Capítulo 3

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   O quarto do meu vizinho iria ser cegamente branco. Desde a cama , aos lençóis , a cortina e até o guarda roupa.  Se eu fosse passar um tempo longe de casa meus pais davam graças a Deus e se eu voltasse não me receberiam com nada novo , no mínimo mesmo um abraço e uns travesseiros para dormir no sofá .

 

  Quando arrumamos tudo eu fui para o meu quarto deitar e eu amei o fato de que pude dormir em paz . Ouvi a voz de meu pai enquanto pareciam preparar algo . Me perguntava se era necessário que eu fosse ajudar meus pais , mas  a resposta era clara e óbvia . Não . Eu estava cansada e tentava me manter lúcida psicologicamente para aceitar que tudo que estava no quarto havia sido jogado fora . Eu ouvi o caminhão do lixo passar e levar tudo .

  Era uma acumuladora de coisas desnecessárias . Lembranças bobas como a flor que ganhei de um pivete que eu nem conhecia , mas ele me deu então era algo importante. Ou a foto em que eu aparecia de relance , mas era do pré e eu gostava de lembrar de quando eu não tinha que me preocupar em tirar a carne do freezer ou do contrário ficaria sem mesada . Havia meu patins que eu sequer consegui andar e meu patinete . Ah ... Boas lembranças . Quebrei meu braço e foquei três meses sem ir para a escola . Era meu quartinho de lembranças boas , e agora era só um espaço todo branco. Na primeira oportunidade vou deixar minha mão toda suja como marca de minha passagem .

   Me sento na cama assim que meu sono havia passado . Eram dez da manhã e eu continuaria dormindo se o barulho lá em baixo não fosse realmente alto . Minha mãe e meu pai quando estavam juntos eram barulhentos demais e pelo visto o pirralho do Jake estava aí também .

   —  Solara ! - ouço meu nome e levo um pequeno susto com as batidas .

   —  Quer derrubar a porta fala mãe! - piso no chão bocejando , abrindo a porta logo depois .

Ela iria entrar mas assim que se depara comigo sua feição muda para uma careta . Me pergunto se estava tão péssima e eu preferia nem me ver no espelho .

   —  Vamos , Pedro já chegou . - ela me puxa pelas mãos e eu ergo as sombrancelhas.

Suas mãos me soltam e eu arrumo meu cabelo seguindo a mesma confusa .

   —  Seja simpática , seja amiga dele. Ele é quieto , mas vocês vão se dar bem! - ela diz como se fosse óbvio .

  Reviro os olhos descendo as escadas largada.  Pra que me arrumar ? Iríamos nos ver todos os dias certo ? Ele iria ver como eu era horrível quando acordava e que eu odeio passar maquiagem . Teria que lidar com meus ataques  querendo ou não  . Era mais fácil eu ser quem eu sou agora do que ter que ficar fingindo alguma coisa . 
  
    Bom , acho que esse argumento foi bom . Acho que mentir pra mim mesma dessa forma está valendo .

  Balanço a cabeça dando um leve tapinha na mesma e entro na sala , observando meu pai que estava sentado e logo se levantou . O rapaz no qual minha mãe falou se virou de forma rápida e me encara firme .  Eu não sabia se estava transparente demais agora , pois eu sentia que estava . Tentei agir de forma normal e sorri sem graça . Como eu odiava o meu argumento de agora a pouco . Ele sorri fraco e entende a mão , me fazendo apertar de leve .

   —  Essa é Solara . Te falei dela ! - minha mãe segura meus ombros e eu olho para a mesma querendo saber qual parte na qual ela mais odeia em mim , a velha saiu espalhando . - Vocês vão estudar na mesma escola . Não consegui colocar vocês em todas as aulas , mas quase todas vocês vão se ver!

  
Ele apenas confirma com a cabeça abrindo um sorriso maior e eu quase surto . Misericórdia. Estar de pantufas e pijama de vó , na frente dele foi de perto , a coisa mais vergonhosa na qual eu já fiz .

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