Capítulo 34 - Viktor

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Eu tinha todos os motivos do mundo para me sentir bem, afinal, eu não tinha mais que me preocupar com quem mais exigia minha atenção naqueles meses. Ele havia dado um encerramento nas coisas, e foi bem claro quando pediu para que eu o esquecesse. E por que não deveria? Tudo o que me trouxe foi nada mais que confusão, além da dor dos traumas passados. Chegava a ser uma benção, inclusive, não precisar se importar tanto com alguém.

Mas, se eu fosse completamente honesto, eu sentia como se estivesse faltando algo.

Eu não gostava da sensação, obviamente. Pensar em incompletude me lembrava dele, e lembrar dele era um saco. Por isso, eu tentava ao máximo me ocupar.

Eu passava meus dias entre tentar reconquistar o bom humor de Leona e relaxar no banco de carona de Lukas, e as coisas não estavam exatamente ruins em nenhum quesito.

Mas havia coisas que eu não gostava nele.

Primeiro, ele era o rei da moderação, sempre gastando pouco, sempre controlando a quantidade de carboidratos que ingeria. Parecia até meio obcecado pelo auto-controle, mas então compensava tudo aquilo na quantidade de cigarros que fumava, e, por isso, o forte cheiro do seu carro me dava enjoos. 

E, além dos cigarros, outra coisa que eu não conseguia me acostumar era a falta de interesse com o que eu dizia. Alguns anos atrás, eu costumava achar que o fato de sermos os únicos gays no colégio era um sinal de que era uma boa investir em um relacionamento com ele, mas àquela altura eu começava a perceber o quão desinteressado ele era com qualquer coisa que eu gostasse. Não com um tom de arrogância, mas todas as vezes em que eu realmente me empolgava com algo, ele simplesmente parecia não estar lá.

No entanto, estranhamente, aquilo não me magoava. Era só irritante.

Acima de tudo, Lukas era um cara respeitoso; ele de fato respeitava meu tempo e meu espaço, sabendo que eu não estava preparado para algo além do que quase tínhamos. Lukas se contentava com nossos breves passeios, e poucas mensagens apenas quando eu não tinha mais nada para fazer. E esse era o único motivo pelo qual ainda tínhamos aquela relação esquisita. 

No entanto, eu sabia que as coisas mudariam em algum momento. Não poderíamos ficar naquele limbo para sempre, e, pra ser sincero, eu sabia que ele estava começando a perder a paciência com a demora.

Por isso, antes que ele agisse, eu decidi agir. 

Estávamos, como quase sempre, sentados nos bancos de seu carro, e ele, pela terceira vez no dia, tragava o cigarro que estava em sua mão. Aquela fumaça e mau cheiro me lembrava do dia que fui idiota o suficiente para fumar pela minha primeira vez porque parecia "legal"; ainda que, na verdade, fosse horrível. E aquele pensamento me lembrava da situação em si, em que eu estava com Harvey logo após ele acordar do coma... Mas tudo o que eu menos queria era pensar nele naquele momento. Por que ele surgia sempre na minha cabeça, como uma maldição? Ainda no fim, tudo o que me restava era aquele gosto amargo de arrependimento que me impedia de relaxar.

"Vá embora. Me esqueça."

— Hey, Lukas. — Murmurei, abaixando o encosto do assento da frente para descansar minhas costas. Vez ou outra eu observava o parque a frente de onde o carro estava estacionado. Como o clima começava a melhorar, crianças brincavam com o resto de neve que cobria o chão, enquanto os pais fofocavam nos bancos, claramente negligenciando seus filhos para as "notícias" da cidade.

— Diga. — Ele olhou para mim enquanto batia com o polegar em seu cigarro levemente para jogar as cinzas para fora do carro. 

— Podíamos estar fazendo algo mais interessante, sabe.

Me Faça Lembrar ⚣Where stories live. Discover now