Prólogo

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Pov You

- Eu não quero ir! - falo aos prantos para o meu irmão que me abraçava forte - Por que tem que ser assim? Por que eles? Não é justo! - ele encostou minha cabeça em seu peito e beijou o topo da mesma

- Eu sei, eu sei que não é e sinto muito por ter sido assim, eu sinto tanto! - sua voz tremeu, ele estava tão machucado quanto eu

- Promete que não vai me deixar? Que não vai me deixar como eles deixaram? - senti sua cabeça confirmar

- Eu vou ficar com você por muito tempo ainda, eu vou estar aqui!

Isso que vocês acabaram de ver é uma lembrança minha de alguns meses atrás, ela é uma das que eu tenho de antes de eu e meu irmão vir pra Coréia do Sul, a uma semana. Somos brasileiros, mas sempre gostamos de estudar línguas estrangeiras então nunca foi um problema, sabemos falar inglês, coreano, espanhol e francês perfeitamente bem, pelo menos ele, eu ainda me enrolo no francês e coreano as vezes.

Enfim, ainda estamos em fase de organização da nossa casa, ela é grande, bem maior que a nossa no Brasil e também é super aconchegante, eu gostei bastante dela, sem contar que é bonita e da até um toque mais rico. Estamos no finalzinho de janeiro e logo vai começar as aulas, e ele já fez o favor de ir me matricular na escola particular de Seul. O bom de tudo é que meu irmão se encaixa em qualquer tipo de trabalho, ele é bem flexível pra isso, mas eu já disse que não deixaria tudo pra cima dele então vou trabalhar também, só não sei onde/como.

- Ok, acho que esse foi o último? - minha fala soou mais como uma pergunta. Vi ele colocar as mãos na cintura e fazer uma pose engraçada, me fazendo rir enquanto olhava ao redor. Era sempre assim com ele, risadas até em momentos inoportunos.

- É o último! - nos jogamos no sofá que acabamos de arrumar no canto certo.

- Graças a Deus! - falamos juntos

- Animada pra voltar a estudar? - neguei na mesma hora, o fazendo rir - Por que? Tenho certeza que vai ser legal!

- E se eles forem xenofobicos?

- Para com isso mano, ninguém vai te tratar mal, eu sei que não porque eu tenho amigos aqui e eles dizem que sempre são bem acolhedores com pessoas de outros países! - apenas encarei o teto branco, e assenti.

- Tá bom. - ele se levantou e ia sair mas o chamei - Ah, eu preciso arranjar um trabalho! - ele riu - Tá rindo de que idiota?

- Tu vai fazer 18 anos e é a maior preguiçosa que eu conheço S/a! - revirei os olhos - Deixa comigo, vai dar certo!

- Não! Eu já disse que vou ajudar, então eu vou ajudar! - ele bufou, mas ergueu os braços em rendição

- Tá bom, ok!

- Obrigada! - ele sorriu negando e subiu as escadas, provavelmente vai tomar banho e eu devia fazer o mesmo

[...]

- Eu sei que o que eu vou dizer agora vai deixar vocês chateados e talvez até irritados, mas não posso mais guardar isso, não consigo mais! - meus pais continuaram calados, acho que eles sabem - Eu lutei contra isso e Lucas sabe, mas não deu, é o que eu sou e não posso mudar. Eu sou lésbica, e espero que me entendam e se não for possível, quero dizer que sinto muito! - eles não me olhavam.

- Tudo bem. - ouvi meu pai dizer, mesmo que baixo. Aquilo me deixou surpresa - A gente sabia, e querer te mudar nunca ia funcionar! - suspirou e então me olhou nos olhos

- que não posso fazer nada, me resta aceitar. - mamãe ainda não me encarava - quero que seja feliz, você não vai deixar de ser nossa filha, mas precisamos de tempo pra assimilar isso! - sorriu e me encarou. Sorri pra eles, eu estava surpresa demais, mas fui até eles e os abracei. Eles são os melhores.

- S/a? - a voz de Lucas me acordou - Levanta, a gente tem que fazer compras ainda! - concordei e ele saiu do quarto.

Demorei até assimilar que acordei e toda a lembrança, até que levantei num suspiro e fui até o banheiro do meu quarto e tomei um banho rápido. Coloquei uma roupa folgada, tenho quase certeza que essa blusa é do meu irmão, considerando o quão larga ela está, coloquei uma calça também larga(mas não tanto) e um boné da cor do tênis(preto) e desci.

- Nossa, mas quem vê tem certeza! - Lucas disse, recebendo meu gracioso dedo do meio como resposta, o fazendo rir - Ei, essa blusa é minha!

- Sei disso. - me olhou incrédulo quando me viu passar na porta - Tu vem ou não? - ele assentiu rindo e então saímos

Fomos de pé, olhando cada canto das ruas de Seul, era um lugar bonito e isso admitiamos sem hesitar. Chegamos a uma loja que vendia praticamente tudo, menos roupa, lógico. Logo quando entramos, recebemos alguns olhares curiosos mas nada que indicasse que eles não gostaram da nossa presença, alguns apenas olharam e seguiram suas vidas.

Eu e Lucas fomos procurar as coisas que estavam nas nossas listas, e sinceramente, ia demorar para um caralho pra pegar tudo, era muita coisa meu Deus.

- Meu Deus, pra que precisamos de tudo isso mesmo? - perguntei pra ele quando olhei pra minha lista, enquanto ele pegava o carrinho

- Isso não dá pra um mês, você sabe disso! - assenti e rimos - A gente precisa parar de comer assim! - concordei

- Nossa sorte é que treinamos, senão a gente estava duas bolas! - ele riu concordando - Certo, então vamos logo!

Nós saímos a procura das coisas e enquanto um achava as coisas na sessão em que estávamos, eu tive que ir na outra pra ir agilizando o negocio.

- Mais que porra de nome é esse? - franzi as sobrancelhas olhando pro papel. Nunca mais deixo ele fazer a lista, letra ruim é só aqui - Jesus amado, isso é um atentado à caligrafia! - desisti de procurar aquele item ele fui pra outro

Enquanto estava concentrada procurando o próximo item, vi que uma garota não conseguia alcançar a sexta prateleira, e ela não parecia ser  menor que eu mas decidi ajudar já que meu tênis tinha um salto. Enquanto ia a observei, ela tinha o cabelo na altura da cintura e ruivo e seu corpo era "padrão" da Coréia, mas cheio de curvas.

- É isso? - apontei pro produto e ela confirmou, então o peguei e a entreguei

- Obrigada! - falou com uma voz fofa, ela estava envergonhada e não me olhava. Peguei em seu queixo e a fiz olhar pra mim

- Acertei! - ela franziu as sobrancelhas e estava corada - Você é bonita. - soltei seu queixo e coloquei as mãos no bolso, vendo ela ficar mais envergonhada ainda

- O-obrigada, v-v-você t-também é! - sorri com sua fofura

- Valeu! - ia perguntar seu nome mas alguém chegou do nada e a puxou, era uma menina loira e pareceu não ter me visto ali. - Mas que educada não? - ri comigo mesma

Não tive sorte dessa vez, que merda.

Um Pequeno Cliché | RoséOnde histórias criam vida. Descubra agora