Os Stormfields

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Quando Cece acordou na manhã seguinte, estava novamente na cama. Demorou alguns instantes para perceber onde estava. Aos poucos, os acontecimentos do dia anterior voltaram à memória.

Levantou-se e foi se olhar no espelho em cima da penteadeira. Seus olhos estavam inchados e o cabelo desgrenhado. Ela ficou parada em frente ao espelho, pensando...

Não sabia que horas eram. Será que esperavam que ela descesse? Talvez a hora do café da manhã tivesse passado, e ela teria que esperar ali até o almoço, ou talvez (o que era pior) estivessem todos esperando por ela para começarem a comer, e ela levaria uma bronca por se atrasar!

Com esse pensamento, ela correu ao banheiro para se lavar e escovar os dentes. Depois, sentou na penteadeira e começou a dar um jeito no emaranhado de cabelos.

Enquanto estava entretida tirando os nós dos cabelos, ouviu uma leve batida na porta. Cece se assustou tanto que derrubou a escova no chão.

‒ Senhorita? Senhorita Cece, está acordada? ‒ Disse uma voz feminina.

Cece sentiu o estômago embrulhar. Se atrasara tanto que mandaram alguém buscá-la?

Outra batida, dessa vez um pouco mais forte.

‒ Senhorita? Será poderia me deixar entrar?

Cece se levantou e foi até a porta, o estômago mais embrulhado do que nunca. A mão tremendo um pouco, ela girou a maçaneta e recuou para abrir a porta.

Do outro encontrava-se uma jovem de não mais de vinte anos. Usava um vestido carmim que ia até os tornozelos e por cima um avental branco com babados. Os cabelos cor de caramelo estavam presos em um coque frouxo. Seus olhos eram claros e brilhantes e seu rosto gorducho tinha uma expressão bem-humorada.

‒ Olá senhorita Cece. Meu nome é Margaret, mas a senhorita pode me chamar de Meg. Sua mãe me incumbiu de cuidar da senhorita e ajudá-la no que for possível. Ah! Vejo que já começou a se arrumar. Tenho certeza de que se arranjaria muito bem sem mim, mas sei que será uma boa menina e me deixará ajudar!

Ela disse tudo isso de forma muito rápida e animada. Cece, ainda meio aturdida, mas, começando a entender que não estava levando bronca, balançou a cabeça afirmativamente para Meg, que recomeçou a falar.

‒ Vamos encontrar um vestido, sim? Depois cuidamos do cabelo. Vejo que já se lavou. A senhorita é mesmo uma menina muito boazinha, como me disseram. Mas só tem vestidos cinzas e pretos aqui! Ah, mas não se preocupe senhorita, tenho certeza de que a Sra. Stormfield irá comprar muitos vestidos bonitos para você. Acho que o cinza é melhor do que o preto, não acha? Sim, com certeza... não vai ser bom tomar o seu primeiro café da manhã aqui na mansão vestida de preto não é? Este cinza terá de servir. Mas não se preocupe, tenho certeza de que ficará linda de qualquer jeito, a senhorita é a garotinha mais bonita que eu já vi! E olhe só esses cabelos! Me disseram que eram azuis, mas eu achei que fosse uma brincadeira do Jim. Sabe o Jim? Ele é o motorista, foi buscar você ontem junto com os Sr. e a Sra. Stormfield. Ah, aposto que não se lembra dele. Como poderia lembrar? Deve ter tido um dia muito cheio ontem! Soube que tirou muitas fotos para os jornais...

Meg continuou falando sozinha sem parar. Cece a ouvia e sentia que estava relaxando. Não percebera o quanto estava tensa, mas a conversa sem fim de Meg e seu jeito simpático a tranquilizavam. Dentro de pouco começou a sorrir enquanto Meg narrava algum acontecimento engraçado envolvendo Jim, o motorista, ou as cozinheiras.

‒ ... e então, quando a pobre da Magda voltou para trocar os ovos, ele disse que ela é que queria empurrar os ovos podres para ele, o patife! Claro que ele não sabia de quem ela era cozinheira, ou não se atreveria a lhe atribuir tal ato. Então a pobrezinha da Magda voltou chorando, e o Jim foi lá ter com o sujeito, e exigiu que ele devolvesse o dinheiro dos ovos, e ele não queria devolver, acredita senhorita? Estavam quase indo às tapas quando o patrão passou e viu o Jim, e perguntou o que estava acontecendo. Ah, quando o velho patife soube com os criados de quem ele tinha se metido! Jim disse que ele se jogou no chão e implorou perdão, e devolveu duas vezes o valor dos ovos. Prontinho, senhorita! Esse vestido lhe caiu melhor do que eu esperava. E agora os cabelos. Que faremos com esses cabelos? Talvez uma linda trança, com a ponta presa, que tal? Posso fazer duas tranças e enrolá-las na nuca, o que acha? Tem razão, tranças no café da manhã! Não há a menor necessidade... uma coisa mais simples então? Com certeza, simplicidade é elegância, eu sempre digo... a patroa gosta de prender os cabelos às refeições, mas acho que o estilo dela talvez seja um pouco rígido para uma garotinha... e por que não um rabo-de-cavalo? Ficaria lindo em você, e poderíamos fazer um laço bem bonito...

Cece BlueWhere stories live. Discover now