Tentando raciocinar

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    Quando se está bisbilhotando o que não lhe convém, recomenda-se estar preparado para ser surpreendido. Mas eu fui pega totalmente de surpresa. Não fazia ideia de que havia uma história grande por trás das ameaças de Jackson. Nada estava totalmente claro ainda mas, de início eu só precisava sair daquela festa antes que fosse tarde demais. Eu tivera uma enorme sorte em poder ouvir nitidamente uma parte importante do diálogo. Dylan estava correndo perigo. Era só o que eu conseguia pensar...

     Até minha mente voltar a focar na imagem perturbadora de Lucas. Seu sorriso indecifrável no Pelourinho, minha paixão obsessiva por ele, o meu reconhecimento de que aquilo não era saudável, Englewood, as mão de Jackson em meu traseiro, a família Campbell reunida assistindo alegremente quando eu saí, e Dylan. Dylan na cozinha, querendo me dizer algo. Será que alguém mais sabia do perigo que ele corria?, E por qual motivo ele não procurava ajuda?, Será que ele queria me contar algo ao me ver minutos antes?, E o mais importante, quais os planos do perigoso Jackson e seu amigo?

    Recoloquei o capuz e evitei passar pelo meio da festa. Segui beirando a casa por trás dos arbustos em direção a saída. Entrei no quintal dos Campbell correndo, com o coração pulsando forte, arfando alto. Estava escuro e eu acabei tropeçando em algo no caminho. Tentei me equilibrar e permanecer de pé. Mas tentei em vão. Fui tropeçando, tropeçando até cair de cara na piscina de água gelada. Dei um grito abafado e comecei a me debater num estado de agonia e desespero. Meu tênis estava encharcado, e o blusão só dificultava o meu alcance a uma das bordas da piscina.

    Continuei lutando e dando braçadas em direção a borda mais próxima, ao mesmo tempo em que me amaldiçoava por estar tão desesperada, sendo que, felizmente, meu nível como nadadeira era suficientemente bom para me fazer sobreviver a uma queda grotesca na piscina do quintal de qualquer pessoa.

     Ouvi um estalo na água logo atrás de mim e me concentrei apenas em não surtar por sentir algo desconhecido compartilhar a mesma piscina fria e escura onde eu me encontrava em situação de vergonha e descontrole não só físico, como também emocional. Eu queria nunca ter saído do meu quarto. Queria nunca ter respondido a mensagem de Lucas. Queria nunca ter ouvido as coisas que ouvi naquela noite. Queria nunca... Senti um braço forte e firme me envolver pela cintura e me puxar até a lateral da piscina, me forçando a me sentar na beirada.

    Era o Dylan. Suspirei agradecida.

   - O que você pensa que está fazendo? - seu olhar inquisidor me fez estremecer e me encolher consideravelmente. Dylan estava a ponto de explodir. Estava com raiva de mim?

    Me levantei cambaleando e balbuciei uma palavra de desculpa, frustrada pela sua irritação. Mas ele já havia saído da piscina e estava na minha frente, feito o Muro de Berlin. Meu sonho era poder alcançar o lado oposto, rever meus ente queridos novamente: cama e lençóis.

   - Eu posso passar? - perguntei entredentes - Estou tremendo de frio. - afirmei com os dentes começando a bater uns nos outros.

    Ele suspirou nervoso e olhou para mim impotente.

   - Tá bem - apontou para mim - Você vai se trocar e depois me explicar por que se jogou na piscina com roupa e parecia tão perturbada.

    Eu não precisava vestir roupas secas para explicar o mal entendido. Respirei fundo, me controlando, e falei pausadamente.

   - Dylan - olhei em seus olhos agoniados - Em algum momento você já me viu com algum comportamento depressivo? - sem esperar repostas, continuei: - Em... - mas fui interrompida.

   - Na verdade, sim - fui pega de surpresa. Dylan cruzou os braços encima dos peitos. Arfei ao ver como sua camisa era fina e seus músculos eram bem contornados por trás dela.
 
    Estreitei os olhos para ele ao me recompor.

Virtualmente FalandoWhere stories live. Discover now