Azul e Rosa

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Meia hora depois, Cece e a mãe entravam no carro e iam em direção à cidade.

Durante a viagem, a Sra. Stormfield falou bastante. Enumerava as lojas que visitariam, os compromissos a que precisariam comparecer ao longo da semana, os eventos que teriam que realizar e as pessoas que teriam que convidar.

Cece, por sua vez, tentava memorizar o que ela dizia, mas era inútil.

A Sra. Stormfield estava particularmente excitada com a festa de apresentação de Cece, que deveria ocorrer dali a 30 dias, na mansão dos Stormfields. Segundo ela, seria uma grande festa, com muitos convidados importantes, talvez até a rainha Eleanor e suas filhas comparecessem.

Quanto mais a Sra. Stormfield falava sobre a tal festa, mais Cece sentia o café da manhã se rebelar em seu estômago. A Sra. Stormfield não pareceu notar que estava deixando sua filha nervosa, e continuou falando animadamente por todo o caminho.

Por fim, pararam em frente a uma grande loja, a fachada rosa e branca de um estilo antigo, com os dizeres "Pequena Rainha" gravados nela. Uma enorme vitrine mostrava manequins infantis usando luxuosos vestidos coloridos, cheios de babados e lacinhos.

Cece nunca tivera a oportunidade de se embrenhar no mundo fantástico da moda. Nunca saía quando morava no orfanato, e ali predominava o estilo clássica do Reino da Tempestade: vestidos e calças simples e sóbrios, em tons de cinza e preto.

Ao entrarem na loja, foram muito bem recebidas por três vendedoras sorridentes. Era óbvio que sabiam que elas estavam a caminho, e apreciavam a quantia que seria gasta.

‒ Sra. Stormfield! Que prazer tê-la finalmente em nossa loja. E a Srta. Stormfield também, é claro. É ainda mais encantadora do que nas fotos. ‒ A vendedora que parecia ser a mais velha se adiantou. ‒ Será que posso leva-las ao nosso camarim especial?

‒ Sim, por favor ‒ respondeu a Sra. Stormfield, animada.

‒ Meu nome é Mirna, e estas são Bernadete e Karen ‒ ela apontou para as outras duas, que fizeram uma breve reverência ‒, e ficaremos muito felizes em servi-las hoje. Me acompanhem, por favor.

Mirna as levou através dos muitos manequins e araras de roupas até um corredor com meia dúzia portas. Parou próxima à última, abriu-a e fez um gesto largo, indicando que entrassem.

Era um camarim e tanto. Tinha um grande sofá vermelho, algumas cadeiras confortáveis e quatro banquinhos. Uma mesinha estava disposta diante do sofá, e havia um serviço de chá completo sobre ela. A um canto ficava o provador, que era enorme.

Cece olhava tudo boquiaberta. Nunca tinha visto nada nem parecido com aquilo. Tudo a encantava, desde as roupas até o sofá.

A Sra. Stormfield sentou-se no sofá e puxou Cece para o seu lado. As vendedoras agruparam-se em torno delas, ansiosas.

‒ Bom, meninas, como devem saber Cece é minha há apenas algumas horas. Antes disso ela morava no orfanato, e olhe só que tipo de roupas eles a faziam usar! Cece, querida, levante e mostre seu vestido. ‒ Cece levantou, sem jeito. ‒ Muito bem, querida. Compreendem? Preciso montar um guarda-roupa adequado para minha filha. O que sugerem?

As vendedoras desataram a dar sugestões, e a Sra. Stormfield pediu para ver todas. Pediu também que trouxessem uma garrafa de champanhe.

E assim passaram a manhã. Cece experimentou dezenas de vestidos, com diferentes acessórios. As vendedoras enchiam a garota de mimos e elogios, o que agradava muito à Sra. Stormfield, que tagarelava alegremente entre biscoitos e champanhe, aprovando ou descartando os modelos que a filha provava.

No início, Cece gostou bastante da atenção das vendedoras e das roupas coloridas, mas logo se cansou. Descobriu que provar vestidos não era uma de suas coisas favoritas. Mirna e as outras a vestiam com muito esmero, passando vestido atrás de vestido por sua cabeça, escolhendo colares, chapéus e presilhas para seus cabelos, e depois faziam-na desfilar pela sala para a Sra. Stormfield, e sempre tinham arroubos exagerados ao vê-la desfilando.

As coisas pioraram quando as vendedoras trouxeram o vestido mais caro da loja para Cece provar. Era muito volumoso e espalhafatoso, e, o que era pior, em vários tons de rosa.

Cece nunca gostara de rosa. Achava uma cor muito boba. Tinha tolerado alguns vestidos com detalhes dessa cor que a Sra. Stormfield aprovara, mas aquilo era demais. Ao se olhar no espelho, já vestida com ele, teve a nítida impressão de que se transformara em um enorme bolo de camadas, com glacê e flores rosas. Odiou tanto o vestido que nem conseguiu esconder uma careta de desagrado.

Mas a Sra. Stormfield não viu a careta. Como dito, ela tinha muita facilidade em ignorar o que não queria ver. Havia adorado o vestido, estava disposta a compra-lo e ainda decidira que seria o vestido ideal para Cece usar em sua festa de apresentação.

Depois de passar a manhã toda experimentando vestidos, e de comprar quase a metade da loja, Cece e a Sra. Stormfield foram almoçar. Jim, o motorista, as levou para um bistrô chique no centro da cidade.

Cece reparou que as pessoas não paravam de olhar para elas.

‒ Sra... mamãe ‒ disse Cece ‒, porque todos estão olhando para a gente?

‒ Porque sabem quem somos meu amor. Já sabem que você é minha filhinha, leram tudo a respeito nos jornais. E seus cabelos azuis causaram uma grande sensação! Acho que você é uma celebridade agora querida ‒ ela riu afetuosamente.

Celebridade? Cece supunha que fosse uma boa coisa, pelo tom da Sra. Stormfield, mas não sabia se gostava de ser observada enquanto comia. Especialmente porque nunca havia comido nada do que a mãe pedira para o almoço, e estava tendo grande dificuldade com os talheres.

‒ Não se preocupe meu amor, você vai se acostumar logo ‒disse a Sra. Stormfield, notando a dificuldade da filha. ‒ Mamãe vai contratar um professor de boas maneiras para você hoje mesmo. Até o dia do baile, você será uma perfeita daminha!

Cece suspirou. Ser uma filha dava muito trabalho.

Cece BlueWhere stories live. Discover now