Neun

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Junho de 2020

Catherine estava prestes a iniciar a gravação do álbum, finalmente tinha todas as faixas escritas e tudo bem definido para ambos os lançamentos: o álbum e o EP. E assim que voltasse das férias com Holger, iniciaria o trabalho a todo vapor. Ela nem queria viajar, já queria começar as gravações, mas a ideia veio de Layla e Kelly, que fizeram questão que ela se desse um tempo e se preparasse de corpo e alma para voltar ao trabalho totalmente.

Estava acompanhada de Holger e os dois estavam em Kuito, na Província de Bié, na Angola, fazendo um trabalho voluntário desprovido de qualquer conotação religiosa ou midiática, eram apenas os dois e um grande grupo de voluntários da UNICEF e dos Médicos Sem Fronteiras – Catherine apenas aceitou participar do mutirão sob a condição de que ninguém ficaria sabendo que ela estava por lá, queria apenas fazer o trabalho voluntário e usar de seu dinheiro para ajudar na construção de duas escolas, uma clínica/hospital, algumas casas e tentar ajudar na captura e canalização de água potável.

Ela estava animada com toda aquela situação, por poder usar seu dinheiro para ajudar pessoas mais necessitadas, além disso, vinha passando tempo de qualidade com seu namorado e conhecendo pessoas boas e até aprendendo muita coisa em português, porque as crianças falavam com ela o tempo todo e as palavras em um portunhol precário eram repetidas por Holger.

E depois de vinte dias, a escola estava de pé, a clínica estava pronta e esperando apenas os equipamentos e a equipe médica chegar, outras cinco casas estavam prontas, além de uma análise de canalização e distribuição de água para a província estava sendo elaborada e já estava acordado que o restante do grupo ficaria para terminar a construção das outras casas que precisavam ser feitas.

Estavam os dois mais fortes e mais bronzeados dadas as horas de trabalho braçal no sol, mas estavam muito felizes.

Holger sentia-se realizado de uma forma que não imaginava que fosse se sentir em toda sua vida; tinha passado seus dias ajudando a construir coisas e ele nem imaginava ter esse talento, nunca tinha imaginado que seria capaz de construir uma casa do chão ao teto, tampouco que conseguiria ter força para fazer tudo isso e ainda brincar com algumas das crianças da província.

Catherine estava da mesma forma. Tinha ajudado na construção, doado muitos alimentos e passava muitas horas brincando com as crianças, ouvia histórias e tinha sido muito bem tratada por todos, sentia-se orgulhosa de si mesma por ter conseguido sair da própria zona de conforto e ido encarar um país totalmente desconhecido e que fala outro idioma, na incerteza de ser bem recebida ou não, num local onde ninguém a conhecia, não faziam ideia que se tratava de uma estrela pop mundial acompanhada de seu namorado jogador, ex-integrante da seleção alemã. Ali ela era apenas tia Cat e ele era o tio Holgi.

E pros dois aquilo era infinitamente melhor do que qualquer conhecimento midiático.

- Jamais achei que eu diria que não quero férias e descanso, mas que quero continuar aqui até chegar o dia em que seremos obrigados a voltar pra casa. – Holger falou, abraçando Catherine quando já estavam deitados prestes a dormir.

- Somos dois. – Catherine soltou uma risadinha. – Foram ótimos dias, acho que além da mudança física externa perceptível, estamos diferentes por dentro também.

- Não tenho a menor dúvida, Cat. Acho que isso vai ser ótimo pra gente daqui em diante.

- Queria poder fazer mais... acho que vou usar uma porcentagem das vendas pra ajudar na canalização de água e na construção de mais casas, além de doar uma parte ao Médicos Sem Fronteiras.

- Você é uma pessoa maravilhosa. – Holger deu nela um beijo demorado no rosto.

- Mas eu sinto muita vontade de chorar só de pensar em como nós temos um privilégio enorme de ter dinheiro e condições de viver de uma forma mais cômoda que a maior parte da população do mundo... o que eu ganhei de arrecadação do último álbum, sem contar a turnê e as campanhas, provavelmente alimentaria toda essa província por um ano ou até mais! É triste pensar nisso.

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