Capítulo 23: Bem-vinda, Marcy!

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O amor sempre vence.

Três meses se passaram desde a batalha final.

Agora todas as províncias eram como Litaten, com todas as raças vivendo juntas em harmonia.

Não tinha problema ser vene e ser amigo de um parvu, era normal ser um lucet e namorar um cogi.

E em breve eu não seria mais a única mestiça...

Aliás, muito breve...

- Respira! Vai ficar tudo bem!

Gion estava segurando forte minha mão e eu apertava-a com força sentindo minhas unhas cravarem nas palmas de suas mãos. Estávamos no meu quarto, a cama coberta por panos brancos limpos, eu me contorcia de dor e estava vermelha e suando.

Estava usando apenas uma camisola de cetim branca e Amara me posicionou com as pernas abertas, ela faria o parto, o que me deixou mais tranquila já que eu sabia que ela era a mais cuidadosa de nós, principalmente se tratando de fazer o parto de seu futuro filho.

Minha cabeça estava apoiada no colo de Renan que passava a mão cuidadosamente sobre minha testa, limpando meu suor e me acalmando, e Val e Jiwani estavam de mãos dadas com uma expressão tensa logo ao meu lado.

Soltei um grito.

- Eu não vou conseguir, Gion!

- Você libertou Aye inteira! É o ser mais poderoso de todos! Me prendeu no seu feitiço fazendo eu me apaixonar perdidamente! Beck, não há nada que você não consiga fazer! - ele disse sorrindo e dando um selinho em meus lábios, sorri também mas logo veio outra contração que arrancou meu sorriso e me fez gemer dolorosamente.

Amara gesticulou dizendo que estava acabando. Alguns segundos depois ela puxou um bebê, não estava chorando e sua pele estava arroxeada. Estava morto. Val rapidamente veio em direção a Amara com os braços estendidos e pegou o bebê em seu colo com lágrimas nos olhos. Ficou olhando para a criança e chorando, depois direcionou seu olhar para mim e com a voz fraca disse:
- Eu sinto muito!

Senti lágrimas tomarem conta dos meus olhos, mas Amara não deixou se abalar e gesticulou para que eu continuasse fazendo força.

- Eu não posso! E se o outro estiver morto também? Eu não posso! - disse chorando.

Renan fazendo carinho em meu rosto e com a expressão terna disse:
- E se não estiver, Beck? Esse pode ser o melhor dia de sua vida! Vamos lá, Beck! Você precisa fazer força!

Suspirei com dificuldade, estava ofegante e com falta de ar, e o catarro causado pelo choro cobria minhas narinas, senti minhas mãos tremendo, minha cabeça doía tanto que eu sentia que ela iria explodir a qualquer momento.

Empurrei. Mais uma vez. E outra. Até que finamente escutei.

Um choro.

Estava vivo!

Amara segurou a criança chorando em seus braços com lágrimas de emoção nos olhos e depois de cobri-la com um pano grosso quente e limpo branco me entregou.

Ela era linda! Sim, ela! Meus olhos se encheram de lágrimas e sorri olhando aquela pequena criança em meus braços.

- Oi! - disse com a voz cheia de alegria e acariciando a cabecinha da minha filha.

Val que tinha saído com o corpo da criança que não havia resistido, voltara bem a tempo de acompanhar toda aquela alegria. Todos se abraçavam com lágrimas de emoção nos olhos e sorrisos imensos nos rostos. Gion e Renan haviam se afastado por conta do cheiro de sangue mas estavam igualmente felizes.

- E qual será o nome dela? - perguntou Val se virando para mim.

Meu sorriso foi se esvaindo aos poucos e respondi olhando para o chão:
- Bom, acho que isso você e Amara que têm que decidir, afinal, vocês são as mães...

Val me lançou um sorriso brincalhão.

- Deixe de ser besta, Beck! Essa criança vai ser a mais feliz do mundo! Nenhum de nós convive mais com os pais, ou porque não tiveram a oportunidade - disse olhando para mim - ou porque foram tirados de nós - disse olhando para Gion - ou porque simplesmente não eram pais de verdade - disse olhando para Amara e Renan, que tinham pais mas que, no caso de Amara, a espancavam, e no caso de Renan, não o aceitavam por ser quem era, consideravam a homossexualidade um pecado e não viam a hora de ele sair de casa.

- Mas essa criança - Val continuou - vai ter três mães e três pais! Ela não é minha filha, Beck! É de todos nós!

Todos se emocionaram com a fala de Val. Ela era realmente uma mulher incrível!

- Bom, sendo assim... Gion e eu havíamos pensado em Adira, por causa da minha mãe...

Todos ficaram felizes com aquele nome e Val disse sorrindo:
- Adira é perfeito!

- Mas - continuei - eu queria saber o que vocês acham de... De Marcy! É o feminino de...

- Mark! - Gion completou com lágrimas nos olhos.

Todos sorriam emocionados balançando a cabeça afirmativamente. Olhei para nossa filha encantada e sorrindo.

- Bem-vinda, Marcy!

Rebecca Evelyn- A MestiçaWhere stories live. Discover now