Capítulo Trinta e Um

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Savi

Minhas mãos pressionam o vidro com força, até que meus dedos ficam brancos. O som dos aparelhos é baixo, mas mesmo assim consigo ouvi-los, consigo ver as luzes azuis e verdes piscando compassadamente. Encosto minha cabeça contra o vidro frio e deixo que finalmente o choro tome conta de mim.

Achei que poderia fazer isso, achei que aguentaria, mas não posso. Não suporto vê-la assim.

Arrisco um olhar para Millie e, em meio a lágrimas, contemplo o quanto ela está diferente, imóvel sobre essa maldita cama, com uma faixa envolvendo a cabeça. Há vários tubos ao redor dela, alguns presos em seu pulso, e outro, em sua garganta. Quero tirá-la de lá, pegá-la em meus braços e carregá-la para longe, esperar que ela acorde e veja que tudo não passou de um pesadelo.

Mas não posso fazer isso.

Tomo coragem suficiente para deixar o lugar em que estou há mais de dez minutos e caminho até a porta do quarto, abrindo-a devagar.

Estou sozinho com Millicent, ela está tão perto de mim e não sei o que fazer. Sinto-me fora do chão, sem saber o que dizer, sem saber se ela pode me ouvir... Se sabe que sou eu.

Aproximo-me mais dela e toco sua mão, sentindo-a tão gelada.

— Millie — sussurro com a voz engasgada.

Seu rosto tem hematomas arroxeados, os olhos estão inchados, com coágulos de sangue, e em seus lábios há um corte que precisou de sutura. Mesmo com esta aparência, ela continua sendo a mulher mais linda que já encontrei. A única que conseguiu mudar algo dentro de mim, que fez com que eu enxergasse a vida de outra forma e descobrisse novos sentimentos.

— Você precisa acordar, meu amor — digo suavemente, enquanto acaricio a palma de sua mão, crendo que sim, que ela esteja me ouvindo. — Há muitas coisas que precisamos fazer e conversar. — Olho para seu rosto, esperando por alguma reação. Qualquer uma. — Por favor, Millicent, volte. Preciso de você. Seus pais precisam de você — digo tentando ser menos egoísta, mas a verdade é que somente penso nela, em ninguém mais, somente Millie. Abaixo-me e beijo o dorso de sua mão, tomando cuidado com as fitas e agulhas em seu braço. — Estou tentando ser forte e mostrar para todos que consigo suportar isso. Sei que preciso ser forte, por seus pais e por Ethan, mas a verdade é que estou apavorado — confesso. — Nunca senti tanto medo em minha vida como estou sentindo agora, Millicent. É por isso que você precisa acordar, para me ajudar, para voltar para mim.

Engulo o nó que se forma em minha garganta e deslizo meus dedos por seu rosto, acariciando-a de leve, recordando quanto ela gostava quando eu fazia isso. Apalpo com cuidado seu lábio e uma onda de náusea me atinge; neste momento tenho certeza de que quem fez isso a ela não pode ficar impune. Preciso encontrá-lo.

O doutor abre a porta e vem até onde estou, colocando a mão em meu ombro e dando um sorriso gentil.

— Os pais da jovem querem vê-la — diz olhando para ela.

— Há algo que eu...

— Meu rapaz — o médico me interrompe. — Não há nada que você possa fazer. Millicent é jovem e está lutando pela vida. Olhe para essa tela. Está vendo? — pergunta e eu balanço a cabeça confirmando, encarando as escalas dos batimentos cardíacos. — Esse é o coração da garota batendo, lutando para que ela permaneça viva.

— Ela parece tão frágil — digo em voz baixa, vendo-a tão vulnerável quanto um cristal.

— Estou fazendo o possível para ajudá-la, mas ela também precisa de um motivo para lutar, rapaz, uma razão tão forte que a faça querer enfrentar a morte. — O médico fica em silêncio por um momento e depois suspira. — Preciso que saia.

Dissoluto (livro 1) - Série The Underwood's.Where stories live. Discover now