Capítulo Quatro

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Ontem, quando cheguei a minha casa, tomei algumas doses de uísque até apagar. Acordei no meio da madrugada, após um pesadelo horrível que tive com as meninas que conheci no abrigo — Beth e Mariah. Pulei da cama, tomei um banho, mas não voltei a dormir. Meu maldito sono desapareceu, e eu vi — mais uma vez — o dia clarear. Após alguns resmungos e palavrões, decidi levantar e tomar café.

O futuro é apenas consequência de nossas ações do passado.

Gosto dessa frase, principalmente neste momento em que estou quebrando a cabeça, procurando alguma solução para resolver os problemas do abrigo. Sempre odiei dinheiro e status. Só em pensar que, devido a toda essa merda, o trabalho do abrigo corre risco de acabar, fico doente. Não fisicamente, mas de espírito, de alma; apesar de que minha alma perdi há muito tempo, desde que cometi o pior erro de minha vida. É por isso que devo e vou lutar pelo abrigo, nem que precise vender tudo o que tenho, e farei isso sem pensar duas vezes.

Quando termino de tomar meu café — forte e puro —, escuto batidas à minha porta. Ao abri-la, encontro Ethan, todo sorridente e animado, enquanto estou tendo uma merda de início de dia.

— O que você quer? — pergunto nada educado. Às vezes a alegria de Ethan me irrita.

— Bom dia para você também, maninho. — Sorri e entra.

— Só se for para você!

Ethan se vira para me encarar. — Bebeu de novo? — Franze a testa. — Isso precisa parar, Savi. — Pronto. Agora ele me chamou pelo nome e vai tentar bancar o irmão mais novo, porém mais correto, da família.

— Veio para me encher o saco? Porque hoje eu não acordei de bom humor e com muito saco para aguentar os seus sermões.

— E quando você levanta de bom humor? A última vez, que eu me lembre, faz mais de nove anos. — Ele cruza os braços.

— Ethan... — rosno e dou meia-volta, indo para o banheiro escovar os dentes.

— Savi, você precisa esquecer o passado definitivamente e seguir em frente, irmão. Até quando pretende viver seus dias amargamente?

Escovo os dentes e jogo água fria em meu rosto enquanto o ouço. Isso tem que acabar. Ethan precisa saber que viverei assim até o fim de minha vida, e não existe nada nem ninguém que possa fazer ou mudar algo. Eu errei e tenho que pagar. Eu preciso sentir a dor para lembrar o quanto pequei nessa vida.

— Savi, eu...

Abro a porta com força e empurro Ethan contra a parede do corredor, fazendo-o me encarar nos olhos.

— Cala essa boca! Cala essa maldita boca! — grito, e vejo que Ethan engole a seco.

— Savi, por favor, o que está acontecendo com você? — sua voz sai fraca, então percebo que ainda estou prensando-o contra a parede. Solto-o e dou um passo para trás.

— Desculpe... — digo e caminho até a sala. Acendo um cigarro e fico na janela, olhando tudo ao redor, mas sem prestar atenção em nada.

— É a Millie? É por isso que está bravo comigo? — sua pergunta me faz amaldiçoar-me. Eu não estou bravo com ele, e toda essa merda que estou vivendo não tem nada a ver com essa garota.

— Não tem nada a ver com ela, Ethan — respondo.

— Então diga o que está acontecendo com você! Pelo amor de Deus, Savi! Sou seu irmão, eu me preocupo com você. Quando você se dará conta disso?

Sinto um aperto no peito ao ouvi-lo. Eu adoro meu irmão caçula e daria a minha vida por ele. Mesmo que nesses últimos anos eu tenha me mantido afastado, sempre o amei e será assim para o resto de minha vida, por mais que eu não saiba demonstrar meu sentimento por Ethan.

Dissoluto (livro 1) - Série The Underwood's.Onde histórias criam vida. Descubra agora