De estação em estação.

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O inverno foi intenso no final daquele ano. Yejin se lembrava bem disso.

Começou congelando os lagos, e as árvores murcharam rapidamente na primeira semana. A neve tênue vestia as ruas de toda a cidade que já estava se preparando para os festivais de dezembro, mas, naqueles dias, Yejin não se animou com as luzes ou as canções. Podia-se notar os olhos soturnos perdidos no meio das festas em família e o sorriso fraco que tentava soltar ao receber o presente que mais desejava naquele ano.

 Lamentavelmente, aquele inverno vigoroso congelou o coração de Yejin, coração que calorosamente ansiou por alguém desde fevereiro até novembro daquele ano.

No outono resolveu confessar seus sentimentos por Choi Yubin, que era um pouco mais velha e que roubava todos os suspiros de Yejin para si. Secretamente, ela tentava esconder seus sentimentos pela outra, mas eventualmente Yubin descobriria o que havia por trás dos instantes que pegava Yejin a encarando descaradamente com feição de apaixonada. 

― Você está louca? ― Yubin bravejou.
Yejin deu um passo para trás e lançou uma risada leve. Achava que aquela era uma das brincadeiras bobas da mais velha.

― Qual é a graça? ― a mais velha vociferou mais ainda
Suas mãos empurraram Yejin com brutalidade para trás, naquele momento esta última sentiu a respiração falhar.

― Desculpe… Eu.. Eu..― A voz de Yejin tremia, ela não tinha mais certeza de nada.

― Isso é sério?! ― Yubin disse. Encarou Yejin, que dessa vez tremia por completo com os olhos luzindo pelas lágrimas que ameaçavam sair. ― Você é desprezível, Kang Yejin. Nunca mais me procure.

Nos últimos dias daquela estação aquele diálogo foi a única coisa que Yejin pensou. Era como se fosse uma fita cassete reproduzindo a voz de Choi Yubin na sua mente por horas e horas. “Você é desprezível.”
Yejin suplicava todas as noites para que aquilo parasse. Ela ziguezagueava entre imaginar as duas de mãos dadas nos corredores do colégio e lembrar da mais velha dizendo “Nunca mais me procure”. Doía tanto que Yejin jurou que morreria junto com as árvores no início de dezembro.

Quando ela viu o primeiro floco de neve cair começou a se sentir mais calma, mas apenas pela superfície. Não havia muitas pessoas para perguntar se os olhos inchados foram causadas por noites não dormidas ou por qual motivo havia chorado tanto ultimamente. 
A avó de Yejin, embora quase não enxergasse direito, podia ver muito além dos olhos inchados e a maneira soturna que estava agindo recentemente. Ela perguntava todo dos dias:

― Yejinie, querida, conte pra vovó o que tem acontecido.

E Yejin dizia:

― Só estou muito cansada por estudar para o vestibular, vovó. 

A senhorinha não acreditava totalmente naquilo, mas se dava por vencida todas as vezes. Todos os dias, quando era questionada, Yejin dava-lhe quase sempre a mesma resposta fajuta. Não era de todo uma mentira, estava difícil estudar para as provas, mas Yejin só desejava que aquela sensação sumisse logo.
Quando um novo ano finalmente começou ela já tinha parado de chorar e seus olhos mostravam um pouco mais de alegria, como se a tempestade já tivesse ido embora. Infelizmente o céu nublado voltou novamente um tempo depois, quando ela descobriu que suas notas nas provas não foram suficientes para entrar na faculdade.

Ela foi visitar os pais na semana seguinte para dar a notícia, e chorou como se fosse uma chuva sem fim. Sua mãe tentava confortá-la e dizia que ela poderia ser o que quisesse. Yejin se questionava se alguém a amaria um dia, se ela teria sorte um dia.
De volta a casinha que dividia com sua avó, Yejin teve uma surpresa, como se as nuvens depois de um temporal se abriram e mostravam um céu azul novamente. Um amigo de décadas da senhorinha Kang Sonkyu abriria uma lojinha de conveniência nas redondezas e precisava de uma funcionária. Kang Yejin poderia ser uma ótima atendente de primeira viagem. 

Summer Sun, Something's BegunWhere stories live. Discover now