26. Pequenas Recordações

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Era tarde da noite e o ponteiro do relógio indicava que já passava das duas. Sentado a beira da cama, refletia sobre o que deveria fazer a seguir enquanto olhava para o celular em minhas mãos.  A tela escura do aparelho refletia minha imagem ao qual, por um momento, quase não reconheci.

Minhas mãos tremiam em nervosismo misturado a fúria crescente em meu peito. Não havia conseguido nada de útil para seguir com o plano. Ele não havia cedido, logo não tinha nada convincente o suficiente para mandar ao Hoseok.

Sem que pudesse impedir, lembranças da festa invadiram minha mente. Ele parecia tão feliz em cima do palco como a muito tempo não via. Por um curto instante esqueci tudo o que havia acontecido nos últimos dias. Mas então, Hoseok subiu no palco com aquelas grandes mãos pegajosas.

Passei as mãos pelo rosto tentando esquecer tais pensamentos e manter-me sóbrio o suficiente para não tomar decisões precipitadas.

Mas a quem eu quero enganar? Nunca fui bom em lidar com as coisas de cabeça quente, e com certeza essa noite não será uma exceção.

Levanto caminhando até a cômoda próxima a única janela do quarto. Abro a última gaveta e apanho uma garrafa de whiskey escondida sob as roupas. Destampo-a e tomo um longo gole do líquido transparente que desce queimando pela minha garganta. Quase que automaticamente minha cabeça gira e um espasmo toma meu corpo.

Estava decidido, eu iria até lá. Se ele acha que pode ser tão presunçoso e fingir que nada aconteceu está completamente enganado. Ele não pode simplesmente fazer o que bem entende, destruir a merda da minha reputação e fingir que nada aconteceu.

Tomei mais alguns goles da bebida ardente e apanhei minhas coisas guiando meus pés até as escadas. Saí do meu quarto lentamente, certificando-se que todos estavam dormindo para que não houvesse empecilhos em minha saída.

Já havia feito isso várias vezes quando mais jovem. Nos tempos de escola, tarde da noite, quando Taehyung jogava pedras na minha janela me persuadindo a pular, mesmo eu dizendo que era muito mais fácil sair pela porta da frente.

Ri comigo mesmo de tais recordações.  Passávamos a noite toda jogando videogames no porão de sua casa, enquanto acabávamos com as garrafas de whiskey que roubava do meu pai. Mas então tudo mudou quando o pai de Taehyung resolveu se casar novamente.

Desci as escadas, degrau por degrau, fazendo o mínimo possível de barulho. Quando passei pelo último degrau tomei um susto ao ouvir vozes próximas, mas suspirei em alívio ao perceber que a televisão da sala encontrava-se ligada. Como de costume, deitado na poltrona do outro lado do cômodo, estava meu pai completamente apagado com uma garrafa vazia na mão.

Me senti enjoado com o cheiro puro de álcool e com a visão do homem a minha frente, que mal respirava, provavelmente bêbado demais para isso. Pelo menos ele não seria um problema agora.

Aproveitei a oportunidade e peguei as chaves do carro o mais rápido que pude, que encontravam-se ao lado da televisão, e segui em direção a garagem.

Lembro do dia em que fui até a casa de Taehyung em busca dos meus jogos que havia esquecido na última vez que tivemos uma de nossas noites de videogames, no entanto, me deparei com um Tae irritado e completamente chateado.

O que aconteceu é que depois do casamento a senhora Park e seu filho foram morar em sua casa, e por isso ele teria que dividir o quarto com seu mais novo irmão. Ele não havia gosta muito da ideia de ter que compartilhar suas coisas.

Ligue o carro pronto para sair. Mas as minhas mãos continuavam tremendo, me dizendo como aquilo era uma péssima ideia. Respirei fundo passando a mão pelos cabelos.

_Calma cara, você vai lá, liga o gravador, pega as provas que precisa e volta pra casa. – argumentei comigo mesmo tentando trazer coragem para continuar.

Pensei por instantes se isso era realmente a coisa certa a se fazer. Afinal, o que eu diria quando chegasse lá? Merda, talvez a quantidade de álcool que ingeri não seja o bastante para encará-lo novamente.

Me recordo de meus pais estarem sempre brigando durante toda a minha infância, não que isso tenha mudado, e em muitas dessas ocasiões eu era mandado para ficar na casa de Kim Seokjin, um amigo da família. Passei uma grande parte de meus dias naquela casa. Era meu refúgio, onde encontrei uma familia.

Aos 9 anos, em um dos finais de semana em que passei com Tae, conheci Jimin. O senhor Kim namorava uma moça a algum tempo, ao qual via sempre que ia em sua casa, o que eu não sabia é que ela tinha um filho. sinceramente, no começo não fui com a cara dele. Isso porque ele e Taehyung se tornaram próximos muito rapidamente.

Faltavam apenas alguns quarteirões para chegar à residência dos Kim, e eu buscava em mim a determinação necessária para acabar com tudo isso de uma vez. Eu queria o fim desse relacionamento estúpido ao qual ele se meteu. Aquele idiota destruiu nossa amizade e me afastou de meu amigos, então eu devolveria na mesma moeda.

Apertei o volante o máximo que pude, tornando as pontas dos dedos branca. Estava com tanta raiva que meu sangue fervia em minhas veias. Mas ainda sim, no fundo meu coração gritava para que eu voltasse atrás. A confusão misturada ao álcool embrulhou meu estômago e por um momento pensei que fosse vomitar.

Virei o volante em uma curva fechada, entrando em uma rua conhecida por mim e parei em frente a casa da família Kim.

Taehyung sempre foi como um irmão mais velho para mim e talvez a única pessoa que eu podia contar. Então, quando Jimin chegou senti que estava perdendo meu lugar.

Com o passar do tempo acabei me acostumando com sua presença, e inevitavelmente me aproximei cada vez mais de dele. Jimin era tão diferente de mim e Tae que a principio estranhei sua natureza quieta e gentil. Não demorou muito para eu conhecer seu lado falante, o que tornava sempre muito fácil conversar com ele. E quando as coisas ficavam difíceis demais para suportar, era ele a quem eu recorria.

Já se passaram 20 minutos desde que encostei o carro em frente a sua casa, contudo, agora que finalmente cheguei até aqui não consigo me mexer. As palmas das minhas mãos se veem molhadas de suor e por uns instantes me pergunto o que estou fazendo.

Faz algum tempo que não venho a  esse lugar. O muro branco que costumávamos pular quando menores; o gramado verde e o pequeno jardim de flores perto das janelas, aquelas mesmas que Jin Hyung cuidava com tanta dedicação, tudo me trazia lembranças. Depois daquela noite nunca mais voltei aqui. Não sei se é por raiva ou apenas arrependimento, tudo que sei é que não estou preparado para encarar tudo isso de novo.

No tempo em que olho para o jardim, recordando dos momentos que vivi, escuto o toque familiar do celular. Apanho o aparelho, que se encontrava no banco do passageiro, e o desbloqueio apenas para me deparar com uma notificação do Instagram indicando que hoseok_sol postou uma nova foto. Mesmo sabendo que iria me arrepender abro a publicação.

Meu coração dispara e minhas mãos tremem em desgosto a imagem em frente aos meus olhos. A cena de Hoseok e Jimin se beijando em frente ao pôr do sol, acompanhado com a frase brega de "obrigado por estar na minha vida " não poderia me deixar mais enjoado. Meu corpo todo ferve em pura raiva e rancor. Essa era a deixa que eu precisava para terminar o que comecei.

—Filho da puta

O melhor amigo do meu meio irmão || Jikook || ChatWhere stories live. Discover now