Capítulos 12 e 13

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Capítulo 12

Patriarca. Era como o chamavam. Inclusive os mais velhos. De qualquer forma, era de longe o que tinha mais verões. Apesar de a idade ultrapassar os 90 anos, ainda era suficientemente ágil, tanto com as pernas quanto com as palavras.

— O que acharam da nossa humilde residência? – Perguntou.

— Não muito boa para os claustrofóbicos. – Ed disse em tom irônico.

— É verdade. – Riu. – Bem. Vocês devem ter algumas perguntas. Vou adiantar algumas respostas. Descobrir quem vocês eram não foi difícil. Temos bots em níveis baixos na rede da Central. Nunca tentamos nada para não entregar nossa posição. Apenas capturamos mensagens e fragmentos. Agora, parece-me que você fechou mais algumas portas, Edwardo. – piscou para o rapaz – Bem. Assim que vocês invadiram a Central nós percebemos imediatamente. Não sabíamos quem fora, nem se conseguiriam fugir. Havia muitas maneiras de vocês serem identificados. Mas concordo que o empenho do comando foi enorme para apenas uma invasão. Um crime relativamente pequeno, dependendo do nível. Então pensamos: ou ele acessou algo muito grande ou então existe mais alguma coisa que nos escapou.

Edwardo pensou na imprudência em invadir a Central. Não previra os meios mais avançados para rastreá-lo. Nunca pensara tanto naquilo, mas agora constatara: “Somos vigiados durante toda a nossa vida. Não há privacidade.”. Conseguia um pouco dela graças aos pontos cegos que colecionava, como aquele telhado em frente à baía. Mas bastava entrar no metrô e já estava novamente sob observação.

— De qualquer forma, pelo tipo de alvoroço que foi causado na Central, estava claro que vocês tentariam fugir da cidade. A mobilização intensa de drones sugeria que o Comando e a Central não se contentariam com uma simples detenção e não há lugar melhor para se fugir deles do que a cidade abandonada. 30 minutos depois vocês estavam identificados e com a última localização divulgada. Verificamos. Havia uma chance remota de vocês acharem a porta de serviço da estação auxiliar de Botafogo. Sinceramente não acreditava muito nisso. Mas Celeste estava em campo. Pedi para que ficasse de olho na nossa câmera da estação auxiliar de Cascadura. Qual não foi a surpresa quando a luz verde acendeu no painel, avisando a chegada de um trem. Mandei Celeste imediatamente para lá. Foi quando ela os encontrou.

— E se não tivesse nos encontrado estaríamos mortos – Jan disse, soando agradecido.

— Possivelmente. Mas me diga Edwardo: Como você invadiu a Central? Decerto que houve um plano inusitado.

Eles já haviam salvado sua vida. Poderiam matá-los a qualquer hora se quisessem. Não viu motivos para esconder nada. Talvez até conseguisse mais informações. Contou o seu plano e o de Jan, a fuga, a troca de roupas, tudo.

— Impressionante. Na verdade me surpreendo de ainda terem encontrado terminais físicos na cidade. Existem muito poucos que estejam disponíveis fora dos Institutos e das Escolas Superiores. Provavelmente o fato do simulador ser tão antigo e os terminais pouquíssimo usados contribuiu para que passassem despercebidos. Nós mesmos nos conectamos através de um terminal que fica do outro lado do limite, em uma escola integral. Conseguimos escondê-lo em uma salinha lacrada há 20 anos e lançamos um cabeamento físico de pouca extensão. Chega somente ao nosso lado do limite, onde temos um terminal ligado. De lá poderíamos enviar o sinal para cá. Mas é um ponto de acesso perigoso. Se caísse nas mãos da Central poderia entregar este local antes que pudéssemos tomar qualquer providência. A Central “nunca” poderia descobrir este local. Por isso mantemos alguém lá permanentemente. Qualquer anomalia que nossos bots detectem no nível de serviço da Central, o sentinela nos alerta por nossa própria rede.

O patriarca pareceu refletir. Dera uma certa ênfase à palavra “nunca”. “Talvez isso o perturbasse mais do que qualquer coisa”, pensou Ed.

Condão (Lista Internacional)Where stories live. Discover now