3.[AELLA] AREIA VERMELHA

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¹ vilão - Usado aqui no sentido de habitante de uma vila.

²perene- que permanece durante longo tempo, perenal.

³pernicioso- que faz mal; nocivo, ruinoso.

*mácula- marca de sujeira, de impureza.

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Ainda não conseguíamos ficar na terra por muito tempo, mas a curiosidade nos fez persistir e caminhar por outra praia remota, bem longe daquela onde havíamos causado confusão quase matando de frio o humano e próxima a caverna que Dathan chamava de lar e nós visitávamos com frequência nos dias permitidos.

Era proibido retornar um local depois de expor nossa existência, os anciões reuniam uma pequena assembleia e enumerava os pontos de crise. 

Um lugarejo pequeno, nem tinha nome.

Podia-se ver aqui e ali casas mal feitas, uma taberna, um celeiro e um píer improvisado com barcos de pesca em péssimo estado, e teríamos avançado mais,  caso um espetáculo horrendo não estivesse tendo início e fim.

—Se deitou com os demônios e gerou essa abominação.—

Bradou um humano.

Seus cabelos eram brancos e encardidos, como a lã das ovelhas, os vincos em sua pele pareciam maiores com seu rosto retorcido pela ira. Os vilões¹ o escutavam, e até se sentiam justificados, buscando a confirmação daquela voz rouca para dar vazão à raiva.

Todos ali acusavam uma moça bonita, acuada pela multidão enraivecida.

A realização me atingiu como um soco, nós duas nos encolhemos nas rochas.

O discurso de um único homem tinha poder, muito, e a brincadeira da praia poderia ter consequências desastrosas.

—Ela enfureceu os deuses, e por isso ficamos doentes.—

Ralhou outra, coberta por pústulas, ao contrário da silente vítima, que teria a pele imaculada sem a infinidade de hematomas e escoriações, também havia sangue na parte inferior do vestido. Encurralada, seguia sem dizer uma única palavra, enquanto mantinha nos braços algo como um pacote enrolado feito um casulo.

Os humanos acreditavam que os deuses caminhavam entre nós, com sua permanência nas cidades a vida era próspera, mas se algo que fazíamos os desagradava, iam embora levando consigo suas bênçãos.

Uma cidade sem a proteção dos céus não prosperaria.

O pacote protegido pela mulher era um natimorto.

De dentro podia-se ver o despontar de uma barbatana diminuta, brilhante, tão verde quanto as escamas de  Dathan, tinha o mesmo tom e padrão dos desenhos. 

Naquela noite o mar lavou nossas lágrimasOnde histórias criam vida. Descubra agora