XI

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Assim eu comecei a compreender, pouco a pouco, meu pequeno principezinho e a tua vidinha melancólica. Muito tempo não tiveste outra distração que a doçura do pôr-do-sol. Aprendi esse novo detalhe quando me disseste, na manhã do quarto dia: 

- Gosto muito de pôr-do-sol. Vamos ver um... 

- Mas é preciso esperar... 

- Que o sol se ponha. 

Tu fizeste um ar de surpresa, e, logo depois, riste de ti mesmo. Disseste-me: 

- Eu imagino sempre estar em casa! 

De fato. Quando é meio dia nos Estados Unidos, o sol, todo mundo sabe, está se deitando na França. Bastaria ir à França num minuto para assistir ao pôr-do-sol.Infelizmente, a França é longe demais. Mas no teu pequeno planeta, bastava apenas recuar um pouco a cadeira. E contemplavas o crepúsculo todas as vezes que desejavas... 

- Um dia eu vi o sol se pôr quarenta e três vezes! 

E um pouco mais tarde acrescentaste: 

- Quando a gente está triste demais, gosta do pôr-do-sol...   

- Estavas tão triste assim no dia dos quarenta e três? 

Mas o principezinho não respondeu...


No quinto dia, sempre graças ao carneiro, este segredo da vida do pequeno príncipe me foi de súbito revelado. Pergunto-me, sem preâmbulo, como se fora o fruto de um problema muito tempo meditado em silêncio: 

- Um carneiro, se come arbusto, come também as flores? 

- Um carneiro come tudo que encontra. 

 - Mesmo as flores que tenham espinho? 

 - Sim. Mesmo as que têm. 

 - Então... para que servem os espinhos? 

 Eu não sabia. Estava ocupadíssimo naquele instante, tentando desatarraxar do motor um parafuso muito apertado. Minha pane começava parecer demasiado grave, e em breve já não teria água para beber...   

- Para que servem os espinhos? 

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- Para que servem os espinhos? 

 O principezinho jamais renunciava a uma pergunta, depois que a tivesse feito. Maseu estava irritado com o parafuso e respondi qualquer coisa: 

 - Espinho não serve para nada. São pura maldade das flores. 

- Oh!

Mas após um silêncio, ele me disse com uma espécie de rancor: 

 - Não acredito! As flores são fracas. Ingênuas. Defendem-se como podem. Elas se julgam terríveis com os seus espinhos... 

Não respondi. Naquele instante eu pensava: "Se esse parafuso ainda resiste, vou fazê-lo saltar a martelo". O principezinho perturbou-me de novo as reflexões: 

- E tu pensas então que as flores... 

 - Ora! Eu não penso nada. Eu respondi qualquer coisa. Eu só me ocupo com coisas sérias! 

 Ele olhou-me estupefato: 

- Coisas sérias! 

 Via-me, martelo em punho, dedos sujos de graxa, curvado sobre um feio objeto. 

 - Tu falas como as pessoas grandes! 

 Senti um pouco de vergonha. Mas ele acrescentou, implacável: 

 - Tu confundes todas as coisas... Misturas tudo! 

 Estava realmente muito irritado. Sacudia ao vento os cabelos de ouro.




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The Little PrinceWhere stories live. Discover now