4.

128 18 3
                                    

Eu estava em mais um dia de trabalho insuportável. Naquele dia, os meus antigos colegas de ensino médio passaram enchendo o meu saco como se fossem melhores que eu. O pior não foi isso, mas Jonah resolveu aparecer no restaurante. Fazia uma semana que não o via, mas estávamos trocando mensagens desde o dia no café;

— Estava te procurando. — Ele disse, encostando na parede de tijolo ao meu lado.

— E como você me achou?

— Não existem muitos restaurantes em Baydale que contratam mulheres para se vestirem de taco. — Disse e ambos rimos da situação. — Eu vim dizer pessoalmente que você tem uma entrevista de emprego no Bay Journal sexta.

Eu não consegui me conter e fui para cima de Jonah, abraçá-lo. Nunca fui fã de contatos físicos, mas eu estava muito feliz. Eu queria pular de alegria e fiz isso dentro daquela roupa esquisita de taco.

— Obrigada! Muito, muito obrigada por isso! — Eu exclamei.

Eu queria chorar e gritar. Estava pulando de alegria e o sorriso no rosto daquele homem me deixou ainda mais eufórica. Ele era genuinamente gentil e demonstrava em pequenas coisas. As poucas vezes que eu o havia encontrado, eu me sentia vista como Kaya de novo.

— Jonah. — Chamei-o e parei de pular de alegria. — Vai fazer alguma coisa amanhã?

— De manhã eu tenho trabalho, mas depois das três estou livre.

— Vamos sair. — Sugeri sorridente.

— Está me convidando para sair? — Não conseguiu conter o sorriso.

— Sim. — Dei os ombros. — Só não faço ideia do que vamos fazer.

— Eu vou te levar a um lugar, Kaya. Passo na sua casa às quatro. Se for vestida de taco, irei me apaixonar por você mais rápido.

— Eu fico sexy nessa roupa, não é? — Fiz pose com a mão na cintura. — Realça as minhas curvas.

— Kaya Morgan, você é...

— Eu sou...

— O taco mais lindo do mundo.

Eu sorri, como sempre fazia quando estávamos juntos. Jonah tinha uma qualidade muito amável: a alegria que exalava até nos piores momentos, ao menos perto de mim. Estar perto dele era estar feliz. Independentemente de quem fosse ou quando fosse, era bom estar perto dele. O sorriso de Jonah persuadia qualquer ser a sorrir e seus olhos, da cor do mar à noite, convenciam-te de absolutamente tudo.

A entrevista de emprego foi numa sexta e eu acreditei ter me saído muito bem. Nem a prematura partida de Josie e muito menos a entrevista no jornal, capaz de queimar a roupa de taco, fizeram-me parar de pensar que sairia com Jonah no sábado. Não sabia para onde iríamos, o que faríamos e nem nada, mas estava ansiosa. Não havia tido encontros antes, quiçá com um homem tão extraordinário como ele.

Mandara-me uma mensagem falando para eu não usar calça jeans e nem nenhuma roupa formal, pois estaríamos na natureza. O que esperar de um futuro biólogo marinho?

Vesti um short jeans, um moletom de tricô — não estava calor —, coloquei um tênis e peguei minha bolsa-sacola de um tecido fino de algodão, quase uma ecobag. Enquanto eu o esperava na varanda de casa, recebi uma mensagem desse:

Espero que esteja vestida de taco ou eu irei embora.

Sorri comigo mesma e permaneci esperando-o até às quatro. Quatro horas em ponto, Jonah vinha pedalando pela rua até a minha casa, vestido como quem vai à praia.

Estava com uma mochila verde escuro e uma cesta de piquenique. Eu tinha o sentimento de que aquela tarde seria incrível. E foi, porém foi capaz de transcender o que eu tinha em mente.

Onde o oceano não nos alcança.Where stories live. Discover now