. Eu não sei exatamente quando a minha vida começou a desandar.
. Se quando a minha mãe morreu e por isso o meu pai resolveu voltar para Seuol; se quando ele colocou a vagabunda da minha madrasta dentro de casa; ou talvez tenha até sido naq...
O camarim estava bastante agitado com as garotas todas empolgadas para a apresentação que faríamos, mas por incrível que pareça, no reflexo da minha antiga penteadeira, eu só focava nos meus olhos banhados em emoções que enevoavam todos os meus sentidos. Havia nostalgia, nervosismo, adrenalina, paixão... Uma confusão não só no que acontecia às minhas costas. Minha euforia se deixou levar pela empolgação das meninas, mas aparamente eu era a única "tranquila" enquanto terminava de fazer os últimos retoques da maquiagem de esfumados não tão fortes, mas que contrastavam com o meu figurino todo em meia arrastão, couro e suspensórios dourados.
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-e aí, como está se sentindo? -Solar dividiu o reflexo no meu espelho, um sorriso despontando dos seus lábios enquanto ajeitava os cachos nos meus fios loiros.
-sinto que posso ter um tilt a qualquer momento- me deixei relaxar com sua risada- mas é como andar de bicicleta, certo?
Levantei da poltrona acolchoada, sentindo a necessidade de esticar as pernas e tentar dissipar aquele nervosismo exagerado, porém muito familiar. Solar riu, me respondendo com cumplicidade e saiu bradando ordens para que tudo estivesse no mais perfeito lugar para a apresentação.
Aproveitei que as garotas estavam ocupadas consigo mesmas e andei até a porta do camarim, ouvindo a agitação por trás da cortina de veludo vermelho e não segurei a curiosidade de espiar por uma fresta, procurando-o na área vip. Meu coração retumbou tão forte quando o encontrei sentado onde disse que estaria, que provocou cócegas em minha garganta, causando-me uma risada um tanto nervosa, mas de sensação amarga ao fundo, pois o efeito dominó daquela visão de Park me fez recordar das primeiras vezes em que estive naquela mesma situação... Com outro.
-tá pronta, gatinha? -Soyeon chegou por trás com as meninas, todas embebidas em uma nudez sensual, couro e muita Chanel.
-e quando eu não estou? -pisquei, ouvindo ao fundo a deixa de Solar para que eu enfim passasse pela cortina, levando comigo em um desfilar sensual até o palco principal de ferro em vermelho brilhoso, todas as atenções do estabelecimento.
Apesar do coração batendo forte contra o meu peito, por fora eu conseguia mostrar uma perfeita calma e segurança, quando as luzes diminuíram e eu brilhava em meio aos tons vermelho, rosa e roxo, servindo de uma bela distração enquanto as minhas meninas iam para os seus postos em meio a penumbra. A barra me serviu de apoio quando a segurei com minha mão esquerda, tombando meu corpo para o lado e fazendo um círculo completo enquanto Pour It Up de Rihanna começava a soar. Ergui as mãos, ainda encostada na barra e a coreografia exatamente sabida por mim me deixou mais segura, quando comecei a ondular meu corpo até o chão, simplesmente me deixando embalar pela batida sensual e envolvente; em um sincronismo perfeito com a voz de Rihanna, as luzes se ascenderam novamente, embebendo os meus e os movimentos das meninas de agarrar a barra com as duas mãos, rebolar e depois impulsionar o corpo para cima, começando os movimentos mais precisos de poli dance.
