You are gay!

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Às 5:30 da tarde, eu já estava sentado no sofá da sala da minha casa. Cansado porque tinha acabado de chegar de uma cafeteria na qual eu fui depois da escola com a minha mãe e o Tyler, como ela havia prometido hoje mais cedo. Apesar de termos demorado apenas uns 15 minutos tomando café e conversando, foi legal. Eu gosto desses momentos pequenos em família. Ah, e o Tyler derrubou o café com chocolate dele no chão e ainda quebrou a xícara. Deu trabalho para garçonete limpar.

Acho que agora ele está no quarto dele dormindo, é o que a minha mãe faz com ele quando nós chegamos da escola todos os dias: colocar ele para dormir.

Sinto saudade da minha escola antiga. Lá eu tinha amigos. Pelo menos aqui eu tenho a Gabi, que eu conheci hoje e já considero bastante. Falando nela...

Anthony? Aqui é a Gabi.

Eu peguei meu celular, li a mensagem pela barra de notificações e respondi sem mandar nada além do meu endereço. Logo recebi sua resposta:

Já estou indo.

Ótimo, esqueci de avisar a minha mãe. Então, me levantei do sofá e fui até o quarto da minha mãe onde a mesma estava assistindo série e mexendo no notebook, acho que é alguma coisa do trabalho dela.

- Mãe, uma amiga vem vindo aqui em casa - anuncio.

- Sério? Fez uma amiga? - pergunta ela, formando um sorriso enorme no rosto como se isso fosse uma conquista super difícil. Mas na verdade, era mesmo.

- Sim. O nome dela é Gabi.

- Que bom, filho! Fico feliz. - Ela volta a olhar a tela do computador depois de ajeitar os óculos em seu rosto.

- E... mais tarde eu vou sair com outro amigo.

Eu não mencionei, mas logo depois que cheguei na cafeteria, Mike me mandou mensagem sugerindo ir a um lugar chamado Pop's. Eu não fazia a mínima ideia do que seja o lugar, mas provavelmente deve ser alguma sorveteria ou algo do tipo. Eu ainda preferia a opção de ir ao Parque Municipal, já que só tem árvores e um lago grande... e nem tem muito movimento por lá. Mas ok, só de ele ter me chamado pra sair, já era o suficiente.

- Nossa, mas esse primeiro dia de aula foi um sucesso, não?

- Foi... acho que você estava certa. - Lancei um sorriso fraco e forçado.

- É... que bom.

Eu saí do quarto dela e logo ouvi a campainha tocar, então fui direto para a porta e abri.

- Que casa linda, Anthony!

- Oi Gabi. Pode entrar.

- Nossa que desânimo é esse? - ela me questiona e vai entrando na sala.

-Sei lá... só estou meio cansado. - Eu fecho a porta e vou caminhando com ela até o meu quarto. Ao chegarmos ela se joga na minha cama e observa as paredes.

O meu quarto tinha paredes brancas com algumas estantes pequenas e cheias de livros (a maioria deles eram do Stephen King). Haviam também pôsteres dos meus artistas favoritos: Twenty One Pilots, Billie Eilish, Slipknot, Sia, Marshmello, e Yungblud.
Quantos ídolos, não? E isso tudo deu trabalho pra arrumar depois da mudança.

- Você gosta de Yungblud? - Ela questiona duvidosa.

- Gosto. Ah... e eu também sei tocar guitarra, mas faz tempo que não toco - eu disse, me sentando no meu Puff e ficando de frente pra ela.

-Não parece. Você é muito... certinho, pra não te chamar de gay de novo.

Eu rio de leve.

- Você ainda acha mesmo que eu sou gay?

- Eu tenho certeza. Meu gaydar nunca falhou, por que ele falharia agora?

- Ah pronto! Por acaso você...

- Anthony ta bom, cala a boca um pouco. Me conta sobre você. - Ela me interrompe.

A conversa foi ficando boa depois que começamos a conversar sobre coisas aleatórias, como: quais filmes fomos no cinema assistir no último ano, qual refrigerante é o favorito de cada um, técnicas de como roubar doces em festas infantis sem que ninguém perceba e etc.

Rimos muito, até a minha mãe apareceu e deu oi pra Gabi. Acho que ela percebeu o quão feliz eu estava.

- Tenho uma coisa para te contar - eu disse para a Gabi assim que minha mãe saiu do quarto e fechou a porta.

- Conta. - Gabi olhava para suas próprias unhas, provavelmente pensando em qual cor ela pintaria da próxima vez.

- Um garoto da escola me chamou pra sair.

- Que garoto? Como assim te chamou pra sair? É um encontro? - Ela parou imediatamente de olhar suas unhas e começou a me encarar com curiosidade.

- Bom... o nome dele é Mike, ele joga basquete e...

- Ele é bonito? - Ela sorriu.

- Que?! Não sei... quer dizer... ele não é feio, mas isso não importa. Não é um encontro.

- Mas pode ser. Vai que ele gostou de você - ela disse, dando de ombros. - Você devia ser mais esperto.

- Eu nem acho que ele seja gay, e nem eu sou, ou seja, somos só amigos que vamos sair pra conversar. Igual eu e você.

- Eu duvido muito. Mas ok, me mostra uma foto dele aí.

Então eu fiz o que ela pediu e mostrei a foto de perfil dele no aplicativo de mensagens.

- Uau! Ele é lindo demais! Se eu fosse hétero...

- Você é lésbica?

- E você achou que eu fosse hétero? Meu deus, que insulto! - ela disse revoltada.

Eu ri.

- Ta bom, desculpa aí.

- Ta, ta, não foi nada. Mas enfim, ele é lindo demais. Aproveita esse encontro. - Ela fez sinal de aspas com os dedos ao dizer encontro e eu reviro os olhos.

- Eu-não-sou-gay! - disse pausadamente e ela me olhou com cara de deboche.

De repente, a porta do meu quarto se abre e meu irmão aparece.

- O que é gay? - pergunta Tyler.

- Ah, oi garotinho - Gabi diz ao olhar Tyler. - O seu irmão é gay, só isso.

- Gabi! - rosnei.

- Estou mentindo? - Ela provoca.

- Está! - Logo depois de dizer isso, olho para Tyler e falo:

- Não é nada, a Gabi está brincando... e não comenta nada disso com a mamãe e muito menos com o papai, tá bom?

O pequeno afirma.

- Agora vai pra fora vai... eu tô conversando.

- Mas eu só... - o garotinho insiste.

- Sai daqui Tyler! - repito.

- Não fala com o seu irmão como se ele fosse um cachorro! - protesta Gabi. - Vem aqui Tyler. - Ela senta o menino no colo dela.

- Eu só pedi pra ele sair!

- Mas foi grosseiro. Tyler, fala pro seu irmão calar a boca.

- Cala a boca - ele diz fazendo cara de bravo, o que a Gabi achou fofo demais.

- Aaaaaw, que bonitinho! Isso mesmo, aprende com a titia. - Ela aperta as bochechas dele.

- Você é má influência. Até pra mim.

- Eu? Eu sou um anjo na sua vida!

Nós dois rimos. Para falar a verdade, eu concordo com ela, até porque se ela não estivesse ali comigo, naquele momento, provavelmente eu estaria sem nada pra fazer, sem ninguém pra conversar e... sei lá, sozinho.

Depois de conversarmos durante mais um tempo, a Gabi se despediu e foi embora. Eu a acompanhei até a porta e acenei para a pessoa que imagino ser a mãe dela que estava dentro do carro.

Agora era hora de me arrumar para sair com o Mike.

Light in Dark.Donde viven las historias. Descúbrelo ahora