Seis Letras 2.

773 84 38
                                    

"- Você teve coragem de ameaçar a Lin? Vai mesmo tentar me por na cadeia Ylona? Além de não conseguir, você não vai me separar dela! - Berrei.

- Você teve coragem de me trair com aquela fedelha e ainda vem cheio de razão? - Rebateu.

- Eu não te traí caralho. Mal encostei na garota. E a culpa foi tua por preferir aquela merda de telefone, os amigos e qualquer outra coisa. - Respirei fundo pra não esquecer que era mulher. Raios.

- Claro May a culpa sempre foi minha, sempre vai ser...

- Para de se fazer de ofendida, eu te conheço, tu não dá ponto sem nó. Mas não vai mexer com a Joalin entendeu? Não vai. - Me aproximei ameaçador. Queria poder acertar meu punho naquela cara fingida e tive que me contentar em só falar.

O problema é que com a proximidade ela se enganchou em meu pescoço e começou a chorar.

- Eu te amo Bailey. Vamos esquecer tudo isso e recomeçar. Juro que apago essa garota da cabeça, deixo ela em paz. Nós podemos ir embora pra longe e...

- Tu é uma doida. - A empurrei com cara de nojo, mas não medi muito bem a força e ela acabou caindo em uma cadeira do pátio da sua casa.

Ela se recompôs e levantou destilando ódio. Grande coisa.

- Tudo bem. Um dia vai cair na real. Espero que não seja tarde Bailey. - Cuspiu meu nome e ficou parada esperando alguma resposta da minha parte.

Que esperasse deitada.

Sacudi a cabeça e resolvi me mandar, vai que loucura pega e essa aí realmente perdeu o juízo."
*

Abri os olhos pra espantar aquela lembrança. Que porra mais difícil essa, nunca testei minha concentração dessa maneira e percebi que era péssimo nisso. Iria pular essa parte mais uma vez, então tomei o papel em mãos para ver o restante.
*
*
*
Joalin Loukamaa.
*
Queria tanto saber como Bailey estava se saindo, mas prometi a mim mesma que lhe daria um tempo. Meu telefone tocou nesse instante. Levantei com preguiça da cama, para apanhá-lo na mesinha perto do banheiro. O número não me era conhecido.

- Alô. - Atendi de testa frisada.

- Olá Lin. Não desligue antes de saber o que tenho a dizer.

Não reconhecia aquela voz, por Deus, me dava arrepios.

- Só queria lhe dizer que estou muito próximo. Sinto tanto sua falta, tivemos bons momentos alguns anos atrás. Fiquei sabendo que está namorando um cara mais velho, boa menina. Isso só confirma que nosso tempo juntos foi ótimo. Mas não gosto de dividir, não mesmo. Então aproveite enquanto eu não chego. Ah, e use mais aquela blusa vermelha de hoje, ficou maravilhosa em você.

Desligou.

Minha mão trepidava. Ele me viu mesmo, me observava, mas como? Soltei o telefone no chão e corri escada abaixo. Mamãe estava sentada assistindo Law and Order.
Desgrudou da tevê assim que me viu.

- Ele ligou de novo. - Consegui falar quase sem voz.

Ela esperou pelo restante de olhos esbugalhados.

- Acho... Acho que era meu pai. - Pronunciei sem crer.

Joh pôs a mão no peito e apagou no chão da sala.
*
*
*
Bailey May.
*
Já tinha cumprido a lista quase toda. Abracei tanta gente, que não quero mais abraços pelos próximos dez anos. Me entupi de espaguete ao sugo e de chocolate, coisa que comia pouco porque apesar de não ter mais idade pra isso, as malditas espinhas teimavam em pipocar quando comia demais. Reparei tanto nas coisas que mais parecia um bisbilhoteiro, passei meia hora admirando uma borboleta sentada na minha perna. Sorri tanto que já me sentia o Coringa em pessoa. Depois fui ao boteco do Krys, um velho amigo, pude revê-lo e alguns outros que costumavam se reunir por lá, devo admitir que tudo isso me fez um bem da porra. Voltei pra casa na intenção de vencer o último dos meus desafios, as duas pessoas que mais amava no mundo, sempre ouviam isso de mim. Dona Vanessa e minha Lin. Mas havia uma pessoa mais, e agora é que o bicho ia pegar.
Já em casa, pus pra tocar no notebook do quarto minha playlist preferida e pulei, me sentindo um rockstar enquanto me preparava pra coisa mais foda que iria fazer na vida, não pode arregar agora May.
Antes de entrar no carro, dei uma olhada na casa da Lin. Muito silenciosa, nenhum carro. Talvez tenha ido dar uma volta com a mãe. Resolvi não ligar, já que a encontraria mais tarde mesmo. Rumei para a casa dele tentando não pensar no que iria fazer dentro de alguns minutos, mas talvez fosse a hora certa de arrancar essa mágoa do meu peito.
A casa de Matthew ficava a meia hora da minha, nesse horário ele costumava estar em casa assistindo os canais de esporte para depois ir para a loja matriz. Era uma casa muito grande e luxuosa, ele construiu um império do zero, nisso eu tinha que tirar o chapéu. Em compensação, não dava um puto pra minha mãe, sempre com conversa fiada, já a noivinha dele da minha idade, vivia em clínicas de estética, salões, viagens... Vanessa que se foda. Já comigo, ele até tentou alguma coisa, mas me doí por minha mãe e nossa relação nunca vingou muito bem.
Procurei não pensar mais nisso porque ao invés de abrir minha boca para dizer que o amava, iria mandar ele pra casa do caralho. Apertei o interfone, nem precisei falar nada, somente olhei para a câmera de segurança e o portão fora aberto. Estacionei o Rover em uma das sete vagas das quais cinco estavam ocupadas com carros que comprariam tranquilamente o prédio onde trabalho, minha casa, carro e ainda sobrava uma grana.
Entrei cabreiro pela sala, sem me incomodar em sujar aquele tapete branco brega com minhas botas. Mas não havia ninguém, nem som de TV nem nada. Ouvi passos na escada e movi meu olhar na direção. A namorada do Matt descia a escadaria tão lerda quanto eu, agora eu sei o quanto posso irritar as pessoas.

𝐁𝐨𝐫𝐧 𝐓𝐨 𝐌𝐞  ͟͞➳ 𝓙𝓸𝓪𝓵𝓮𝔂 𝓐𝓭𝓪𝓹𝓽𝓪𝓽𝓲𝓸𝓷Where stories live. Discover now