Capítulo I

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O céu se mostrava contente quando eu entrei no carro. Era o meu momento favorito no dia ao ver os encontros de luzes alaranjadas e rosas declarando o momento crepuscular. Eu conseguia ver do banco do passageiro os postes e sinais sendo deixados para trás, assim como as pessoas que perambulavam pelas ruas saindo do foco conforme o carro se afastava da cidade. Um vento forte içou os meus cabelos.

Sorri para o garoto que dirigia e me encontrei suspirando em alívio. O nome dele é Cato, meu companheiro para todas as coisas, meu melhor amigo para todas as ocasiões, inclusive essa – definitivamente uma das melhores em tantos meses. Cato, eu e mais alguns bons amigos resolvemos que diante do stress da faculdade e dos conflitos juvenis daqueles que acabaram de entrar na década dos vinte, uma pausa da vida urbana seria um ótimo começo para as férias de verão.

O sol esses dias tem sido atraente demais, o suficiente para nos convencer a alugar uma casa em uma cidade pequena e litorânea a uns 70 km da capital. Uma vez eu tinha passado rapidamente pela região, posso dizer que ficara sem ar e ansiosa para voltar com mais calma. Sendo bem sincera, eu nunca fui muito de sair por Aracaju ou arredores, mas São Caetano sempre me pareceu uma ótima opção. É um daqueles lugares que todo mundo sabe que existe e é bonito, mas é longe demais (para uma capital tão pequena quanto a nossa). A praia não entope de gente, as ruas de pedras são calmas iluminadas por postes coloniais, os casarios dão um aconchego ótico com tanta cor e azulejo português, os bares escorrem músicas regionais te fazendo fugir severamente da realidade melancólica e pesada da capital.

O lugar todo transmite uma energia boa e foi por isso que Cato resolveu me levar junto. Ele sabe o quanto eu queria voltar para conhecer mais um pouco. Essa viagem na verdade foi organizada em sua maior parte pelos amigos de faculdade dele: Alice e Ricardo, que estavam no carro à nossa frente liderando o caminho. A garota eu já tinha conhecido algumas vezes em bares e festas em que tínhamos amigos em comum, mas nunca fui de muita conversa; eu nem sabia que ela era tão amiga assim de Cato. Já Ricardo, seu namorado, nunca vi o cara. Não deu tempo de tirar conclusões sobre o casal, mas acho que cinco dias serão o suficiente.

Uma rajada de vento atravessou o automóvel, meus pelos do braço se arrepiaram. Pela janela o mar já era perceptível. Abraço minha péssima escolha de blusa – uma camiseta de cetim verde; eu a vesti pensando que chegaríamos em pleno sol das três da tarde, o que não aconteceu já que o senhor moço bonitão me fez esperá-lo por três horas a mais do que o combinado. 

"Iva" chamou-me e continuou. "Péssima escolha de roupa para começo de noite" ele caçoou. Eu o fuzilei com meus olhos. Cato soltou uma risada rouca.

"Muito engraçado, bastante engraçado. Daqui em diante eu vou parar de ser pontual contigo, Cato Rodrigues." Anunciei meu primeiro drama da noite enquanto beliscava seu braço. Cato fez uma falsa cara de dor e estacionou rapidamente o carro.

Percebo surpresa que estamos na frente da casa de praia. Embasbaquei com a estrutura do lugar.

"Eu não acredito que alugamos essa casa por aquele preço..." eu pensei alto.

Atrás dos cercados de madeira, uma grama baixa reveste os primeiros metros até a casa, eu fiquei encantada com o número de heliconias e dracenas que adornam o jardim. Os muros de pedras que separam os vizinhos harmonizavam com as cores quentes da casa. A varanda era impecável; montada em madeira rústica e decorada com cadeiras de vime. Eu estava apaixonada. As portas eram basicamente de esquadrias transparente, assim como todo o segundo andar. Era possível ver, mesmo de longe, o quarto totalmente branco e alguns móveis de parede – isso porque as cortinas estavam semiabertas. Privacidade não foi exatamente um quesito no projeto dessa casa. Por outro do lado é um lugar de veraneio, as pessoas querem relaxar e se importar menos.

O que Eu Gostaria de Dizer Antes do FimWhere stories live. Discover now