17.

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Foi nesse dia em que comecei a escrever este livro. Foi diante do presságio que me sentei à mesa de madeira da cozinha enquanto Lou tomava banho e Collin dormia no sofá depois de ter bebido compulsivamente. Dois anos depois da morte de Luci, já com trinta anos. Desde que Luci morrera, afastei-me dele. Dei minha total atenção à Louisa. Não nos beijávamos, não fazíamos sexo, mal conversávamos ou nos víamos. Dormíamos juntos, apenas e isso era mais que o suficiente. Ele passou a beber mais que costumava, estar sempre bêbado e a chegar mais tarde do trabalho. Eu não o perguntava sobre e tinha medo da sua resposta. Medo de ficar até mais tarde por não me suportar, medo de não querer voltar nem pela filha e então desistir e medo de estar sendo traída. Conformava-me com ele voltando para casa e caindo bêbado no sofá, sempre. E naquele dia não fora diferente.

Tínhamos ido à praia pela manhã e assistido o nascer do sol. Lou tinha um novo melhor amigo, Liam, um cão que adotamos naquele mesmo mês. Ela gostava de correr até a colina para ver a vista de cima e depois vinha até mim para dizer se tinha algo diferente da última vez. Naquela semana estava acompanhada do vira-lata caramelo já adulto e as coisas pareciam mais divertidas.

De alguma forma, Liam farejou o colar que eu não consegui encontrar depois de enterrá-lo consideravelmente longe do farol. Eu pensei que nunca mais o veria, mas quando Lou trouxe a caixa em suas mãos sujas de terra, eu senti que podia colapsar. Segurava o colar com mãos trêmulas e geladas.

— Tudo bem, mamãe? — Lou disse, preocupada.

— Vocês foram para muito longe do farol? — Indaguei.

Não conseguia respirar direito.

— O Liam saiu correndo até o outro lado e eu fui buscá-lo. Ele começou a cheirar e a cavar. Achamos isso. — Apontou para as minhas mãos.

Abri o relicário e lá estavam nossos nomes e a data do dia em que nos conhecemos. Há onze anos atrás.

— É seu nome. — Lou disse.

— Sim. É meu nome. — Respirei fundo.

— E quem é Jonah?

— Também queria saber quem ele é agora.

Eu não sabia. Não fazia ideia de que eu estava a uma semana de distância de saber quem ele se tornou depois de onze anos. Eu achava que o relicário era apenas uma lembrança trazida pelo notável dom de Liam, como um cão, de farejar. Não acreditava que a volta do colar estava a atrelada à volta de Jonah. Fui ingênua com minhas premissas, mas em minha defesa, após tantos anos, a ideia de tê-lo de volta. Pensei que ele jamais colocaria os pés em Baydale novamente e que Luci estava errada sobre quem vai e sobre quem fica.

Quando chegamos em casa já à noite pois fomos visitar Ali no centro da cidade, Lou foi para o banho e Liam dormiu com Collin no sofá. Sentei-me à mesa, abri meu notebook e comecei a escrever. Depois de colocá-la para dormir e tomar meu banho, voltei para escrever. Tudo foi apagado em seguida, pois censurei-me por sentir algo despertar dentro de mim após tanto tempo. Contudo, na semana seguinte, estaria sentada à esta mesa novamente, reescrevendo todas as palavras que apaguei, mas que não morreram.

Naquela semana, fui trabalhar tentando esquecer do relicário, mas não consegui. Assim que saí na segunda, antes de buscar Lou na escola, passei no joalheiro. Coincidentemente, o mesmo que Jonah passou. Queria recuperar o relicário e ele conseguiu fazê-lo.

— Eu lembro de quando ele o trouxe aqui. — O homem disse quando me entregou. — Aquele menino. Você o conhecia?

— Sim. — Assenti. — Muito bem.

Busquei o relicário no dia seguinte e passei o restante da semana remoendo meu reencontro com o colar. Nada fazia sentido.

No almoço, sexta-feira, sentei-me com Ali nas mesas do parque que ficava perto do prédio do Bay Journal.

Onde o oceano não nos alcança.Where stories live. Discover now