Escuridão

2.2K 276 120
                                    

Na sala de jogos da casa, Midoriya se sentou no chão e observou com uma expressão calma a garotinha brincar e empurrar bichinhos na sua mão. Após um pequeno tempo ela parou, cansada.

— Aqui é muito chato. — Eri reclamou fazendo biquinho — Eu queria voltar a morar com Aizawa, mas ele me disse que é perigoso. Agora não sei se é verdade, ele mentiu pra mim. Você está vivo.

Midoriya, que ouvia tudo pacientemente, gargalhou. Ficou fascinado em como a criança estava melhor, e parecia ter uma vida normal.

— Não ria! — Ela bateu nele com seus bracinhos — Eu chorei por você, sumir assim foi crueldade.

— Eri. — Midoriya parou de rir, agora sorria triste — me desculpe, eu não pensei que isso te afetaria tanto.

— Eu não estou brava. — bufou baixo — Talvez um pouco, mas não com você.

Midoriya sentiu os olhos marejarem, Eri e sua sinceridade de criança fazia tudo menos obscuro.

A garotinha viu Midoriya com os olhos vermelhos e ficou assustada.

— É sério. — ela balançou as mãos ansiosa — Não estou brava, não chore.

Midoriya riu e puxou ela para um abraço.

— Me desculpe... — murmurou fazendo carinho nos cabelos brancos na menina.

...

Uraraka acordou um pouco enjoada, novamente sem sentir as próprias pernas. Shoto estava ao seu lado, mexendo no celular.

— Notícias? — Perguntou com voz arrastada, sentia dor na coluna.

O colega ergueu os olhos, um pouco preocupado com o estado dela.

— Não. — Todoroki suspirou.

Uraraka ficou em silêncio. Se a heroína médica realmente desapareceu, não poderia esperar mais. A dor da coluna era gigantes, se a operação demorasse mais só prejudicaria sua recuperação depois.

Uraraka inspirou fundo, reuniu coragem e olhou para Todoroki.

— Vou fazer a cirurgia. — murmurou triste, lágrimas que não conseguiu segurar escorrendo pelos olhos.

— Mas... — Shoto olhou ansiosamente ela — se fizer, não vai andar nunca mais.

— Vou fazer. — Respondeu firme. Estava decidida, não queria esperar mais.

— Certo. — Todoroki não falou mais sobre, aquilo deveria ser doloroso para ela — A mina acordou. — comentou tentando animar a amiga.

— Serio?! — Questionou surpresa — Ela está bem? Como reagiu?

— Ela surtou. — respondeu sincero — estão mantendo ela sedada, já que sempre que acorda começa a chorar sangue.

— ... posso falar com ela? — perguntou meio aflita.

Shoto olhou Uraraka por um segundo, sem saber se era um boa ideia, suspirou impotente e mandou uma mensagem ao Denki. Logo ele recebeu uma mensagem confirmando, precisavam apenas da colaboração dos médicos. Uraraka esperou paciente, mesmo sentindo muita dor e precisando dormir, se recusou em reclamar e chamar os médicos.

O telefone de Shoto tocou. Ele atendeu, falou brevemente com a outra pessoa e passou para Uraraka.

— Oi? — A voz vacilante feminina falou um pouco confusa.

— Oi, Mina... como você está? — murmurou Uraraka com a voz fraca.

— Ura... — o outro lado soluçou — Você soube? Estou cega de um olho!

— E eu não vou andar mais. — riu de leve, zombaria transbordando pela voz. Mina ficou em completo silêncio.

— Você o que? — questionou bem mais calma.

— Não te contaram? Eu cai do céu, perdi o movimentos das pernas. — Respondeu calma, já tinha aceitado isso e queria dividir a noticia com a garota que ama.

— Eu... não sabia. — Mina sussurrou.

— Recovery girl estava a caminho de te curar, mas teve que voltar por mim. — Contou — Ela sumiu no caminho. É minha culpa você estar cega...

— Não! — ouviu a voz ríspida de mina — Você não fez nada, então cale a boca.

As duas fizeram silêncio. Uraraka deixou escapar um resmungo de dor, mina percebeu na hora.

— Você precisa dormir, não vou te incomodar mais. — A amiga falou carinhosa e desligou, sem deixar espaço para Uraraka reclamar.

A menina olhou para o aparelho com olhos vazios e distantes por um longo tempo. Nada além de Mina se passava em sua cabeça, se confortou com a ideia de pelo menos estava viva para poder ouvir a voz dela novamente.

— Chame os médicos. Vou assinar a autorização de cirurgia. — Uraraka passou o telefone a Shoto e suspirou dolorosamente.

...

Na floresta, Shinsou voltou a se reunir com Kamui. O herói soltou um suspiro de alívio ao vê-lo bem.

— Eles fugiram. — o herói olhou ao redor — Estavam aqui por você, é melhor que volte a U.A.

— Não. — Shinsou esticou as costas — Vou para a cidade, ficar com Koda e os outros. Aliás, obrigado por me contar sobre isso. — ironizou ressentido.

— Desculpe, não pensei que se importava. — O herói respondeu simples — Não o impedirei de ir, mas cuidado, alguns de seus colegas não são confiáveis.

— Hã? — Shinsou levantou uma sobrancelha, Kamui não explicou e se virou para sair.

Logo após isso, Shinsou voltou para floresta. Os amigos continuavam ali, e um dos heróis responsáveis por eles.

— Como você está? — Toru perguntou suavemente.

— Bem. — deu de ombros. Não contou sua confusão sobre o que o herói disse, era melhor se calar ao falar descuidadamente com possíveis traidores.

— Vamos sair? Odeio florestas. — Mineta se encolheu atrás da garota, que fez questão de chuta-lo para se afastar.

— Vamos. — Rock lock chamou os alunos para sair.

Shinsou se aproximou de Koda, se alguém ali merecia sua confiança era esse tímido garoto. Se bem que, Mineta era patético e a Toru um pouco inocente. Não da para acreditar que realmente um deles não é confiável.

...

Na noite limpa com o céu sem nuvens, era perceptivo a fumaça que subia do hospital. Os médicos saiam apressadamente empurrado seus pacientes, tentando escapar do local. As chamas azuis queimavam tudo que tocava, sem nem um pingo de misericórdia.

No beco não muito longe, Momo, jogada no chão, observava tudo com o rosto calmo. A garota não conseguia pensar corretamente, a dor das queimaduras nem incomodavam mais. Ao poucos, com olhos cansados demais para permanecer abertos, se entregou para solitária e aconchegante escuridão. Nenhum arrependimento podia ser visto em seu rosto.

Não me deixeOnde histórias criam vida. Descubra agora