[f(28) = 4x - 84] Preciso dizer

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🔮

Deus existe. Ele me odeia. E não parece estar em vias de mudar de opinião.

Ele e o universo inteiro, nessa realidade, parecem operar em conjunto para me desgraçar a vida em níveis inimagináveis.

Porque não importa de que forma eu olhe para isso, mas me deixar sentir tudo que eu senti nas últimas semanas só para depois arrancar de mim, e das pessoas que me provocaram cada um desses sentimentos, as lembranças felizes e repetidamente me jogar de volta a um estado inicial emocionalmente deplorável é, de longe, o pior tipo de tortura que posso imaginar.

Não é estranho, então, que eu não faça a mínima ideia do que tentei nas outras noventa e oito vezes. Não sei o que acertei. Não sei em que falhei. Não sei se, em alguma delas, estive tão determinado.

Mas eu sei do agora. A nonagésima nona chance está clara em minha memória. O que decido sobre ela, também.

E eu decidi que o universo pode ir para a puta que o pariu.

Eu não vou desistir, cacete. Eu não vou desistir mesmo.

Estou oficialmente declarando guerra a ele. Eu contra o mundo. Literalmente.

E é por isso que estou aqui, rondando a ala psiquiátrica à qual não tenho acesso.

Passei toda a semana buscando respostas. Enlacei os novos aspectos de minha vida a pesquisas aprofundadas sobre todo tipo de teoria física, astrofísica e paranormal que pudesse me dar uma luz. Obviamente, ainda que minha aparente genialidade tenha feito um bom trabalho em armazenar e processar tantas novas informações, eu falhei completamente em encontrar respostas.

Nada faz sentido. Não importa o quanto eu tente, encontrar o porquê dessa bagunça é mais difícil que não pensar em Jimin.

E hoje é o dia dele. Sábado. O dia de sua apresentação no festival da Hangsang.

Mas ainda é cedo. E, até a hora de vê-lo naquele palco, hipnotizando toda e qualquer pessoa presente, eu sigo em minha próxima tentativa.

Vim para o mesmo lugar da primeira vez. O pátio que se separa da ala psiquiátrica por um muro alto. Daqui, lanço meu olhar em direção às janelas do prédio do outro lado, e meu corpo enrijece quando acontece novamente.

Meus olhos encontram os de Lee Seon Yeong, que me observa detrás de uma das janelas elevadas.

Tem algo nela que me provoca essa reação primitiva. Não é medo, mas também não é uma sensação tão distante assim. Acho que é a reação comum ao desconhecido.

Essa mulher, com sua paranormalidade diagnosticada como loucura, certamente está além da minha capacidade de compreensão. Logo, o receio é natural, e se intensifica quando eu pisco por um breve segundo e, ao olhar novamente para a janela, não a encontro mais, como se não passasse de uma alucinação.

— Anda, velha louca, bruxa, sei lá o que você é — Eu peço, nem sei a quem ou o que.

Deus nenhum parece disposto a me ajudar. Então espero que Lee Seon Yeong esteja.

Preso em agonia, meus dentes castigam a ponta de meu polegar enquanto me agito de um lado ao outro em passadas impacientes, com os olhos permanentemente mirados na porta que separa os dois lados do pátio e que, mais que certamente, não deveria ser de acesso a ninguém além dos funcionários.

Mas não demora para acontecer. E não são meus olhos que capturam a pequena mudança. Primeiro, é o som que me alerta. O deslizar enferrujado da trava agonizando em tom agudo antes que as dobradiças metálicas reverberem quando a porta se abre.

CEM CHANCES • jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora