Capítulo 40

2.1K 201 36
                                    

-Você acha que ele sabia? Acha que ele fez o exame? Que sabia esse tempo todo?

Erin continuava com o olhar distante. Eu havia contado a ela toda a minha conversa com Jane. Todos os detalhes, os pormenores. Minha certeza de que ela estava falando a verdade surgiu quando Erin confirmou que Alan existia, que a havia procurado, logo depois que ela "descobriu" que Jane havia morrido. Ela havia me dito que ele nunca havia mencionado ter outra filha e que depois daquele dia ela nunca mais o tinha visto.

Erin ainda estava considerando a pergunta que eu havia feito, mas enquanto isso inúmeras outras rondavam minha mente.

E se aquele endereço não existisse?

E se George já tivesse feito um exame e tivesse dado um resultado que eu não iria gostar?

E se Jane tivesse imaginado tudo aquilo?

Será que ela já estava suficientemente bem para saber que eu era sua filha?

Erin não respondeu às minhas perguntas. Ela apenas respirou fundo, esfregou o rosto e então ligou o carro, seguindo o caminho para casa.

Não insisti. Eu sabia que para ela deveria ser ainda mais difícil entender quem George era e quem ele se tornava cada vez que uma nova parte daquela história aparecia. Não só ele, mas como também o seu pai. Eu não podia imaginar como ela se sentia.

Chegamos em casa um pouco mais tarde aquele dia. George, como todos os dias, havia pegado as crianças na escola e estava com eles na sala. Dessa vez eles estavam brincando de massinhas. Eu sabia que Erin depois iria reclamar por ele ter deixado as crianças brincarem em cima do tapete, mas aquela não foi a primeira coisa que ela fez. Primeiro ela pediu para Charlote subir e escolher a roupa que queria vestir.

Fui até a cozinha para buscar um biscoito para comer, até que no meio do cômodo eu escutei ela dizer:

-Você sabia que a Amelie poderia não ser sua filha? – perguntou de um modo automático.

Arregalei os olhos. Não imaginava que ela iria perguntar assim, não de forma tão direta.

-Que história é essa, Erin? – eu escutei o espanto no seu tom de voz. George olhou pra mim, para Erin, e eu vi um leve desespero no seu olhar. Ele já havia dado a resposta.

-Foi por isso que você a deixou lá, não foi? – insistiu.

George não olhou pra mim, mas eu percebi pela forma como suas costas estavam retesadas que era verdade. Ele coçou o pescoço e então suspirou.

-Eu nunca quis saber. Não quis ter certeza. – confessou desanimado.

Erin assentiu. Ela não olhou pra ele mais do que alguns segundos, e então assentiu de novo. Ela permaneceu em silêncio, até suspirar e balançar a cabeça.

-Eu quis tanto encontrar alguma coisa, qualquer coisa, que me fizesse acreditar que ainda valia a pena ter você comigo. – ela disse baixo. Foi tão baixo que por muito pouco eu não a ouvi.

George não contestou, porque ele sabia que não tinha como se defender. Erin não disse mais nada, porque acho que ela já havia dito tudo e mais um pouco.

Ela secou o rosto e então subiu para ir atrás de Charlote. George ficou. Permaneceu no lugar por um bom tempo, até que se virou para mim. Eu estava apertando meu pacote de biscoito com tanta força que senti ele estalar na minha mão.

O momento certoOnde histórias criam vida. Descubra agora