como um. Às vezes ele nem se dá conta que estamos falando com ele, ou que ele precise comer.

       Meu filho não tem nenhum problema clínico, segundo os médicos que o atenderam quando ele era bem pequeno, ele apenas é um garoto retraído, e que isso não era um grande problema. Mas meu filho nunca teve um amigo, meu filho nunca teve um namorado e isso não é comum em um garoto de dezenove anos.

       Aos treze anos eu vi meu filho sofrer porque se descobriu gostando de um menino da sua sala, foram dias difíceis de aceitação, meu marido na época ainda era vivo e mostrou que aquilo não era uma grande coisa, que um dia ele encontraria um amor de verdade e que esse homem o faria flutuar. Então tudo se acalmou, mas ele se fechou ainda mais, não sei se por medo ou se algo aconteceu e ele não nos contou.

       Gabriel cursa faculdade de administração, era um desejo do meu falecido marido que ele fez questão de cumprir, mas eu sei que meu filho não é feliz. Sei que ele sempre quis cursar moda, porém, para Humberto, Gabriel deveria fazer algo para seguir seu legado e assumir sua empresa. Um fato que se depender de mim nunca vai acontecer, meu bebê já fez coisas demais que ele não gosta, e eu acho que já está na hora dele ser feliz. Esse será seu último semestre em uma faculdade que ele odeia, é hora dele ser feliz e aprender a viver.

       Acordo assustada com meu telefone tocando incessantemente.

       — Alô! — Digo ainda sonolenta.

       — Como assim? Não pode ser. — Digo já chorando para a pessoa do outro lado da linha.

       — Para que hospital o levaram?

       — Ok! Daqui a alguns minutos estarei aí. — Digo já indo em direção ao meu closet e pegando as primeiras peças de roupas que encontro.

       Dirijo enlouquecida pelas ruas de São Paulo até chegar ao hospital indicado pelos policiais.

       Não consigo acreditar que meu filho foi atropelado, Gabriel é sempre tão meticuloso ao andar nas ruas, ele sempre diz que ele tem que prestar atenção por ele e pelos outros que são totalmente alienados, deveria ser cômico vindo do meu filho, mas ele tem seus motivos. Tudo isso porque uma vez um homem trombou com ele e o fez machucar as mãos ao cair no chão.

       Entro no hospital totalmente desorientada e logo avisto alguns policiais parados no que seria uma sala de espera. Caminho apressada até onde eles estão e ao me aproximar vejo o rosto de alguém que eu jamais imaginei ver nesse hospital.

Nas asas do destinoWhere stories live. Discover now