50 (Epílogo)

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                            _Isadora_

Eu nunca cogitei em ser mãe, nunca me veio a vontade. Até eu e o Duarte acabar virando voluntários em um orfanato. E depois de um tempo lá, conhecemos o Davi. Eu não sei o que aconteceu, mas nós nos apaixonamos pelo Davi. Quando a gente viu já estávamos levando ele pra passear todo fim de semana. Chegamos a conclusão de que era aquilo que nós queríamos. 

Foram dois anos lutando pela guarda do Davi na justiça, sempre lutando contra o fato do Duarte ser ex presidiário. Mas valeu a pena, todo esforço valeu a pena.

Estávamos indo pra o abrigo com o papel e a documentação inteira na mão.

- Caralho, tô nem acreditando que o moleque vai ser nosso filho.

- Aí, para, vou chorar de novo.

- Deixa que mais tarde eu te faço chorar por baixo. — eu arregalei os olhos e dei um tapa nele na frente do abrigo.

- Parece que fica cada vez mais tarado, credo.

- Você gosta, patricinha. — ele cheirou meu pescoço.

Eu ignorei as provocações do Duarte e a gente entrou. O Davi veio correndo.

- Eu tava com saudade, vocês sabiam?

- É, meu amor? A gente tem uma notícia! — eu sorri e me abaixei no tamanho dele.

- É boa?

- Pra cara.. — eu olhei o Duarte. - Boa pra baralho, moleque. — eu o olhei novamente e ele se fez de idiota.

- Tá vendo esse papel aqui? — ele assentiu. - Aqui tem dizendo que você é nosso filho, lembra que sempre fomos seus pais do coração? Agora é oficial! — eu sorri e ele começou a chorar.

- É sério? — ele olhou pra Maria e ela assentiu. - Vocês vão ser meus papais pra sempre?

- Sim, meu amor, pra sempre.

Eu tava tão realizada que a felicidade não cabia no meu peito direito. Davi era a criança mais doce que eu conheci na vida, ele e o Duarte tinham uma relação incrível, eu e o Poseidon quem tínhamos que aguentar bola pra cima e pra baixo em casa.

Eu nunca imaginei que a minha vida fosse mudar tanto, nunca imaginei que eu ia me tornar essa mulher a qual eu me tornei, porra, não conseguia acreditar que eu tinha a minha família agora.

Seis meses depois.

- Vai, fala logo Morena! Me fez sair correndo de casa pra saber da fofoca. — eu bebi um refrigerante que roubei da geladeira dela.

- Tô gravida. — ela simplesmente me jogou a bomba e eu engasguei na hora.

- Oi?!

- REAGE, IRMÃ! — ela falava impaciente.

- Mentira?! EU VOU SER TIA. — eu comecei a pular.

- Eu não sei nem o que pensar, porra, sentei demais no bofe e ganhei o presente. Eu tô feliz, mas tenho medo, Isa.

- Ué, garota. Medo do quê?

- Lucas não querer.

- Não começa, Jéssica! Você tá prestes a casar, sempre ficam falando disso e acha que ele não vai querer? Anda, vai fazer como pra contar?

- Tava com a ideia de deixar o teste na cama.

- Aí, sem graça demais. Faz uma caixinha, compra os sapatinhos e coloca dentro, certeza que ele vai ficar louco.

Passamos a tarde inteira fazendo a caixinha e eu desci pra casa, eu e Duarte tava morando na casa dele, depois da Dona Clarisse se juntar com o Seu Antônio. Eu entrei e a sala tava vazia, tudo num silêncio, mas conseguia ouvir risadas na cozinha.

Me deparei com a maior bagunça que eu já vi, tinha farinha por toda a cozinha e Davi gargalhava enquanto ele e o Duarte se jogava farinha.

- MEU DEUS! OS DOIS PRA O BANHEIRO!

- Pô, amor, tava seguindo tu e fazendo bolo.

- Vai, anda, seus porcos. — eu empurrei os dois pra o banheiro, não sabia nem como ia limpar.

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Tinha ficado uó de cansada limpando a bagunça dos dois que também fizeram bagunça no banheiro. Davi dormiu cedo e eu desci pra sala atrás do Duarte.

- Aí, amor. Quero bater um lero contigo.

- Coisa séria? — o olhei.

- Senta aí, apressada. — ele respondeu e eu sentei.

- Vai, fala!

- Tô pensando em passar uns meses fora, nós três e pá.

- Ué, onde?

- México.

- Tá de brincadeira?

- Não, pô, tô te falando namoral. Eu saí dessa vida ai, mas eu quero procurar outros bagulho pra nós, tá ligado? — ele me olhou. - E aí?

- Eu nem sei onde eu tô com a cabeça, é loucura, mas a gente vai! — eu sorri e ele me agarrou.

E foi ali, que eu tinha certeza que era essa a loucura que eu não teria medo de entrar, a loucura que eu não iria acabar com um par de chifres e destruída. Talvez eu fosse louca de topar isso do nada, mas tava com o dinheiro da cobertura e nós precisávamos disso. Só nós.

No momento em que estávamos no aeroporto foi que eu percebi que por eles dois valia a pena a loucura, dali em diante eu só ia me arrepender de não ter feito algo. Sair da faculdade, ficar prestes a noivar, ficar magoada, ir morar em um morro que eu nunca havia frequentado antes. Acho que qualquer um que ouvisse a minha história me chamaria de louca, isso tudo só me ensinou que certas coisas são necessárias acontecer. Uma vez a minha mãe me disse que pra sarar tinha que doer antes. E ela tinha razão, toda a dor e todos os momentos pensando que eu fiz uma burrada com a minha vida, agora eu vejo o quão valeu a pena. Eu me orgulho da mulher que eu me tornei, obrigada Rodrigo, e obrigada a vida pelos tombos que me deu, agora eu agradeço pelo meu pote de ouro no fim do arco íris, depois de toda aquela tempestade.

México, lá vamos nós! 🇲🇽

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Davi, 5 anos.

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