CAPÍTULO VI

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Durante os quatro meses seguintes, não entrei na casa da Sra. Graham, nem ela na minha; mas ainda as damas continuaram a falar sobre ela e ainda nosso relacionamento prosseguiu, embora lentamente, a avançar. Com relação às conversas, prestei pouca atenção (quando se tratava da bela ermitã, quero dizer) e a única informação que obtive foi a de que, em um dia congelado, ela se aventurou a levar seu pequeno garoto tão longe quanto ao vicariato e que, desafortunadamente, não havia ninguém lá além da Srta. Millward; apesar disso, ela se sentou por um bom tempo e, com certeza, encontraram uma porção de assuntos para conversar e se separaram com um desejo mútuo de se encontrar novamente.

Entretanto, Mary gostava de crianças e de mamães apaixonadas como aquelas que podem devidamente apreciar seus tesouros.

Porém, eu mesmo a via, não apenas quando ela ia à igreja, mas quando passeava pelas colinas com seu filho, seja em um longo passeio para algum lugar ou – em dias especialmente belos – despreocupadamente perambulando pelos morros ou pelas desertas pastagens que cercavam a velha casa, ela mesma com um livro na mão, seu filho dando saltos ao seu redor; e, em alguma dessas ocasiões, quando eu a via em minhas solitárias caminhadas ou cavalgadas, ou enquanto cumpria com minhas ocupações agrícolas, geralmente tramava encontrá-la ou surpreendê-la, pois muito me agradava ver a Sra. Graham e conversar com ela, e decididamente gostava de conversar com seu pequeno companheiro que, uma vez devidamente rompido o gelo de sua timidez, descobri ser rapazote amigável, inteligente e divertido; e, logo, nos tornamos excelente amigos – o quanto, para a felicidade de sua mãe, eu não poderia tentar dizer. Suspeitei que, a princípio, ela estava desejosa de jogar água fria nesta crescente intimidade – extinguir, naquele estágio, a florescente chama de nossa amizade – mas descobrindo, por fim, apesar de seu preconceito contra mim, que eu era totalmente inofensivo e mesmo bem intencionado, e que, entre mim mesmo e meu cão, seu filho extraía uma grande dose de prazer de um relacionamento que, de outra maneira, ele não teria, ela parou de objetar e até me recebia com um sorriso.

Com relação a Arthur, ele me saudava aos gritos à distância e, saindo do lado de sua mãe, corria cinquenta jardas para me encontrar. Caso acontecia de eu estar montado em um cavalo, ele se assegurava de trotar ou galopar; ou, se um dos cavalos de tiro estivesse relativamente próximo, ele se regalava com uma cavalgada tranquila, que servia muito a um passeio; mas sua mãe sempre o seguia, marchando ao seu lado – não tanto, acredito, para assegurar sua proteção, e sim para se confirmar de que eu não instilaria ideias reprováveis à sua mente infantil, pois ela sempre estava a vigiar e nunca permitiria que ele fosse além de sua vista. O que a agradava, acima de tudo, era vê-lo brincar e correr com Sancho, enquanto eu caminhava ao seu lado – não, temo, pelo amor de minha companhia (embora eu, às vezes, me iludia com tal ideia) e mais pelo prazer que ela tinha em ver seu filho assim tão feliz, entretido na apreciação de tais esportes tão revigorantes ao seu tipo franzino, ainda que raramente exercitado pela falta de companheiros adequados à sua idade: e, talvez, o prazer dela não fosse pouco adocicado pelo fato de eu ser a companhia dela, não a dele, e portanto incapaz de fazê-lo mal, direta ou indiretamente, de propósito ou não, de certa forma graças a ela, por aquilo mesmo.

Mas às vezes, acredito, ela realmente tinha algum prazer em conversar comigo; e em uma brilhante manhã de fevereiro, durante uma caminhada de vinte minutos pelo charco, ela pôs de lado sua habitual aspereza e reserva, e prontamente começou a dialogar comigo, discursando com muita eloquência e profundidade de pensamento e sentimento sobre um tema que, com felicidade, coincidia com as minhas próprias ideias e, além disso, parecendo tão belo, que voltei para casa encantado; e, durante o caminho (moralmente) me peguei pensando que, no fim das contas, seria melhor, talvez, passar os dias com tal mulher do que com Eliza Millward; e então eu (figurativamente) corei pela minha inconstância.

A moradora de Wildfell Hall (1848)Where stories live. Discover now