Capítulo 32

1.8K 187 47
                                    

Eu faltei a aula por dois dias seguidos. Pedi pra Cassie avisar que estava passando mal quinta e sexta e nem me importei quando ela disse que havia tido um teste surpresa de matemática. Eu não estava ligando a mínima pra absolutamente nada.

Eu passei praticamente os dois dias trancada dentro do meu quarto. Não era "meu", naquela altura ele parecia menos meu do que em qualquer outro momento. Eu só saia para comer, quando não havia mais ninguém na cozinha, então voltava para lá e me isolava. Eu percebia as tentativas de Erin de conversar mais sobre o que havia acontecido. As vezes encontrava seus post-its na minha parede, no micro-ondas, na geladeira, pra eu ver sempre que fosse comer. Deixei todos eles no mesmo lugar, sem querer guarda-los na minha caixa. Eu ainda não queria conversar. Ainda não.

Eu tentava organizar as perguntas que precisava fazer. Cheguei a anotar todas elas, mas não tinha coragem para faze-las. Não ainda.

No sábado, Cassie me mandou mensagem falando sobre o jogo. Mandou foto da quadra e disse que havíamos perdido, mas ainda tínhamos chance numa repescagem no fim do mês. Eu puxei um zoom em Logan, que mesmo com a briga e um olho mais escuro estava em quadra. Depois em Andrew, que também havia jogado. Andrew sempre sorria quando estava com o time. Sempre. Mesmo que eles estivessem perdendo, ele contagiava todo mundo, mas naquele dia seu olhar estava distante. Ele não tinha a alegria de sempre e isso ficou visível de longe.

Eu havia evitado encontrar com ele. Quando nos esbarramos uma vez durante aqueles dias sombrios, eu corri pro meu quarto antes que desatasse a chorar na sua frente. Era uma tarefa difícil, mas eu estava me esforçando o máximo para ficar longe dele naquele momento.

Também havia evitado todas as mensagens de Logan. Ele havia me perguntado algumas vezes como eu estava, se queria conversar sobre o que havia acontecido na quarta. Eu deixei de responder todas as suas mensagens e só perguntei se ele estava bem. Se o olho ainda doía. Ele disse que não tanto, e então eu não respondi mais nenhuma das suas perguntas.

No domingo a tarde, bem no fim do dia, eu esperei até te certeza de que não havia ninguém no caminho até a entrada e então sai do quarto. Eu precisava respirar ar puro, precisava sentir o restinho de Sol que ainda estava no céu.

Segui para os fundos da casa e então pelo jardim alto, até chegar ao lugar onde Andrew e eu havíamos nos encontrado. Onde ele tinha dito pela primeira vez que me amava.

Não tive coragem de subir, então só aproveitei que o Sol estava batendo exatamente próximo a uma arvore e me sentei ali, me aquecendo de fora pra dentro e respirando devagarinho. Tentei não pensar em todas as duvidas que eu tinha, em todos os problemas. Gastei todos os tutoriais para controlar a respiração e a ansiedade e usei aquele momento para não pensar em nada, só para sentir a leve queimação no meu rosto.

-Imaginei que você ia querer vir pra cá. – escutei a voz de Andrew. Abri os olhos e procurei por ele no caminho por onde vim, mas não o encontrei. Ele me chamou mais uma vez e eu finalmente o encontrei no alto, quase em cima da minha cabeça.

Soltei um suspiro. Andrew não levou dez segundos para descer e estar do meu lado, sentado junto comigo ali no chão. Eu não tive nem tempo de cogitar sair correndo, então suportei o momento. 

-Você colocou um prazo pra me ignorar ou ele ainda está em aberto? – perguntou em tom debochado. Abafei uma risada, ainda sem coragem de olhar pra ele.

Será que ele também havia se sentido daquela maneira quando soube de tudo? Perdido, sozinho e errado?

-Ainda ta com raiva de mim? – perguntou, me chamando a atenção.

Eu sentia seu olhar queimar em mim e então finalmente tomei coragem para olhar pra ele. Ainda era o mesmo Andrew de sempre. Eu esperava que naqueles dias surgisse, não sei, uma verruga no meio do seu nariz pra me fazer pensar que aquilo era errado e que éramos monstros, monstros ainda piores se continuássemos com aquele sentimento queimando por dentro, mas não. Ele ainda era exatamente o mesmo. Seus cabelos caindo pela testa. Seu olhar ansioso pela minha resposta e seu meio sorrisinho que ele sempre dava quando estava nervoso. Tudo ainda parecia exatamente como antes e isso tornava as coisas ainda piores.

O momento certoWhere stories live. Discover now