Capítulo VIII - Como ele chorou feito um bebê

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Capítulo VIII

Como ele chorou feito um bebê

Dia 299

Ele respirou fundo pela terceira vez, esperando que dessa vez surtisse algum efeito e fizesse, de algum modo, suas mãos pararem de tremer. Rose, ao seu lado, percebeu o que passava, e apoiou sua própria mão sobre a dele que ainda se agarrava ao volante tornando os nós dos dedos brancos, sorrindo para ele.

— Vai dar tudo certo – ela disse, o incentivando.

— Eu sei – ele disse em um sussurro, junto com um suspiro.

Respirou fundo mais uma vez.

— É só que já faz muito tempo.

Ela lhe estendeu o grande buquê de flores do campo – as favoritas de sua mãe – que até então estava apoiado no colo dela, como um incentivo final para que ele finalmente saísse do carro.

— Não vai ajudar ficar aqui, você sabe. Não vai ficar mais fácil.

— Você tá certa – ele pode ver que ela ergueu a sobrancelha esquerda em um gesto automático de "como sempre", mas que não disse nada, e ele adorava aquilo nela.

Ele tirou a chave da ignição, entregou para a mulher, que ficaria o esperando ali, pegou o buquê que ela estendia para ele e saiu para o ar já não tão quente que o outono trazia.

O cemitério e seu longo terreno gramado, pontilhado com túmulos e flores, estava relativamente vazio naquele dia. Talvez o céu bonito, com poucas nuvens e a temperatura confortável tivesse estimulado outras atividades menos fúnebres, mas não para os Malfoy. Não naquele dia em específico.

Quando Scorpius se aproximou da pedra de mármore que marcava o túmulo de Astoria Malfoy, percebeu que o pai já estava lá, com o mesmo estilo de sobretudo que sua mãe sempre havia adorado comprar para o esposo – Scorpius se questionou se ela havia comprado aquele.

Fazia um tempo que não via seu pai, e os cabelos sempre tão louros que quase brancos, agora estavam mais para tão brancos que quase louros. Os anos chegam para todos, inclusive para Draco Malfoy.

Ele não olhou para o homem ao seu lado quando o alcançou, apenas agachou, depositou o buquê que trouxe ao lado de um extremamente semelhante (seu próprio pai havia trazido, ele imaginava) e tocou a pedra fria, como se assim pudesse tocar a bochecha rosadas ou o cabelo negro que nunca esqueceria o cheiro.

— Oi mãe – ele sorriu levemente.

Ele não saberia descrever exatamente o que se passava pela sua cabeça todas as vezes que vinha ali e colocava a mão sobre a pedra. Os pensamentos fluíam, como se ele tivesse contando para a mãe tudo o que havia acontecido com ele desde a última vez que estivera ali, mas não tinha um fluxo ou uma ordem na maneira que essas lembranças fluíam. Mas, naquele momento, ele sabia exatamente o que ele estava contando para ela: "a senhora vai ser avó!" ele repetia e repetia, ecoando o pensamento e sorrindo involuntariamente.

E também chorando involuntariamente. "A senhora vai ser avó e nunca vai conhecer seu neto", ele completou o pensamento, sentindo que o choro se apertava na garganta.

Após um tempo, que não sabia dizer quanto, ele se levanto e abanou o tecido do joelho da calça onde havia se ajoelhado, ainda com os olhos marejados.

— Oi pai – ele finalmente disse.

E ao virar-se para Draco, e ver os olhos também molhados do pai, eles não trocaram palavras antes de compartilharem um abraço. Havia muito a ser dito, muito a não ser dito, muito a ser pensado e muito a ser refletido. Naquele momento, contudo, só havia muito a ser ignorado e a sensação de perda, mais forte do que havia estado nos últimos tempos.

(500) Days of RoseWhere stories live. Discover now