Capítulo II

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Alguns segundos de silêncio antecederam as risadas e as brincadeiras entre as mesas enquanto um jovem bem-arrumado adentrava o estabelecimento. Ele vestia um jeans e uma camisa social azul de botões, o que contrastava com as roupas sujas de couro, as bebidas e o suor presentes no local. Aquele policial não uniformizado aparentava estar muito confiante enquanto seguia, quase que em um desfile, desviando os olhos para as mesas, como se buscasse por algo específico, mas, ao invés disso, só via velhos barbudos enchendo a cara e o encarando com se ele fosse uma sobremesa que surgia após uma refeição pesada.

Minha mente pareceu congelar no tempo, um sentimento estranho despontava dentro de mim. Jason Madox estava no bar Candle e, pelo visto, não era uma expedição para apreender algo novo ou investigar algum crime, parecia ser pior. Eu comecei a rir com a cena, ria de nervoso, enquanto o maior dos meus pesadelos ganhava vida. Segui Jason com os olhos, analisava os seus movimentos. Se ele estava ali por minha causa, provavelmente não demoraria em me encontrar atrás do balcão de bebidas.

Meggie não perdeu tempo indo o mais rápido possível escoltar o policial, e eles conversaram por uns dois longos minutos. Quando ela se afastou, sorridente com o seu bloco de pedidos, os olhos de Jason se encontraram com os meus, e não demorou até ele se aproximar e sentar em um dos bancos do balcão. Continuei a encarar o policial por um tempo enquanto preparava uma bebida para um cliente, e me questionei como deveria reagir à sua presença inesperada. Dentre todas as opções, o tradicionalismo era a melhor:

-O que vai querer?

-Nada muito forte, tenho serviço pela manhã._ Ele falou com um sorriso gentil. Afastei-me daquela aura positiva que envenenava os meus olhos e sentidos e fui preparar o drinque como ele havia solicitado. Em todo o processo para preparar a bebida, desde encontrar as garrafas, copos, preparar a mistura e até a entrega, os olhos de Jason estiveram sobre mim, de uma maneira tão acolhedora que me deu enjoo. Eu não estava acostumada a aquele nível de bondade.

-Aqui está._ Dei o copo tentando me afastar novamente de sua luz, mas Jason segurou a minha mão, ainda sobre a sua bebida, impedindo-me de fugir. Os seus olhos azuis não estavam na mesma serenidade de mais cedo, de certo modo, sua expressão parecia ter mudado de muito calmo para tranquilo.

-Que coincidência, você trabalha aqui.

-É tanta coincidência que me assusta..._ Afastei a minha mão para entregar duas latas de cerveja a um dos motoqueiros de Wayne.

-Isso me lembra que você disse que nos veríamos por aí. Acho que a coincidência é ainda maior.

-O que faz aqui? Nunca veio ao Candle... Então, por que logo hoje? Por acaso Smith mandou você ficar na minha cola?_ Questionei irritada. Ele havia sido muito gentil e penetrado as minhas defesas. A pessoa certa para Smith mandar para me vigiar e me impedir de fazer mais besteiras.

-Certo. Você me pegou, mas não entenda errado. Smith não me mandou segui-la, mas confesso que fiquei tão curioso sobre você que não resisti em ler a sua ficha na delegacia, e lá estava escrito o seu local de trabalho._ Ele sorriu simpático enquanto os seus olhos azuis procuravam alguma aprovação em mim. Andando dois passos para trás, murmurei:

-Perseguidor...

-Não, tudo, menos isso. Eu estava apenas com tempo livre hoje, então, não vi problemas em vir aqui e conhecê-la um pouco mais._ Ele insistiu, tentava desfazer o mal entendido enquanto dava um gole na bebida.

-Isso ainda faz de você um perseguidor.

-Eu não estou lhe perseguindo ou algo assim e...

-Isso não muda nada._ Jason percebeu que aquela conversa não nos levaria a lugar algum:

O Clã Varcô - Amostra Grátis Where stories live. Discover now