Capítulo 5: A Passagem

168 21 108
                                    

Sometimes you have to burn some bridges just to create some distance.
(Às vezes você tem que queimar algumas pobres só para criar alguma distância)

Eram quase três horas da manhã quando Gion bateu à minha porta. Estava morta de sono e desejei ignorar o som e voltar a dormir, em vez disso abri a porta e disfarçando a voz de sono como podia, disse:
- Por que tão cedo? Não podemos esperar pelo menos amanhecer?

- Não podemos arriscar sermos vistos por muitas pessoas, se algo acontecer a você, eu jamais vou me perdoar. Em Litaten não há nenhuma passagem para o mundo dos humanos então temos que ir até outra província, Exspira não é muito distante e é a província dos cogis, quase todos lá apoiam nossos ideias, mas mesmo assim, por via das dúvidas, vamos nos disfarçar, porém acho improvável sermos vistos, Exspira é uma cidade fantasma, literalmente!

- Como assim literalmente? - perguntei ao perceber seu riso ao pronunciar essa última frase, mas logo entendi...

- Quer dizer que...

- Sim, os cogis são fantasmas.

- E como você espera que a gente se disfarce? Até onde eu sei, eu não consigo ficar invisível!

- Eles não estão sempre invisíveis, na verdade, na maioria das vezes, eles parecem muito com nós, ficam invisíveis apenas quando querem. Mas eles fazem parte da província mais pobre, por isso não podemos ir assim. - ele disse apontando para o vestido que estava pendurado na parte externa do armário para usar no dia seguinte. Era azul escuro com mangas de renda que iam até o cotovelo e saia bufante. A verdade era que eu odiava usar vestidos, mas quando disseram que todos aqueles vestidos, assim como aquele quarto, haviam sido preparados especialmente para mim, não pude me desfazer deles, até senti um certo arrependimento por ter rasgado alguns deles na minha tentativa de fugir, e eles haviam feito um trabalho excelente, o quarto realmente era acolhedor, os vestidos magníficos, e o armário guardava inúmeros livros sobre os quais eu nunca ouvira falar. Além disso, a ideia de usar aqueles vestidos não era tão péssima quando todas as mulheres também usavam, e eu até entendia, eles foram banidos do nosso mundo no século XV e desde então viviam isolados, era aceitável que seus costumes permanecessem iguais aos dos tempos medievais. E não precisava usá-los sempre, durante os treinamentos, eu usava trajes de batalhas, eram macacões justos feitos de lycra, na minha opinião, muito confortáveis, então usava mais eles do que os vestidos em si.

- Tome, vista isso.

Gion me deu uma calça marrom larga que estava muito rasgada, uma camisa de mangas compridas bege e igualmente larga, e por fim um colete de um material grosso e desbotado.

Na outra mão ele segurava roupas muito parecidas para ele. Peguei as roupas. Ele então começou a se despir na minha frente, fiquei paralisada por aquela ação. Sabia que não havia malícia naquele gesto mas ver ele arrancando a camisa e desabotoando a calça me fez sentir vontade de chegar mais perto. Percebi que ele me olhava como se não entendesse por que eu estava ali parada em vez de fazer o mesmo, então me virei de costas para ele e me despi também, antes de colocar aquelas roupas horríveis, olhei de canto de olho para ele para ver se me observava, percebi que estava fazendo um tremendo esforço para olhar para o chão e me repreendi mentalmente por transformar um momento sério em algo constrangedor com esses pensamentos, mas aparentemente ele também estava lutando contra o desejo, corei ao pensar nisso.

- Pronto.

Caminhamos em silêncio até a saída do castelo e quando ultrapassamos o portão paramos por alguns segundos.

- E agora?

- Fique atrás de mim. Isso, agora me abrace e apoie a cabeça no meu ombro. Não me solte ou levante a cabeça em momento algum, ok? Mantenha os olhos e a boca fechada.

Rebecca Evelyn- A MestiçaOù les histoires vivent. Découvrez maintenant