Quadro 11 - Boca: A origem de tudo

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A paixão é a ponte que te leva da dor a mudar. – (Frida Kahlo)

POV PETE

Aquele sorvete parecia não ter fim. A taça era enorme e quanto mais comíamos, mais eu tinha a sensação de que não estava perto de acabar. Não que eu me importasse, estava feliz me esbaldando enquanto o fotógrafo continuava com a sua implacável máquina fotográfica, capturando todos os meus movimentos.

— Você não está cansado de ficar tirando fotos minhas? — questionei, enfiando uma grande colherada da sobremesa na boca enquanto a outra tapava a lente da câmera.

— Eu até estaria, mas você não colabora. — engoli rapidamente.

— E o que eu fiz?

— Você nasceu. — a capacidade de Ae de soltar coisas que me deixavam constrangido era incrível, mas eu não me sentia feliz por ter nascido, não mais. Se ele soubesse o motivo concordaria comigo.

— Diz isso agora, mas... — não pude terminar de falar, pois Ae enfiou um morango na minha boca, pegando-me de surpresa.

— Se vai dizer qualquer coisa depreciativa sobre si mesmo, então não quero ouvir. Eu gosto muito do Pete que conheço agora e isso basta. Quando vai entender?

Ele não queria quebrar o clima bom que fora instalado. Bem... Então não seria eu a fazer isso.

— Ok, você venceu. — levantei as mãos para o alto, em rendição. — Mas só hoje.

Ae deu uma risada.

— Uma vitória é uma vitória. Você precisa admitir isso.

— Até eu sei quando é hora de recuar, mas não espere que... — parei o que estava dizendo e discretamente olhei para além de Ae.

A algumas mesas de distância duas garotas olhavam de relance na direção em que Ae e eu estávamos, ambas muito bonitas e que pareciam ser universitárias também. Uma tinha um cabelo loiro alaranjado e a outra de um preto tão vivo quanto de Ae, bem longos. Não consegui ver com detalhes todas as suas feições, mas os olhares discretos que soltavam me fazia perceber que eram para nós, afinal erámos os únicos próximos ao corredor. Não sei o motivo, mas aquilo me incomodou extremamente.

— Não espere que o quê? — Ae me chamou de volta e acabei pulando levemente.

— Ham? O que você estava dizendo mesmo?

— Na verdade, era você que estava falando e aí parou do nada. — o moreno afirmou com uma sobrancelha arqueada.

— Ah, nem lembro mais. — dei uma risada nervosa. De repente eu já não me sentia mais confortável ali. — Vamos terminar o sorvete antes que ele derreta.

— Tudo bem. — Ae voltou a encher sua colher e levar para a boca com tranquilidade.

Tentei evitar pensar nas nossas stalkers para me concentrar na pessoa em minha frente, contudo, vez ou outra eu me pegava olhando de relance na direção delas, e como eu suspeitava, elas continuavam ali, nos comendo com os olhos. Em uma das vezes meu olhar acabou encontrando com a de cabelo preto e quando isso aconteceu ela desviou rapidamente, deu uma risadinha e colocou o cabelo atrás da orelha. Nesse ponto meu humor inicial já tinha caído para cinquenta por cento. Eu queria pegar Ae pela mão e fugir dali, longe daqueles olhares famintos e curiosos. Os flashs da câmera ainda continuavam e com certeza o rapaz pegou alguma expressão emburrada minha, mas Ae sendo Ae, esperto para algumas coisas e lento para outras, não notou isso.

Quando o sorvete acabou e as fotos cessaram o descaramento delas ainda me incomodava.

— Nossa, estou cheio! — Ae disse, suspirando, mas eu não estava mais conseguindo prestar atenção nele. — Acho que não vou conseguir mais tomar Tokyo Banana por um bom tempo.

In Your EyesOù les histoires vivent. Découvrez maintenant