Capítulo 1 - Piloto

3.9K 249 3
                                    

Colchester (Antiga Britânia), ano de 1605. Inglaterra.

(...)

Príncipe - Esta manhã nos trouxe paz sombria: esconde o sol, de pesadume, o rosto. Ide; falai dos fatos deste dia; serei clemente, ou rijo, a contragosto, que há de viver de todos na memória de Romeu e Julieta a triste história.

— Eu almejaria viver uma história de amor.— Comento, após fechar o livro sobre a mesa da biblioteca.

— Oh! querida! Todas almejamos.— Helena responde, com o olhar repousado no livro em suas mãos.

—Sim, certamente.— Digo entre risos. Me levantei da mesa e apalpei o vestido em meu corpo. — Gostaria de desposar-me com alguém que amo, desfrutar dos sentimentos benevolentes descritos em todos esses romances. — Discorro sonhadora, abrindo meus braços e girando meu corpo pela biblioteca.

— Esse seu desejo, vai se realizar em breve, Hallie.— Helena declara e o sorriso em meu rosto desmorona, quase que instantâneamente.

—Como poderia ama-lo quando estou sendo obrigada a casar-me com ele?— Pergunto em um resmungo descontente.

Eu não queria me casar! Não agora, e muito menos dessa maneira. Mas por ambição e pura vaidade de Joseph, eu havia sido prometida a Harry Vaigh. Um homem que nunca vi na vida, mas deveria desposar-me para seguir as impetuosas tradições da família Graysson.

Joseph Hay Graysson, - um homem grisalho, de olhos verdes e carrancudo, que quase nunca está contente e parece querer me jogar na fogueira, todas as vezes que me vê - é meu tio!

E vêm cuidando de mim desde a morte da minha mãe, há muito tempo atrás.
Eu não sei muito sobre minha família e me lembro vagamente da minha mãe. Mas, eu sei que a principal tradição dos Graysson é ter um sucessor para garantir a riqueza e o nome dos Graysson perante os séculos.
No entanto, eu fui prometida a Harry quando ainda tinha 5 anos de idade. Não pude escolher com quem me casar, nem tinha direito a fala naquela época.

Em breve eu completaria 17 anos e o casamento deveria ter acontecido a dois anos atrás. Mas o noivo, Harry, esteve por um tempo em Volterra e só pôde retornar por agora.

Já estava tudo decidido. Eu não poderia mudar meu destino. Mesmo que ele fosse trágico, eu deveria cumpri-lo.
Eu não poderia estar mais frustrada com o rumo imprevisível que minha vida estava levando. Eu me sentia aprisionada em minha própria escuridão, perdida no vazio e sem controle sobre minha vida.

As outras moças da minha idade não tinham os mesmo questionamentos que os meus, as mesmas ambições e os mesmos pensamentos. Elas ficariam felizes em se casar, seja com quem for.

E isso só me revelava a aberração que eu era.

Harry vinha toda semana, mas nunca para me ver, o que era um grande alívio.

Todos pareciam empolgados com a divulgação do casamento. Sinto pena deles, mas ao mesmo tempo os invejo arduamente. Gostaria de estar no mínimo feliz com tal acontecimento, mas por dentro eu estava dizendo palavras de baixo calão em extrema fúria.

O que diriam se soubessem que a noiva que elas tanto invejam está aterrorizada desejando um futuro diferente do que a espera?

Talvez, a ideia de Romeu me pareça satisfatória no momento. O veneno poderia acabar com meu sofrimento e me impedir de estragar completamente a magia do sentimento.

Sólida - O Princípio da Eternidade Where stories live. Discover now