10- Biscoito da sorte

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By: Priscila Pugliese

Uma semana depois.

A minha vida estava vazia nos últimos dias, trabalhar era um sacrifício, não conseguia raciocinar direito até minha escrita estava horrível e isso estava me prejudicando muito. Rodrigo e eu pegamos uma intimidade maior depois do ocorrido, tínhamos algo em comum, a preocupação com Natalie. Meu supervisor estava bem na minha sala, no jornal, conferindo a matéria que havia acabado de tentar escrever, ele estava sentado ao meu lado com os olhos atentos no computador.

Aurélio: Priscila, sinceramente, nunca vi você escrever tão mal. Você é uma das melhores colunistas daqui, o que está acontecendo?

Priscila: eu sinto muito. São problemas pessoais. Eu vou tentar reescrever, combinado? – tentei mostrar ânimo, mas foi em vão.

Aurélio: Isso está ocorrendo há alguns dias, mas sua escrita de hoje superou. Veja bem, estamos em ambiente de trabalho, mas não tente fingir que está tudo bem contigo, quando todos veem em você que não está. Me conte o que te aflige.

Priscila: é uma pessoa muito importante para mim. A advogada que sofreu aquele sequestro, a amiga de Rodrigo. – ele fez sinal para que eu continuasse. – bem, ela ainda está em coma e isso me perturba a cada dia, não tenho dormido bem.

Aurélio: sua namorada?

Priscila: não. Não, porque não deu tempo para isso. Mas eu gosto dela, de verdade e não vou sossegar até vê-la bem.

Aurélio: a vida é cheia de surpresas, né? Mas veja bem, as coisas acontecem por algum motivo, e eu espero realmente que ela fique bem. Bem, vou fazer uma coisa por você. Tire esse dia livre, tente respirar um pouco o dia está lindo lá fora. Precisamos de você com essa cabecinha aí pronta para se expressar diante dos fatos aqui no jornal. Então, aproveite esse dia para tentar se recuperar desse peso, nem que seja um pouco.

Eu não estava bem para trabalhar mesmo como também não estava em dias anteriores, resolvi sair para pensar um pouco sobre as coisas que acontecem em nossas vidas, é louco como de forma sorrateira eu deixei que alguém tomasse conta dos meus pensamentos tão fácil. Natalie apareceu em minha vida e transformou tudo que eu pensava e sentia.

Eu sai do meu trabalho e fui até a praia, fazia um bom tempo que não fazia isso, não queria ir para casa, queria pelo menos encontrar na brisa do mar batendo em mim algo melhor para sentir que apenas dor. Procurei um local para estacionar meu carro e segui andando pela extensão de areia da praia, fiquei descalça e dobrei a minha calça jeans até o tornozelo, as pessoas deveriam achar estranho uma pessoa tão vestida na praia àquela hora. No dia do ocorrido acidente, Natalie e eu claramente nos encontraríamos, só não foi me buscar no aeroporto, pois ocorreria a então audiência que causou todo o estrago em sua vida. Eu fico me perguntando se ela voltasse do seu coma como seria a nossa relação, será que a causaria espanto toda minha preocupação? Minha vontade é tamanha dela voltar e não sair mais do seu lado, mas e ela, iria querer o mesmo? 

Alguns minutos andando na praia parei para comprar uma água de coco em um quiosque, a água estava bem gelada, perfeita para aquele tempo quente. Sentei no banco do estabelecimento e me virei em direção à praia para aproveitar e observar o movimento, o vento fresco batia em contra de mim fazendo meu cabelo se embaraçar em meu rosto. Quando estava no final da minha refrescante água de coco uma senhora, aparentemente vendedora de alguma coisa, estava com alguns pacotes em uma bandeja e veio em minha direção.

XXX: boa tarde, minha querida! Tenho uma coisa especial para você, são biscoito da sorte, não desacredite eles são reais. – ela me entregou um de seus biscoitos em minha mão e não me disse nada se afastou de mim indo ao outro lado do quiosque em que eu estava.

MINHA PEQUENAWhere stories live. Discover now