Inimiga espiritual - Capítulo 4.

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Dias atuais...

Alexia está trêmula, chorando copiosamente enquanto Geórgia está plantada com os braços caídos ao longo do corpo, aturdida, perguntando-se mentalmente como Alexia descobrira seu antigo segredo. Quando enfim consegue reagir, após algum tempo fazendo questionamentos íntimos, joga o pano de prato em cima do enorme balcão de granito da cozinha e puxa a esposa pelos cotovelos, tentando abraçá-la, mas esta esquiva-se.

- Não me engabele Geórgia... Apenas me conte a porra da verdade antes que eu mesma a arranque de você! - esbraveja com as escleras irritadas.

Geórgia passa a mão pelo rosto nervosamente e senta-se numa das cadeiras do balcão suspirando fundo:

- Isso já faz tanto tempo, Alexia... Juro que não achei que fosse relevante você saber.

- Nós estamos casadas, Geórgia - a loira retruca meneando a cabeça negativamente. - Quem tem que decidir isso sou eu - bufa girando suas safiras e descruzando os braços. - Temos uma filha, o mais natural é compartilharmos tudo uma com a outra. Você me enganou. Até disse que queria engravidar da próxima vez...

- Sim, eu disse, entretanto não é mentira - reforça firme - Se pudesse eu engravidaria mesmo. Minha experiência como mãe da Victória está sendo fabulosa e foi assim que eu despertei. Muito diferente do que eu imaginei quando decidi retirar meus órgãos reprodutores internos. Eu tinha uns dezenove anos. Aconteceu um pouco depois de eu entrar pro Corpo de Bombeiros. Foi a primeira coisa que fiz depois de juntar uma boa parte do meu salário.

- Ilegalmente, não é? - questiona mas já sabendo qual será a resposta.

Geórgia assente cabisbaixa:

- É. Eu precisava de um laudo e a ginecologista não quis me dar argumentando que nessas circunstâncias eu me arrependeria porque eu era muito nova, e no final ela tinha razão. Eu não queria ser mãe porque não tinha o dom como muitas mulheres por aí, e super respeito este fato, ninguém é obrigado a ter filhos, a gerar uma criança sem ser de sua plena vontade. Nem todas têm instinto materno e preferem usar esta mesma energia em outras funções. O importante é ser feliz e levar a vida com leveza da forma que escolher - dá uma pausa para ver se a loira está prestando a devida atenção, vê que sim e continua: - Naquela época eu não queria ser mãe porque minha infância e adolescência foram traumatizantes... Você já conhece toda a história da minha vida. Eu tinha medo de ser uma mãe terrível como meus pais foram. Foi uma decisão imatura e inconsequente da minha parte. Tomei resoluções das quais me arrependo amargamente - pragueja baixinho.

Alexia fica calada assimilando a confissão da mulher com a coluna curvada pelo peso da culpa e consegue compreender seus motivos mesmo que ainda esteja brava.

- Você podia ter morrido! - adverte abismada.

- Eu sei... Contraí uma infecção grave e tive que me afastar do trabalho por algum tempo. Por sorte, com a ajuda da minha mãe que, sempre limpava minhas sujeiras, - enfatiza decepcionada com o passado - eu consegui me recuperar.

Alexia desarma-se completamente comovida com o desfecho. Aproxima-se de Geórgia e a abraça calorosamente no intuito de transmitir toda sua compaixão. Alisa suas costas e dá beijinhos em seu ombro.

- Eu sinto tanto... Queria que as coisas tivessem sido diferentes para você...

- Eu também, mas agora entendo que graças a todas elas eu sou a pessoa que me tornei hoje.

- Tem razão... - Alexia fita as esmeraldas que ela chama de olhos e acaricia seu rosto. - Uma pessoa maravilhosa por sinal...

- Me perdoa por não ter dito nada? Me sentia envergonhada e mesmo que você soubesse nada iria mudar.

Presa a TiWhere stories live. Discover now