Cap 19

26 3 1
                                    




O tic tac do relógio de parede do corredor do hospital parecia fazer questão de lembrar Sooyoung que dali a alguns minutos ela conheceria o próximo deles a ser perseguido pelo espírito. Mas dessa vez algo mais a preocupava.
Todos os componentes da turma das oito crianças amaldiçoadas já haviam sido perseguidos: exceto por ela e Sungjae. Essa era a causa do sentimento ruim que lhe afligia o peito. Sentimento este que ela conhecia, embora preferisse não ceder a ele.
E agora, diferente do que ela pensava, ela não estava feliz com a perspectiva de ver tudo aquilo acabar logo. Estava mais nervosa do que nunca, sem a certeza de que o medo por si própria era maior que o medo que sentia por Sungjae .
Enquanto servia-se de uma xícara de café sob o olhar de Momo e Heechul , então, decidiu que não olharia mais um segundo sequer para o relógio e tentaria não dar mais atenção ao tic tac irritante.
- Ele vai ficar bem... – disse Rose , aproximando-se de Sooyoung com um sorriso terno e colocando a mão em seu ombro amistosamente.
Sooyoung correu o olhar do próprio café para o rosto bonito da amiga. Ela não tinha tanta certeza, e sabia que Rose também não teria se pudesse enxergar aquele homem horrível como ela podia. Mas não podia culpar a amiga por simplesmente não carregar o fardo que lhe fora dado. Outrora, Rose também tinha sido forçada a ser a única a ver alguém de fato morrer diante de si.
E mais uma vez o coração de Sooyoung doía, agora pensando no irmão.
- Sooyoung – a atenção lhe fora chamada mais uma vez. – A gente vai salvar o Sungjae, eu prometo.
E então ela não foi mais capaz de segurar as lágrimas e, na forma de um abraço forte, desatou a chorar no ombro da amiga.
- Eu não sei qual seria a sensação de morrer, Rosie , eu tenho medo, muito medo – ela choramingou. – Mas eu sei qual seria a sensação de perder o Sungjae e eu não quero ter que sentir isso!
A morena apenas sussurrou palavras confortantes com a frustrante incerteza sobre o efeito delas sobre a amiga. Ela queria ajudá-la, mas sentia-se completamente impotente. E era horrível ver Sooyoung naquele estado.
Os olhos rasos em lágrimas da menina se levantaram para o rosto da amiga no momento em que ela afastou-se um pouco da outra.
- Rosie , o que aconteceu com o D.O e o Nanjoom foi horrível e mexeu demais comigo, mas... O meu irmão... Com o meu irmão foi horrível demais – as lágrimas continuavam a deslizarem incontidas pelo rosto da menina. – Eu sinto como se ele ainda estivesse por aqui, e saber que isso não é verdade é horrível – a cabeça meneou veemente. – Eu não posso perder mais alguém de quem eu gosto.
Rose riu com doçura.
- E você gosta muito do Sungjae , né?
Sooyoung olhou para baixo, envergonhada. Os lábios curvaram-se no que poderia vir a ser um sorriso.
- Mais do que eu gostaria.
Rose segurou as mãos de Sooyoung , e ela olhou nos olhos da menor.
- Então você ergue o rosto e toma coragem, porque a gente vai salvar o Sungjae , entendeu?
Ela sorriu. Suspirou. E disse:
- É, acho que você tem razão.
Ela olhou para Rose agradecida. O rosto da amiga não tinha uma cicatriz sequer. Nem a menor delas. Uma curiosa observação, visto tudo o que a garota havia passado poucos dias antes.
O sorriso dela aumentou ainda mais e se transformou em uma risada. A amiga continuou a sorrir.
E de um modo tão estranho que Sooyoung chamou seu nome. Mas os lábios da garota continuaram do mesmo modo, os olhos estáticos sem sequer piscarem.
A garota afastou-se, então, assustada, olhando ao redor. Momo e Heechul estavam parados da mesma forma, e também todas as outras pessoas ali.
Foi então que os olhos dela o encontraram.
Estava ali, parado no meio do corredor, pouco há mais de um metro dela. Ele sorria, dessa vez. Sorria com satisfação. E sarcasmo.
Ele virou-se e deu um passo para longe de Sooyoung . Uma sensação de terror subiu fervente pela sua garganta. Todo e qualquer vestígio de oxigênio deixou seus pulmões. Ele estava diante do quarto de Sungjae.
E suas mãos magras e decrépitas levantaram-se; o dedo indicador apontando para frente, acusador, sentenciando o garoto dentro do quarto a um destino horrível.
Só que o fogo que parecia queimar por dentro a alma de Sooyoung vazou cada vez mais para fora. Até chegar a sua pele, a sua respiração, e intensificá-la. E enfurecer cada um dos cinco sentidos da menina.
Ela nem sequer considerou todas as milhares de coisas que poderiam suceder daquela fração de segundo seguinte. Ela apenas rendeu-se aos instintos mais fortes da fúria que a tomou e avançou contra o velho. Superou a distância entre os dois em dois passos rápidos e pegou o braço do homem com força.
A pele era seca, áspera e fria como uma pedra de gelo. Apenas o toque denunciava a falta absoluta de vida.
E Sooyoung cerrou os dentes e disse:
- Eu estou cansada de você – o sorriso no rosto dele desapareceu como ele costumava fazer. – E eu vou acabar com você.
Ela sentiu o corpo dele responder com resistência. Ele tentou puxar a mão para si, mas seu braço continuou fortemente preso pelos dedos dela.
- Está me ouvindo? – ela gritou; o espírito foi capaz de sentir o ódio que ele mesmo havia provocado, mas nem sequer mudou a expressão vazia no rosto. – Eu-vou-acabar-com-você!
O movimento foi inesperado da parte dele.
Ela torceu seu braço para detrás do corpo e empurrou-o com força contra a parede. Ele bateu a cabeça e soltou um grito rouco.
Escorregou de costas até o chão e dissipou-se em vapor.
Sooyoung olhou para o alto e respirou fundo. A Terra parecia ter voltado a girar ao seu redor, e Momo, Heechul e Rose a olhavam assustados. Eles sabiam o que ela tinha acabado de ver.
Mas ela não voltou a chorar. Nem mesmo teve vontade.
Apenas olhou as próprias mãos, fascinada ao saber que podia tocá-lo. Surpresa ao descobrir a nova habilidade.
E pensando no que fazer com ela.
E com ele.

Dark summer Onde histórias criam vida. Descubra agora