TRINTA E TRÊS

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Na manhã seguinte sou despertada pelo meu celular que não parava de tocar ou por quem eu logo descobri ser, Chris Mitchell. Ainda com os olhos fechados, em uma tentativa patética de preservar o sono, alcanço o aparelho infernal do criado mudo.

Confesso que depois de tantos meses sem um tinha me esquecido que se não colocado no silencioso por tempo indefinido um celular poderia ser um incômodo.

- Alô! – Consigo grasnar quando na verdade queria gritar.

Quero dizer, esta última noite tinha sido uma daquelas raras em que eu sonhei apenas com coisas que uma pessoa normal sonharia. Sem visões, sem vozes, nem mesmo a Hela estava por aqui. E depois de tudo o que passei, isso sim era uma dádiva.

- Espere! Ela atendeu... – Ouço-a dizer, em seguida para mim em um tom de voz nada amigável. – Onde é que você está?

- Como assim onde eu estou? Em casa, onde mais estaria?

- Não sei, talvez na escola para fazer a prova que combinamos de fazer em dupla. – Ela diz, e eu sento na cama em um único movimento, meus olhos seguem automaticamente até as luzes do relógio digital.

Merda.

Merda.

Merda.

Quase oito horas.

Agora está explicado o motivo pelo qual não eu tive pesadelos, porque o pesadelo era a minha própria vida. E se ainda não fosse, agora seria, Noskov acabaria com ela, sem dúvida alguma.

- O professor está uma fera, disse que se você não aparecer vai te mandar para...

Não ouço o resto porque deixo o celular entre os lençóis, correndo até o banheiro como se o meu pescoço estivesse em jogo, porque quando se tratava do meu professor de literatura, ele realmente estava. Escovo os dentes com uma mão e com a outra enfio a bunda para dentro da primeira calça que encontrei na pilha de roupas para guardar.

Volto para o quarto, ainda posso ouvir a voz de Chris enfurecida. De joelhos no colchão estico o corpo para alcançar o celular.

- Daqui a pouco estarei aí. – É o que digo antes de desligar, sem esperar ela responder.

Desço as escadas depressa, ignorando o meu estômago que roncava sem parar. Alcanço as chaves do balcão e sigo para dentro do carro. Ajeito o espelho, enfio a chave na ignição e é só então que eu noto que algo está errado.

Olho para baixo.

Mais precisamente para a chave pela metade sobre a minha palma, ela estava literalmente pela metade e quando a minha mãe soubesse disso iria me matar, porém eu não tinha tempo para voltar para casa e procurar a outra metade para quem sabe desta forma encontrar uma explicação lógica do que aconteceu com a maldita chave se ainda ontem estava perfeitamente normal.

Pego a reserva no porta-luvas, fazendo uma anotação mental para me lembrar de levar o carro para o meu avô e pedir para ele ligar para aquele seu amigo chaveiro, porque talvez assim eu conseguisse esconder da minha mãe o que aconteceu. Afinal, o que os olhos não vem o coração não sente.

Meu cérebro demora um minuto ou dois para se recordar que Duncan não está mais ali onde sempre esteve, que agora eu tinha que resolver sozinha isso ou qualquer outra situação que surgisse.

Era de quebrar o coração vê-lo no St. Bárbara, só espero que o meu avô consiga alta um pouco antes do baile de fundação da cidade, porque não havia cidadão de Covey E. que ficava mais empolgado com essa festividade do que ele.

Durante o caminho penso que eu não poderia ser mais azarada do que já sou, me refiro a ganhar o carro de volta em um dia e no outro quebrar a chave, e justamente esse foi o meu erro, pensar nisso, porque as coisas tendem a piorar quando se é pessimista, quase como uma punição do próprio destino.

Desejo ProibidoWhere stories live. Discover now