Capítulo Vinte e Quatro - Ele.

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Você.

A primeira coisa que tive consciência foi de que estava ensopada de bebida. A segunda, que Ian também estava e que foi seu tronco que bateu em mim.

Pela primeira vez, depois de ele ter dito que estava apaixonado por mim, a gente estava a uns dez centímetros de distância.

Esquisito.

De todo modo, não consegui prestar atenção nisso por muito tempo, já que havia sangue escorrendo pelo braço dele.

— Me desculpe! — Pedi ao notar os restos da taça de vinho na minha mão e o corte.

— Está tudo bem, a culpa literalmente não foi sua — Ian disse, buscando alguém. Provavelmente Jessica, já que ela estava com ele antes do acidente.

— Você consegue ir até o banheiro sem desmaiar? — Questionei, ao ver que Ian não conseguia olhar direto para o sangue. Ele assentiu com a cabeça. — Vai até o banheiro, coloca o corte embaixo da água corrente. Vou pegar um kit de primeiros socorros e de encontro lá.

Ian não parecia muito seguro, mas caminhou em direção ao banheiro masculino, como eu tinha ordenado.

O bar da boate tinha um kit de primeiros socorros à disposição, então demorei apenas uns minutos para chegar ao banheiro e visualizar o homem com o braço dentro da pia, embaixo do jato da torneira.

Ele estava usando uma camisa branca ensopada do vinho tinto que eu estava bebendo, olhando para o próprio reflexo no espelho, como se para evitar olhar para o sangue. Ele claramente estava meio enjoado.

— Ei — chamei sua atenção, vendo seus olhos azuis se voltarem para mim assim que ele ouviu minha voz. Coloquei o kit na pia e parei ao seu lado para fechar a torneira. O corte, na realidade, era bem pequeno, na parte de cima do antebraço, mas Ian parecia meio esverdeado só de pensar nele. — Se apoia pia para não correr o risco de você desmaiar nesse chão sujo e deixa que eu cuido disso.

Ele assentiu e se recostou na pia de mármore cinza. Segurei seu braço com as mãos e, com uma gaze, limpei o sangue escorrendo antes de espirrar um antisséptico para não infeccionar o corte.

Infelizmente, não foi o suficiente para estancar.

— É ridículo, não é? — ele perguntou, olhando o que eu estava fazendo. — Um homem com medo de sangue.

— Muita gente tem esse problema, não é nada demais — respondi. — Olha para mim até eu terminar e você vai se sair muito bem, Ian.

Olhei para ele e seus olhos estavam fixos no meu rosto, a centímetros de mim. Sua boca estava fechada e os lábios apertados, meio franzidos. As pintinhas no nariz contrastavam na cor apática do seu rosto e os cabelos estavam penteados no seu usual topete metido para o lado, daquele jeitinho meio bagunçado e adorável.

Seu maxilar marcado estava tenso, não sei se pela situação com o sangue ou pela proximidade. Eu sabia qual era a minha alternativa.

Era a primeira conversa mais ou menos normal que a gente teve em duas semanas.

— Você vai me deixar aqui caído no chão se eu desmaiar? — perguntou e eu finalmente baixei os olhos, vendo que a gaze que eu prendia contra o corte estava ensopada.

Troquei, vendo que o fluxo de sangue estava bem menor.

— Eu vou te arrastar pela perna para fora e pedir ajuda profissional. Talvez eu tire umas fotos antes, ninguém é de ferro.

Ele sorriu e minhas pernas vacilaram por um segundo.

Ficamos em um silêncio desconfortável até que eu terminasse o curativo. Senti o peso dos olhos de Ian no meu rosto o tempo todo e, de alguma forma, isso não me incomodou. Acho que eu tinha sentido falta dele, na verdade.

Você e Eu (Concluído).Where stories live. Discover now