Capítulo III

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Quando eu voltei para a casa, Alice não estava muito contente comigo. É compreensível, já que eu a deixei andar bastante e com todas aquelas sacolas de compras na mão. De qualquer forma, eu troquei de roupa e desci para fazer a minha parte na cozinha. Basicamente éramos eu e ela fazendo todos os acompanhamentos para sei lá quantas pessoas que irão aparecer na piscina.

Mesmo com tanta coisa, quando Alice ficou um pouco mais arisca enquanto eu tentava fazer o vinagrete do jeito dela, eu perguntei se ela não queria deixar comigo e ir descansar um pouco. Ela me agradeceu com o olhar e subiu largando o pano de prato em cima do sofá. Respirei fundo e mapeei o que eu iria fazer para ter tudo pronto antes das duas da tarde. Enquanto isso, eu escutava os meninos na área da piscina montando a churrasqueira e conversando alto sobre ir ou não à praia depois daqui. A voz de Cato se sobressaía acima de qualquer uma, porque ele só sabia falar gritando quando começa a tomar as primeiras latinhas de cerveja.

Não foi muito difícil manter a minha mente ocupada enquanto isso; por mais que eu estivesse tentando separar as verduras por cores e cortar em pedaços bem finos, minha concentração estava em outro lugar. Agora que tudo passou, eu estou me sentindo bastante envergonhada. Parece muito que eu sou uma pessoa fácil de ser lida – existe tanta dor em meus olhos que as pessoas simplesmente sabem. Como eu encarar um instrumento por tanto levou João a entender exatamente o que eu sentia?

Mas era o tipo de empatia e grau de compreensão que eu não achava em qualquer pessoa. A minha raiva – angústia – é que ele estava certo o tempo todo. Eu sou uma covarde, não é algo que eu falo para todos que aparecem na minha porta, mas nunca neguei quando perguntado. Eu era uma bela de uma covarde. Não só porque eu sei o que eu quero para mim, mas não vou atrás amarrada nos medos do passado e do presente. Da mesma forma como também não consigo falar o que eu realmente sinto pela pessoa que estava entrando na cozinha naquele exato momento.

Cato sorriu bebericando sua cerveja.

Ele estava estonteante. Seu cabelo molhado e o rosto um pouco ruborizado entregava que tinha acabado de sair de um banho quente. Eu não sabia lidar com o jeito que ele me olhava às vezes. Parecia que estava feliz em me ver, mas também parecia... Bom, aquilo era impossível.

"Oi" disse ele.

Cato encostou-se no balcão e acompanhando minhas mãos enquanto eu misturava os temperos dentro do vinagrete. Ele me deu um beijo no rosto e bagunçou um pouco meu cabelo. Parecia bem feliz, do tipo inquieto.

"Oi, você parece ótimo"

"Bem, não posso dizer o mesmo de você. Parece exausta"

Muito obrigada, minha pouca autoestima agradece, respondi na minha cabeça.

"Um pouco"

"Alice me contou que você parou em um bar aberto no meio do caminho. Voltou a beber?"

"Não" respondi rápido demais.

"Hum. Por um momento eu pensei que estivesse sendo demais a gente dormir na mesma cama" disse ele sorrindo.

A faca deslizou por cima do meu dedo. Pulei para trás. Eu olhei para Cato com raiva. Ele tinha que parar de me pegar desprevenida com esses comentários desnecessários urgentemente.

Cato correu para tentar me ajudar, mas eu o empurrei porque ele estava rindo da minha infelicidade.

"Não tem graça"

Eu ponho minha mão sob a água corrente e espero a dorzinha passar.

"Você se desestabiliza muito rápido, Iva. Desculpa, não foi a minha intenção."

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⏰ Last updated: May 29, 2020 ⏰

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