Capítulo 1

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Você está demitida.

As bochechas de Kara coraram quando ela abaixou a cabeça, andando pelo escritório com uma caixa de papelão lotada com suas coisas, as palavras de Snapper Carr ainda ecoando em seus ouvidos. Ela evita o olhar de pena da Eve, olhando para o seu bloco de anotações, algumas palavras rabiscadas de uma história em que ela vem trabalhando, sua caneca favorita com uma pequena lasca na borda, algumas canetas e uma foto emoldurada dela, Alex e Eliza. Lutando para apertar o botão do elevador, seus braços cheios e seu ombro pesado pela bolsa, Kara espera pelas portas se abrirem, sentindo o olhar de todos no escritório.

Depois do que pareceu uma eternidade para o elevador chegar do térreo até o andar em que ela estava, as portas se abriram, e Kara rapidamente passou por elas, procurando pelo botão para o térreo. Pouco antes das portas se fecharam, ela olhou para cima, corando furiosamente quando percebeu o olhar de todo mundo nela, grata pelo silêncio barulhento enquanto as portas fechavam sua visão deles, ela começou sua descida para o térreo. Ela não pode evitar em pensar na sua miséria a cada andar que passava, sentindo-se zangada, amarga e injustamente tratada. A história tinha sido importante, e talvez ela não devesse ter agido pelas costas do Snapper e publicado por ela mesma, mas ele deveria ouvi-la em primeiro lugar. Perder o seu emprego foi um golpe duro, ela não esperava isso, e ela teve que segurar as lágrimas enquanto andava envergonhada pelo saguão da CatCo, se sentindo um fracasso. Tudo que ela sempre quis foi escrever a verdade, e foi isso que ela tentou fazer, e olha onde isso a levou.

Parada no ponto de ônibus, Kara não pode deixar de se sentir miserável, vendo homens e mulheres em seus ternos e vestidos caros, ou o vendedor de cachorro-quente e um cara vendendo jornais de uma pilha nos seus pés. Nenhum deles estava desempregado. Ainda mais embaraçoso era o fato dela estar segurando todas as coisas do trabalho numa caixa, para todos verem, um sinal universal de que alguém acabou de perder o emprego, e Kara quase pode sentir a pena ou os olhares de julgamento voltados em sua direção, embora nunca tenha visto alguém prestando tanta atenção nela. Sozinha com sua miséria, ela esperou pacientemente pela chegada do ônibus – ela não tinha nenhum lugar em que necessitasse estar no momento – e sentou-se perto da janela, seus pertences mexendo na caixa com cada pulo do ônibus, Kara olhava pela janela suja, vendo todo mundo vivendo suas vidas.

Ela chegou em casa ouvindo o barulho da TV pela porta, franzindo a testa enquanto pegava a chave na bolsa e destrancava a porta, abrindo-a para revelar uma pilha de malas perto da porta. Piscando de surpresa quando percebeu que a mochila azul pertencia a ela, Kara chutou a porta atrás dela e andou para o balcão da cozinha para largar a caixa cheia de coisas.

"Mike?" – Ela chamou, andando pelo apartamento, no qual estava consideravelmente mais vazio do que quando ela saiu pela manhã. Seus livros e fotos emolduradas se foram, suas bugigangas e almofadas decorativas no sofá também. No lugar estavam troféus de esportes e bolas de Baseball autografadas, um Xbox, e uma pilha de jogos arrumados ao acaso em suas estantes vazias.

O som de passos vindo do quarto chegou em seus ouvidos, e um instante depois, Mike estava parado na entrada, uma de suas camisetas na mão dele. – "O que é tudo isso?" – Kara perguntou lentamente, gesticulando vagamente ao redor da sala.

"Eu não pensei que você estaria em casa até mais tarde" – Mike respondeu devagar, com um olhar culpado no rosto enquanto olhava para ela. Ele tinha aquele perdido e inocente olhar em seu rosto que sempre fazia quando estava tentando desviar a culpa de si mesmo, e Kara já estava esgotada de sua discussão com Snapper no trabalho, e a demissão, não estava com disposição para lidar com o que Mike estava contornando de contá-la.

"Porque todas as minhas coisas estão guardadas?" – Kara perguntou, sua voz perigosamente baixa quando ela lhe deu um olhar duro.

Suspirando, Mike dobrou a camisa ao meio e andou até o sofá, sentando e colocando a camisa ao lado dele, passando a mão cansada pela barba curta. Kara odiava aquela barba, mas não importa o quanto ela pedisse para que ele tirasse, ele não faria isso. Ele não faria nada por ela. Ela cozinhava e lavava a roupa, mesmo quando ele estava desempregado e fazia nada além de jogar vídeo game o dia todo, e agora, mesmo quando o turno dele acabava, ele sempre estava pendurado ao redor do bar. Eles nem se viam mais, trabalhando em horários diferentes, ambos muito cansados para tentar fazer mais do que uma pequena conversa quando chegavam do trabalho, e Kara sabia o que estava por vir. Ela não era idiota, e assim como a caixa cheia de coisas de escritório significavam que ela foi demitida, ela sabia que suas malas perto da porta significavam que ela estava sendo despejada.

it's always ourselves that we find in the seaWhere stories live. Discover now