• Samuel Garcia •
O sábado finalmente havia chegado. Fui até a casa de Rebeka, já que pretendíamos treinar pela manhã. Assim que botei os pés na casa, notei alguns empregados a mais.
— Antes que pergunte, é pra festa de hoje. — ela apareceu na sala.
— Pensei que fosse na boate. — franzi o cenho.
— É, eu também pensava. Mas a coroa disse que aqui seria melhor, então... — deu de ombros.
Passamos cerca de cinquenta minutos treinando. Sentei no sofá do canto, tirando uma das luvas com a ajuda de minha própria boca. Acabei por me distrair, pensando em Carla pela trigésima vez desde que ela saiu de casa as pressas ao ver a hora.
— Tá difícil conversar com você, hein cara. — Rebeka disse antes de virar a garrafinha de água na boca.
— Que exagero. — retirei a outra luva, podendo relaxar o corpo sobre o sofá.
— Exagero?! — arregalou os olhos. — Qual é, você viaja no meio da conversa e nem tente negar, porque eu sei que é alguma mina. — cruzou os braços.
— Certo. — dei de ombros. — Não posso me defender.
— Então eu 'tava certa, né? é claro que é uma mina. — sentou ao meu lado.
— O que quer dizer com isso? — a olhei.
— Bom, não me leva a mal não, mas... — desviou o olhar.
— Esquece, não precisa. — ri após entender o que ela queria dizer.
Depois de jogarmos conversa fora por um bom tempo, a mãe dela me convidou para almoçar lá e Rebeka praticamente me obrigou a ficar. Quando terminamos a refeição, ela me acompanhou até o portão.
— Não esquece, é às oito. E não esquenta, pode chamar a marquesa*, sua garota. — piscou.
Já tinha passado horas o suficiente para eu poder me arrepender de ter contado a ela sobre minha relação com Carla. Por mais que não tenha demonstrado outra reação além de arregalar os olhos e dizer caraca, Samu!, me pareceu ter lidado bem com a notícia. Totalmente o contrário de mim, naquele momento, as palavras que ela havia me dito na noite passada ecoavam na minha cabeça.
[...]
Durante a tarde, liguei para Carla algumas vezes, afim de saber se ela iria na festa de hoje. Além de não atender minhas ligações, não visualizava minhas mensagens. Se demorasse mais tentando contatá-la, me atrasaria. Antes de sair de casa, chequei nosso chat mais uma vez, mas ainda não havia sinal dela.
Adentrei a casa de Rebeka e o local já estava lotado. Fui até o bar e pedi um drinque. Assim que o tive em minhas mãos, saí em direção ao jardim, indo a procura de Rebeka.
— E aí, campeón? — caminhou em minha direção.
— Quando disse que a sua mãe enviou convite pra toda Las Encinas, não achei que estivesse falando sério. — comento.
— Eu te disse. — deu um gole no que aparentava ser martini. — Mas, já viu a marquesa?
— Não consegui falar com ela o dia inteiro. Deve estar ocupada.
— Ocupada? bom, se ocupada tiver um novo significado, faz sentido. — desviou o olhar.
— Do que tá falando? — a encarei confuso.
— É que eu vi ela desfilando por aí com um cara, boa pinta, sabe. Não lembro de ter visto no colégio.
— Beleza, vou ali e já volto. — suspirei.
Resolvi ir procurá-la. Não sei se estava cometendo suicídio ou sendo masoquista, mas precisava ver se o que Rebeka disse era verdade ou ela estava bêbada com apenas meia hora de festa.
Depois de andar muito e não encontrar nada, fiquei um pouco mais aliviado. Voltei ao bar para pegar outro drinque, já que o meu acabara no meio do tour pela festa. Solicitei ao garçom e quando em minhas mãos, procurei um lugar mais tranquilo. Caminhei até o corredor que levava a cozinha e confirmando a informação que me foi dada momentos antes, ela estava lá. Com um cara que nunca tinha visto antes. Pareciam íntimos, ele se aproximava de seu rosto, obviamente para beijá-la, mas ela ainda se esquivava e sorria.
Aproveitei-me do fato dela ainda não ter notado a minha presença para passar rapidamente pelo corredor. Para a minha sorte, a cozinha estava vazia. Pelo menos até eu sentir a presença de mais alguém e logo mais perceber que era ela, sozinha desta vez.
— Samuel... — se aproximou de mim. — Eu posso...
— Você não precisa. — a interrompi.
— Quer fazer o favor de me escutar? — não era preciso encará-la para saber qual expressão ela estava fazendo. — Ele é só um amigo, ficou sabendo da festa e quis vir.
Fiquei em silêncio.
— Conheci ele no coquetel. Estou dizendo que não é nada demais. — tocou minha mão.
— Eu te liguei, te mandei inúmeras mensagens e você sequer viu. Enquanto eu achava que você devia estar fazendo algo mais importante, você estava aqui. Com ele.
Foi a vez dela.
— Se não queria falar comigo, poderia ter me dito. Eu queria saber se você vinha, ia propor que viessemos juntos.
— Samuel... eles não fazem ideia do que temos.
Levei meu olhar a ela, que de imediato notou a decepção em meus olhos.
— E o que temos? nós temos alguma coisa? — franzi o cenho. — Sinto muito, mas o que eu vi ali me deu outra resposta.
— Eu...
A interrompi.
— Eu amo você. E agora só consigo pensar no quanto eu fui idiota em pensar que... você talvez algum dia me amasse também.
Virei o que restava de bebida e a deixei ali sozinha. Disposto a encher a cara o resto da noite.
[...]
• Carla Rosón •
Assim que ele saiu, respirei fundo. Lidar com Samuel era mais difícil do que eu pensava. Suas palavras, aquelas palavras, soavam como um sino das seis em minha cabeça. Me pegou desprevenida, com a pior pessoa para se estar naquele momento. E disse as três palavras que eu mais desejava ouvir vindo dele.
Diego adentrou a cozinha, segurando as bebidas que eu tinha pedido, também uma desculpa para sumir e ir encontrar Samuel.
— Te encontrei finalmente. — me entregou um dos copos. — Tá tudo bem?
— Não tô me sentindo bem, dor de cabeça. — coloquei a mão na testa.
— Então vamos, vou te deixar em casa. — segurou minha mão.
— Obrigada. — forcei um sorriso.
Não tinha visto Samuel ao deixar a festa. Já dentro do carro, o caminho até em casa foi silencioso. Depois de passar o dia inteiro na companhia dele, já podia declarar exaustão. Se antes eu tinha uma boa impressão dele, era porque não o conhecia direito.
Almoçamos juntos, visitamos alguns pontos de Madrid e a noite também, graças ao lembrete sútil de meu pai sobre a festa de hoje. Já não aguentava mais Ávilla falando em como era bom estar lá e em como eu sou bonita, agradável e educada. Por horas, só desejei estar do lado de Samuel, comendo seu macarrão requentado com um gosto peculiar. E quando finalmente consigo encontrá-lo, acontece da pior forma.
Quando me dei conta, já estávamos parados em frente a minha casa. Ele deixou um beijo em meus lábios, sorrindo abertamente em minha direção.
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Nós • Carmuel
Fanfictiononde Samuel e Carla vivem um caso as escondidas. Carla, para salvar sua família terá que sacrificar algumas coisas. - Sabe por que me machuca toda vez que eu te vejo? - Por que? - nos entreolhamos. - Porque eu percebo o quanto eu preciso de você. [...